Topo

Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Gomes: Dez anos depois, 'cholismo' gera dúvidas no Atlético de Madrid

Diego Simeone celebra título do campeonato espanhol do Atletico de Madri - CESAR MANSO/AFP
Diego Simeone celebra título do campeonato espanhol do Atletico de Madri Imagem: CESAR MANSO/AFP

25/12/2021 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

No dia 23 de dezembro de 2011, Diego Pablo Simeone assumia o posto de técnico do Atlético de Madrid. Na época, convenhamos, ninguém deu muita bola para a notícia fora da Espanha. Hoje, olhando em perspectiva, possivelmente estamos falando de um dos momentos mais marcantes do futebol europeu neste século.

Mais do que números ou títulos, "El Cholo" Simeone resgatou um clube grande que havia se apequenado. O argentino, em campo, era duro, viril, sujo, falemos o português claro. Foi campeão com o Atlético de campeonato e Copa (o doblete) em 95/96. Depois disso, o Atleti chegou a frequentar até segunda divisão, passou anos e anos e anos sem vencer o Real Madrid. Não assustava ninguém.

Em dezembro de 2011, com o apático Gregorio Manzano no comando, ocupava posição intermediária na tabela. Chegou Simeone, depois de passagens por clubes importantes da Argentina, mas sem histórico relevante na Europa. E tudo mudou.

O Atlético foi campeão logo de cara da Liga Europa. No ano seguinte, ganhou uma Copa do Rei em cima do Real Madrid em pleno Santiago Bernabéu. Mais um ano e vieram o título espanhol, que parecia impossível em tempos de Messi (no Barça) e Cristiano Ronaldo (no Real), e a final da Champions League, perdida no último suspiro. Outra final de Champions, agora perdida nos pênaltis, chegou dois anos depois. Também vieram Supercopas, outra Liga Europa e a segunda Liga, no meio deste ano.

No meio de tudo isso, várias vitórias importantes sobre Real Madrid e Barcelona, duelos épicos contra grandes forças da Europa, a construção de um estádio novo, convocações, compras, vendas. O Atlético virou protagonista, não só na Espanha, mas no continente.

Este espírito de luta e guerra, o Davi contra Golias, a personalidade de "mata-gigantes", o "sangue, suor e lágrimas", o "jogo a jogo", tudo isso junto ganhou um apelido: cholismo.

Agora, o cholismo está em crise. São quatro derrotas seguidas, o que nunca havia acontecido em dez anos. E uma sensação de que Simeone não tenha a capacidade criativa de fazer as grandes contratações do Atlético desempenharem um futebol mais próximo ao jogado pelas grandes potências do continente. Um jogo mais ofensivo, de posse, controle e imposição.

Metade da torcida não quer mais Simoene. A outra metade quer esganar quem não queira Simeone. A diretoria não dá a menor pinta de que irá trocá-lo. Até porque, já sabem, dirigente é dirigente em qualquer lugar. É sempre bom ter no cargo de treinador um cara que segure as pontas e que seja o "responsável" pelo bom e pelo ruim. Se der errado, culpa dele, não nossa. É uma parede que separa torcida e imprensa de uma diretoria que "comprou" o Atlético sem efetivamente ter desembolsado para comprar o clube.

Esta coluna tem uma relação dúbia com Simeone. Às vezes, entende que não se pode mexer. Às vezes, que é impossível seguir sem mexer. Achem o que quiserem de Simeone, do cholismo e do Atlético, só é impossível ficar indiferente.