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Julio Gomes

Hamilton hepta! O melhor de todos os melhores da F-1 em um só piloto

Lewis Hamilton se emociona com o heptacampeonato na F-1 - Pool/Getty Images
Lewis Hamilton se emociona com o heptacampeonato na F-1 Imagem: Pool/Getty Images

15/11/2020 09h26

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Lewis Hamilton ganhou brilhantemente o GP da Turquia, conquistando o título mundial de Fórmula 1 pela sétima vez. O heptacampeonato iguala o feito de um tal Michael Schumacher.

Hamilton já havia conseguido o "impossível" ao passar o número de vitórias de Schumacher. Agora, faz outro impossível ao igualar os títulos. E, ao que tudo indica, do jeito que o cara não baixa o nível e nem a Mercedes perde o domínio, vão vir oito, nove, se bobear dez campeonatos do mundo para ele.

Schumacher era já uma espécie de mistura de Senna com Prost, os dois gigantes que o antecederam. Hamilton consegue ser ainda mais completo. É uma mistura dos três e ainda com pitadas dos mais antigos ainda.

Senna sempre foi reconhecidamente o mais veloz. Até chegar Hamilton. Prost, o mais frio, calculista, um verdadeiro relógio. Até chegar Hamilton. Schumacher, o mais rápido, inteligente e estratégico nas corridas. Até chegar Hamilton.

Ele também tem o arrojo de Villeneuve, o conhecimento de Lauda, a criatividade de Piquet, o coração de Fangio. Junte o melhor de cada um e chegaremos a esse piloto perfeito que é Lewis Hamilton.

Todos eles, Senna, Prost, Schumacher, brilharam logo de cara. Mostraram na primeira corrida, na primeira temporada, que seriam especiais. Mas nenhum foi quase campeão no primeiro ano, como Hamilton. Lá em 2007, ele foi superior ao bicampeão do mundo, Fernando Alonso. Não ganhou o título essencialmente por causa de um tremendo erro na entrada dos boxes na penúltima corrida, na China.

Hoje, com chuva, 13 anos depois, mostrou toda a maturidade que os anos lhe deram. Não errou quando outros poderiam errar. Teve a calma, a frieza, a coragem, a velocidade e a estratégia. Sim, ele é tão genial como Senna na chuva. Foi um domingo épico em Istambul.

Os detratores de Schumacher dirão que o alemão era "sujo" e "não tinha adversários". Hamilton correu contra Vettel, contra Alonso, contra Raikkonen, contra o próprio Schummy em seus últimos anos e contra essa ótima geração que vem por aí.

Vimos vários ex-campeões fazerem canalhices na pista e nos acostumamos a achar que a competitividade ao extremo era parte da genialidade deles, que ganhar a qualquer preço era, de alguma forma, aceitável. Lewis nunca precisou jogar o carro para cima de ninguém ou sabotar companheiros de equipe para ser campeão.

Perdeu uma vez para um companheiro de equipe, é verdade. Rosberg, em 2016, foi o único capaz de desafiar este que é o maior domínio da história da Fórmula 1. Palmas para ele, que até se aposentou por ver que não teria a fome necessária para se manter na luta diária contra um cara sem limites na busca pela perfeição.

Hamilton "esgotou" Alonso, "esgotou" Rosberg, o combo com a Mercedes "esgotou" a Ferrari e quem quer que quisesse desafiá-lo.

E, junto com tudo isso, assumiu o papel de personagem público consciente. Um negro que superou todos os obstáculos históricos impostos a pessoas como ele para mostrar que tudo é possível, se as devidas chances são dadas. Um ativista que faz a diferença com jeito, firmeza e amor, sem agressividade, lacração ou exclusão.

O choro dele, dentro do capacete, solitário em seu carro, é o choro da alegria de quem consegue superar tantas coisas na vida. É também o choro das injustiças tão presentes em nosso planeta, é o choro de bilhões de negros que tiveram a dignidade e a liberdade pisoteadas e que lutam diariamente pelo que lhes é negado.

O melhor de todos os tempos na Fórmula 1? Este é um debate muito complicado de ser travado, pois envolve gosto, nacionalidade e até mesmo a memória afetiva de cada um de nós.

Mas o pacote completo nasceu em Stevenage, Inglaterra, 35 anos atrás. O maior piloto de todos os tempos chama-se Lewis Carl Davidson Hamilton. E felizes dos que estamos vendo esse rapaz fazer história dentro e fora das pistas.