Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Milly Lacombe: Marta livre
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Em meus devaneios, se eu fosse treinadora da seleção brasileira de futebol, a primeira coisa que eu faria seria chamar Marta de lado e perguntar: "Como você quer jogar? Me diga como você se sente bem em campo e vamos organizar o time a partir disso". Claro que eu não tenho a categoria de Pia Sundhage para treinar uma seleção com o peso da brasileira, ou nenhuma outra, mas em meus delírios eu agiria assim.
Vendo o amistoso da seleção brasileira contra a seleção argentina nessa segunda-feira eu fiquei com a impressão de que Pia mais ou menos concorda comigo. Senti um misto de alegria e de tristeza ao perceber Marta jogando mais solta, mais perto da área, mais alegre. Senti tristeza porque não foi assim que ela jogou em Tóquio; e alegria porque Marta jogando livre e na intermediária adversária é um evento iluminado pela mesma força que acendeu as estrelas.
Como Marta mesmo disse, a hora dela é agora. Não é amanhã, e não vai existir uma Marta para sempre. Seria muito importante que a gente deixasse ela livre para ocupar os espaços que julga importante serem ocupados. As demais jogadoras são incrivelmente talentosas e como muitas são jovens e têm o fôlego da idade, não seria demais pedir que corressem um pouco por Marta, para que, assim, a melhor jogadora da história do futebol feminino pudesse estar livre para ser - enfim - aquela rainha que todas e todos nós, incluindo o rei, gostamos de ver.
O resultado? Vencemos por 4x1, Marta fez um gol de falta que, francamente, eu poderia ficar vendo em looping de tão primoroso e, outra vez, abrimos as portas para nossos maiores e mais malucos sonhos. Como se o futebol existisse para qualquer outra coisa que não exatamente essa: nos deixar sonhar.
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