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Ramón Díaz, técnico do Vasco, pode ser punido por declaração machista?

O técnico Ramón Díaz, do Vasco, causou polêmica após uma fazer uma declaração com teor machista após a derrota do Cruz-Maltino por 2 a 1 para o Red Bull Bragantino, nesta quarta-feira (17), pela segunda rodada do Brasileirão.

Em entrevista coletiva após a partida, o técnico argentino disse que "é complicado que quem decida no VAR seja uma mulher", criticando a arbitragem do jogo contra o Grêmio, no último domingo.

''Com respeito aos árbitros, não podemos falar muito. Na última partida, o VAR foi uma senhorita, uma mulher, e foi pênalti. Me parece complicado que no VAR quem tenha que decidir seja uma mulher. Porque o futebol é tão dinâmico, com ações tão rápidas. Hoje não sei se o árbitro também não viu o lance, que me pareceu pênalti. O Vasco está crescendo, competimos'', disse o argentino.

O lance reclamado pelo treinador foi um possível pênalti de Rodrigo Ely em Galdames. Inicialmente, a árbitra Daiane Muniz (FIFA/SP), que comandava a cabine do VAR na partida, considerou que ocorreu penalidade máxima, entretanto voltou atrás na decisão e não recomendou a revisão da jogada.

Treinador pode ser punido por declaração?

A declaração de Ramón Díaz repercutiu negativa também nas redes sociais. Por causa do teor machista, especialistas ouvidos pelo Lei em Campo contam que o treinador pode ser punido pela Justiça Desportiva.

"Por conta das infelizes declarações, o técnico fica sujeito a ser denunciado pela Procuradoria com base no art. 243-G do CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva), que trata de ato discriminatório relacionado a preconceito em razão de sexo, com possível suspensão de 5 a 10 partidas", avalia o advogado desportivo Carlos Henrique Ramos.

A advogada Fernanda Soares, especialista em direito desportivo, também entende que Ramón Díaz pode ser punido nesse mesmo artigo do CBJD. Contudo, ela afirma que para isso acontecer, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) precisa entender que as palavras ditas pelo treinador argentino foram discriminatórias, relacionadas ao preconceito de gênero.

"A imposição dessa penalidade (artigo 243-G) requer que o tribunal conclua que Ramón Díaz intencionalmente praticou a discriminação, ou seja, que ele teve a intenção de discriminar; que suas declarações de fato expressam um pensamento discriminatório em relação ao sexo da árbitra de vídeo. Essa análise nem sempre é simples, pois determinar a intenção por trás das palavras é desafiador. Ele mesmo dá uma declaração posterior na qual ele alega ter sido mal interpretado, afirmando que sua intenção era destacar a complexidade de uma pessoa (não necessariamente uma mulher, com conotação pejorativa) tomar decisões tão determinantes. Cabe ao tribunal determinar se as declarações foram de fato discriminatórias ou se Ramón Díaz simplesmente não se expressou adequadamente durante a entrevista", explica a advogada.

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Ramón Díaz se desculpa por declaração

Poucos minutos após a coletiva de imprensa, ainda no estacionamento do Nabi Abi Chedid, Ramón Díaz procurou jornalistas para dizer que foi mal interpretado e se desculpar.

''Se interpretou algo mal da minha declaração, quero pedir desculpas. Me pareceu que o que eu quis dizer é que uma só pessoa não pode tomar uma decisão tão importante como é a participação do VAR no futebol. Se se interpretou mal, peço desculpa, mas não é minha intenção'', declarou.

Vasco lamenta declaração

Nas redes sociais, o Vasco também pediu desculpas pela declaração de seu treinador. O clube carioca falou em "reafirmar o compromisso de reforçar as medidas e diretrizes educativas necessárias em acordo com suas determinações, valores e princípios".
"O Vasco da Gama lamenta a declaração do técnico Ramón Díaz e reafirma o compromisso de reforçar as medidas e diretrizes educativas necessárias em acordo com suas determinações, valores e princípios. Pedimos, assim como nosso técnico, desculpas", diz a nota do clube.

FPF se manifesta

Nesta quinta-feira (18), a Federação Paulista de Futebol (FPF) divulgou uma nota oficial para condenar os comentários feitos pelo técnico Ramón Díaz.

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Além de criticar a fala do comandante argentino, a FPF diz que "continuará na luta para que esse tipo de comportamento seja cada vez mais combatido e jamais se repita".

A entidade destacou na nota o fato de Daiane Muniz ter participado da última Copa do Mundo e ser do quadro da FIFA.

"Causa imensa repulsa e indignação os comentários machistas do treinador do Vasco, Ramón Díaz, proferidos nesta quarta-feira (17), após jogo do Brasileirão, em que ofende a árbitra mundialista Daiane Muniz, do quadro da FIFA. É estarrecedor que o futebol ainda seja palco para declarações retrógradas e ignorantes, sobretudo vindo de uma pessoa que ocupa um cargo de tamanha visibilidade e importância, em um clube tão relevante do futebol nacional.

A Federação Paulista de Futebol lamenta profundamente que mulheres que amam e vivem o nosso futebol sejam obrigadas a ouvir comentários tão deploráveis como este.

A FPF continuará sua luta para que esse tipo de comportamento seja cada vez mais combatido e jamais se repita".

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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