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Julio Gomes

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Dani Alves é um dos maiores da história. Quem vai criticá-lo por sonhar?

07/08/2021 11h10

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Daniel Alves, 38 anos, campeão de praticamente tudo na vida, resolveu ganhar mais uma. Resolveu ganhar a medalha de ouro olímpica. E ganhou. Com sorriso de menino, como meninos são os que estavam ao seu lado, como menino ele foi um dia. Como menino ele era em 2003, quando ganhou o Mundial sub-20 com o Brasil em cima da Espanha.

Hoje, de novo contra meninos espanhóis, mas que agora têm idade para ser filho dele, Daniel encerra com chave de ouro, ou melhor, medalha de ouro, uma carreira impressionante.

Daniel não é unanimidade no Brasil porque nunca venceu uma Copa do Mundo. E daí?, pergunto eu. Quantos jogadores enormes do mundo nunca conquistaram uma Copa? Somos arrogantes quando o assunto é futebol, esquecemos que o esporte mais jogado do mundo é competitivo, que outros também querem ganhar. Só aqui para uma figura como Daniel Alves não ser unanimidade - no resto do mundo, ele é.

E só em um país como o nosso é que se questiona a decisão de um cara de 38 anos de idade sonhar com uma medalha olímpica. De quantos sonhos é formada uma Olimpíada? Entre estes sonhos, estava o de Daniel.

Com todo respeito, mas que se dane o São Paulo, a Libertadores, o salário que se paga ou não se paga. Acho lamentável o Flamengo ter impedido Pedro de viver o sonho que outros rapazes viveram. É uma racionalidade capitalista que não combina com minha maneira de encarar o mundo. Não podemos elogiar cartolas que impedem sonhos. Não podemos fazer o papel de torcedores apaixonados que colocam seus clubes de coração acima do bem e do mal.

Daniel Alves está de parabéns por ter vivido seu sonho, mais um. Por ter ajudado o Brasil a ganhar mais uma medalha de ouro olímpica - custou tanto a sair e agora vieram duas seguidas. E possivelmente serão muitas mais, porque o fardo era muito grande e atrapalhava.

A adversária desta final, a Espanha, com seis titulares da Eurocopa (todos com idade olímpica, diga-se), era muito mais forte do que aquela Alemanha que pegou o Brasil na Rio-2016. Muito mais forte. Mas, no Rio, era o fardo que atrapalhava, não o adversário. O Brasil fez um jogo bom contra a Espanha, que também mostrou que tem material humano para muitos anos.

Somos uma fábrica de futebolistas, é o esporte que está enraizado em nossa cultura, talvez até demais. Mas jogadores de futebol sonham, do mesmo jeito que sonhava Isaquías com seu ouro, que sonhava Hebert com o dele. Sim, jogadores de futebol têm muito mais condições de desempenhar no alto nível do que atletas de outras modalidades, mas, por outro lado, a pressão sobre eles é muito maior e o filtro para chegar lá, ao futebol profissional e a uma seleção brasileira, é muito mais apertado.

Talvez Daniel Alves ainda ganhe mais alguma coisa na carreira, ele joga no São Paulo e na seleção brasileira principal. Sempre pode ser. Mas, se ele parar hoje, ele vai parar com uma medalha olímpica no peito e outros 42 títulos na carreira. É o maior "chama títulos" da história do esporte.

Daniel Alves merece uma estátua. É um dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro. E quem quiser criticá-lo por ter sonhado, que critique. Daniel Alves tem uma medalha de ouro para guardar para o resto da vida. E sonhar com ela no peito.