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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Brasileirão: Só o Fluminense pode ser colocado na prateleira do Palmeiras

Cano, do Fluminense, comemora após marcar na final do Campeonato Carioca, contra o Flamengo - Thiago Ribeiro/AGIF
Cano, do Fluminense, comemora após marcar na final do Campeonato Carioca, contra o Flamengo Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

14/04/2023 18h54

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O Campeonato Brasileiro vai começar neste sábado com sete jogos. Sempre antes do início - que, repito constantemente, deveria ser no fim de janeiro e não em abril - nós, jornalistas, somos requisitados para "adivinhar" quem será campeão, quem irá pra Libertadores, quem irá cair. Acho meio inútil o exercício de adivinhação, até porque quase metade do campeonato vai para a Libertadores e mais da metade do campeonato pode cair. Times perdem e trazem jogadores em julho, técnicos caem, o andamento das Copas influencia demais na competição mais longa. Tudo muda ao longo da maratona.

Desta vez, não tentarei arriscar palpites sobre classificados ou rebaixados. Quero dividir o nível dos times atuais em prateleiras.

PRIMEIRA PRATELEIRA: PALMEIRAS E FLUMINENSE

E, na primeira prateleira, somente o Fluminense acompanha o Palmeiras. Mas e o Flamengo?? Bem, o Flamengo tem potencial para estar na primeira prateleira pelos jogadores que tem. Mas, se formos levar em conta somente o cartaz do elenco, aí talvez a primeira prateleira teria de ter só o Flamengo. Alguém aqui considera o Flamengo o candidato único a título? O principal favorito?

O Flamengo é, no momento, um time sem técnico, com lideranças desgastadas e envelhecidas. Não passou nem perto de ganhar os últimos dois Brasileiros e ganhou o antepenúltimo muito mais pela falha dos concorrentes. Sim, o Flamengo pode ganhar o Brasileiro 2023. Mas precisaria de um alinhamento de fatores que lhe beneficiassem e ainda prejudicassem os dois rivais do momento.

Palmeiras e Fluminense têm a vantagem da continuidade de trabalhos que vêm dando certo. Abel Ferreira tem o elenco na mão, assim como Fernando Diniz - que já provou com o São Paulo, dois anos e meio atrás, sem capaz de liderar o campeonato com um elenco pior do que tem em mãos hoje. Não acho que Palmeiras e Flu tenham, disparado, os melhores elencos. O que eles têm é o melhor combo para o início do campeonato.

SEGUNDA PRATELEIRA: FLAMENGO, ATLÉTICO-MG E GRÊMIO

Sobre o Flamengo, já falei. O Atlético Mineiro também entra aqui, acima da turma da terceira prateleira, mais pelos nomes do que pela bola. Quer queira quer não, o Galo tem um elenco de jogadores experientes e que tem um extra-série, Hulk. Em algum momento do campeonato, poderá jogar em seu próprio estádio, recém-construído. O treinador é bom, mas ainda não encaixou.

Já o treinador do Grêmio não é tão bom quanto pensa que é, mas sempre encaixa no Sul. Tem o elenco na mão, também tem um aluno topo da classe (Suárez) e, o principal, tem um calendário mais suave. O Grêmio não precisa poupar ninguém no Brasileiro, pois está fora das competições sul-americanas.

Galo e Grêmio ganharam seus estaduais e podem fazer um campeonato de G4 - tampouco seria absurdo que ficassem fora dele. Não vejo como o título possa ficar nas mãos de qualquer um que não esteja nas duas primeiras prateleiras.

TERCEIRA PRATELEIRA: CORINTHIANS, SÃO PAULO, INTERNACIONAL, ATHLETICO-PR, AMÉRICA-MG E FORTALEZA

Aqui temos um mix de camisas pesadas no cenário nacional, com bons jogadores, mas que não conseguem jogar bem nem por decreto, com times emergentes - ainda que super tradicionais em seus Estados - no futebol "nacionalizado", com continuidade e bom jogo há tempos. A terceira prateleira é formada por times que não têm, no meu ponto de vista, chances de brigar por título. Que podem frequentar a parte alta da tabela e beliscar vaga na Libertadores, mas que podem também, se algo dar errado, cair para uma briga ingrata na parte de baixo.

Corinthians, São Paulo e Inter não conseguem jogar bem e transmitir confiança, mas têm material humano e capital histórico para emendar bons resultados ao longo do Brasileirão. O Athletico tem um elenco forte, mas nos últimos anos tem se mostrado mais competitivo nas Copas do que nos pontos corridos, é por isso que coloquei na terceira, não na segunda, prateleira. América e Fortaleza são times de elenco pouco badalado, mas trabalhos encaixados com bons treinadores, continuidade e estabilidade.

QUARTA PRATELEIRA: O RESTO DA TURMA

Neste último patamar, estão gigantes como Cruzeiro, Santos, Vasco e Botafogo, além de Bahia, Coritiba, Goiás, Cuiabá e Red Bull Bragantino. A diferença dos times da terceira e da quarta prateleira é apenas uma: não vejo chances de os da terceira caírem para a Série B. Acredito que os quatro rebaixados sairão deste grupo de nome times da quarta prateleira.

O que não impede que um ou mais deles faça um grande campeonato e termine no G6 ou pelo menos na briga por vaga na Libertadores - sabemos que as vagas podem chegar até ao nono colocado, dependendo de quem ganhar a Copa do Brasil e as competições sul-americanas.

Não vejo nenhum dos nove tão mal, mas tão mal, que possa começar o campeonato como candidatíssimo a cair. Mas vários podem entrar nessa dinâmica. Dos grandões, Santos e Botafogo são os candidatos principais, fizeram Estaduais fraquíssimos e nada indica que irão fazer campanhas consistentes no Brasileirão.

Gosto das perspectivas do Vasco, que contratou bem ao virar SAF, está nas mãos de um bom técnico e teve momentos bacanas no Carioca. Como já está fora da Copa do Brasil e não tem outras competições, irá se dedicar inteiramente e somente ao Brasileirão - e isso é bom.

Cruzeiro, Bahia e Bragantino estão nas mãos de treinadores portugueses, uns com mais, outros com menos experiência no futebol brasileiro. Vão depender do encaixe e da sequência de trabalho para sabermos se ficarão na metade de cima ou de baixo da tabela. Goiás e Cuiabá, os representantes do Centro-Oeste, estarão na maior parte das apostas para rebaixados. Mas acho que há uma carga de preconceito aqui, de desconhecimento e, claro, o cenário do Brasileirão deste ano cheio de camisas pesadas induz a estes palpites. Sim, eles podem cair. Mas não são "favoritos" a cair.

A chance de termos um ou dois times do eixo Rio-SP no Z4 ao final do campeonato existe. Algum campeão brasileiro do passado provavelmente jogará à Série B do futuro.