Julio Gomes

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Costa do Marfim é mais uma prova: Futebol não admite fórmulas prontas

A Costa do Marfim conquistou neste fim de semana o título da Copa Africana de Nações. O tricampeonato veio em casa, em uma final contra a Nigéria e vitória de virada por 2 a 1. Fazia 18 anos que uma seleção anfitriã da Copa não levantava a taça (desde o Egito em 2006) e fazia 9 anos que os elefantes marfinenses não eram campeões continentais - os outros títulos vieram em 92 e 2015.

A Copa Africana é uma tremenda competição. Foram oito quadrifinalistas diferentes dos oito quadrifinalistas de dois anos atrás. É um torneio de bom nível técnico e total equilíbrio, é difícil falar em favoritos. Há seleções de mais história, há seleções com melhores jogadores, mas o nivelamento é tremendo - ainda mais no formato de "mata", com jogos únicos. Marrocos foi à semifinal da Copa do Mundo e, com o mesmo time, caiu nas oitavas de final da África.

A Costa do Marfim havia perdido para a Nigéria na fase de grupos por 1 a 0. Não jogou nada naquela partida. Em seguida, levou 4 a 0 da inexpressiva Guiné Equatorial. Demitiu o técnico, o francês Gasset, e ficou lá esperando outros resultados para ver se dava para passar como uma das terceiras colocadas. E passou! É isso mesmo, demitiu o treinador no meio da competição. O auxiliar, Emerse Faé, um ex-jogador da seleção marfinense, que nunca havia sido técnico de um time profissional, assumiu o comando provisoriamente.

Não dá para o roteiro ser melhor, não é mesmo? A partir da troca, Faé mexeu no time, a Costa do Marfim eliminou nos pênaltis a superfavorita seleção de Senegal, depois ganhou de Mali jogando grande parte do jogo com um a menos e com gols no último minuto do tempo regulamentar e no último lance da prorrogação. Na semifinal, dominou a República Democrática do Congo. E, na final, com cinco jogadores titulares diferentes em relação ao duelo da fase de grupos, passou o carro sobre a Nigéria. Foi melhor o tempo inteiro e mereceu a vitórias.

A Nigéria que, diga-se, chegou ao torneio com péssimos resultados e se acertou depois de o técnico português José Peseiro mudar o time para uma linha de três atrás, jogando fechadinha. Tudo aconteceu ao longo da competição.

E agora, como fazemos? É claro que o melhor projeto no futebol é ter... projeto. Escolher profissionais capacitados, criar processos, ter lógica na convocação de jogadores, definir um time, dar continuidade, confiança e entrosamento. Não há dúvida de que este é o melhor caminho para o longo prazo e para torneios grandes, como os de pontos corridos. Mas tudo isso pode ir para o espaço em competições curtas, de eliminatórias únicas, em que a sorte joga um papel maior, além de decisões pontuais, individuais, no campo, ganharem peso.

A campanha da Costa do Marfim desafiou toda a lógica. O herói da conquista foi Haller, que um ano atrás voltava aos gramados depois de superar um câncer no testículo, duas cirurgias e várias sessões de quimioterapia. Não tem um gol sequer na temporada com o Borussia Dortmund, mas marcou na semifinal e na final da Copa Africana. O técnico campeão tem quatro jogos na carreira inteira.

Quem quiser planejar tudo nos mínimos detalhes, pode fazê-lo à vontade., Mas a aleatoriedade do futebol atropela tudo e todos.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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