Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Como é difícil gostar desta Copa América
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A Copa América deveria ter sido cancelada. Simples assim. Sem pandemia, ela já não deveria ter sido realizada em 2020, apenas um ano após a edição 2019, no Brasil. Com a pandemia, ficou para 2021. Com o aperto na pandemia em 2021, deveria ficar para 2024 e pronto. Assim, equiparava-se ao calendário internacional, sendo simultânea à Eurocopa, e segue a vida.
No continente que mais dificuldades teve para controlar a pandemia e no país que mais desdenhou dela, realiza-se um campeonato de futebol que, além de tudo, tem pouco sentido e pouca qualidade.
Porque as eliminatórias da Copa são uma coisa. Jogos em casa e fora, eventos únicos, vagas para o Mundial, equilíbrio e competitividade. A Copa América é outra, esportivamente muito menos relevante.
O Brasil ganhou de 3 a 0 da Venezuela. Poderia ter sido por mais. Deveria, até. Afinal, era uma Venezuela sem um monte de jogadores pelo surto de Covid que pegou a delegação. Em relação ao time que segurou um 0 a 0 com o Uruguai, nas eliminatórias, semana passada, a Venezuela tinha apenas três titulares em campo.
Esportivamente, é um torneio que se arrastará por semanas para classificar quatro dos cinco times de cada grupo. Desafio nenhum. Era perfeitamente possível fazer uma Copa América curtinha, com mata-mata desde o início. Era perfeitamente possível engolir o prejuízo, deixá-la para 2024 e não tomar tempo das forças públicas com o que não importa.
Ao mesmo tempo, começa a Eurocopa. Com público nos estádios. Porque, mesmo sem ter uma vacinação tão rápida quanto a americana, a maior parte dos países da Europa cuidou bem de suas populações. Eu estou na Europa e, para entrar aqui, precisei apresentar teste negativo e cumprir quarentena. Para voltar para o Brasil, não precisarei nem de uma coisa nem de outra. É só um pequeno exemplo.
A Eurocopa tem público, tem cara de "vida voltando ao normal", enquanto a Copa América tem cara de funeral e de tristeza.
Eu me coloco no lugar de Tite, dos jogadores do Brasil e de outros países e não vejo a mesma facilidade que outros veem na exigência para que eles se posicionassem. É uma situação muito delicada, que demandaria uma ação coletiva muito corajosa. Não somos educados, na América do Sul, a sermos coletivos.
A Copa América seguirá, nós acompanharemos e, no mata-mata, é claro que vai chamar a atenção. Mas é um torneio triste. É difícil gostar dela.
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