Topo

Julio Gomes

Seleção vai mal e merece críticas. Mas sempre nos esquecemos do adversário

Everton Ribeiro tenta escapar da marcação durante Brasil x Venezuela pelas Eliminatórias - Andre Penner-Pool/Getty Images
Everton Ribeiro tenta escapar da marcação durante Brasil x Venezuela pelas Eliminatórias Imagem: Andre Penner-Pool/Getty Images

13/11/2020 23h37

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A seleção brasileira fez um jogo abaixo da média contra a Venezuela. Venceu por 1 a 0, com um gol de Firmino no segundo tempo, e chegou a nove pontos nas eliminatórias. Mas vão chover críticas nos próximos dias.

Foi uma seleção burocrática no Morumbi, lenta, previsível. É verdade que havia muitos desfalques, entre eles o de Neymar, mas dava para ter feito um jogo bastante melhor. Pressionando mais o adversário, espalhando mais o campo, encarando, tentando.

De bom, fica só o resultado. Aliás, é muito curioso. No Brasil, somos essencialmente resultadistas. Menos quando se trata de seleção brasileira fora de Copa do Mundo. Aí, o que importa é desempenho. Vai entender!

Em 1989, eu fui pela primeira vez a um estádio para ver a seleção brasileira jogar. Foi uma vitória por 6 a 0 sobre a Venezuela, no Morumbi, com 106 mil pessoas nas arquibancadas. Naquela época, Brasil x Venezuela era um duelo em que só faltava saber qual seria o tamanho da goleada.

Hoje, o futebol mudou. E não necessariamente passa pela piora do Brasil, que é a tendência de qualquer análise ou cornetagem. Passa principalmente pela evolução generalizada do jogo em anos de globalização. Realmente não tem mais bobo.

Quem imaginaria, em 1989, três décadas atrás, que três jogadores venezuelanos seriam protagonistas de Santos, Corinthians, Atlético Mineiro... pois é. Essa é a realidade hoje. Quem mete muito o pau na seleção venezuelana estará indiretamente metendo o pau no maior produto do nosso futebol: o Brasileirão. E olha que Soteldo até começou jogando, mas Savarino e Otero foram reservas na Morumbi, nesta sexta à noite.

O técnico venezuelano é português (que escola!), José Peseiro, e o fato é que o adversário fez seu papel para incomodar o Brasil. Montou duas linhas defensivas bastante compactas e sólidas e ainda teve uma ou outra saída no contra ataque. Nos acréscimos, teve suas chances para empatar em bolas paradas.

Na seleção de Tite, eu não gosto da presença de Danilo, ainda mais como lateral construtor. Os dois volantes, Alan e Douglas Luiz, não trouxeram a necessária criatividade no início das jogadas. Douglas errou um grande número de passes e lançamentos e deu lugar a Paquetá no intervalo. O ex-flamenguista, hoje no Lyon, nem mesmo deveria ter sido convocado. Mas acabou achando o bom passe para Éverton Ribeiro cruzar no lance do gol da seleção.

Choverão comentários sobre a qualidade da seleção brasileira em campo. Mas vamos lá. O time titular tinha sete titulares da Premier League, um do PSG, um do Atlético de Madrid, um da Juventus e um que é o melhor jogador do Flamengo e possivelmente do futebol brasileiro nos últimos anos.

É o que tínhamos. E não é pouco. O futebol apresentado é que foi pouco. Mas do outro lado tinha um adversário. É disso que costumamos esquecer.