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Julio Gomes

Se não houver mais Champions, sugiro que deem a taça para a Atalanta

Hans Hateboer comemora seu gol pelo Atalanta en partida contra Valencia pela Liga dos Campeões - REUTERS/Daniele Mascolo
Hans Hateboer comemora seu gol pelo Atalanta en partida contra Valencia pela Liga dos Campeões Imagem: REUTERS/Daniele Mascolo

31/03/2020 04h00

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E se a Champions League 19/20 simplesmente não puder ser realizada? Neste momento, a competição avançou a ponto de classificar quatro times para as quartas de final e fazer os jogos de ida dos outros quatro duelos de oitavas.

Tentar imaginar o que vai acontecer é puro chute. A situação na Europa ainda é de descontrole, os números não param de subir e não sabemos 1) quando a curva de contágios e mortes começará a cair e 2) quando as atividades sociais e econômicas serão retomadas. A Liga espanhola avisa que, se a competição doméstica não for reiniciada, no máximo, até 27 de junho, não haverá como terminá-la.

Para o dia 27 de junho foi remarcada a final da Champions, e isso se deve, entre outras coisas, para não gerar imbroglios contratuais - a maioria dos contratos de jogadores na Europa acabam no final de junho. Essa questão de contratos, no entanto, será atacada pela Fifa, o que poderá permitir campeonatos disputados no verão europeu (julho e até agosto).

São suposições e tentativas. Mas e se, no fim das contas, simplesmente não puderem seguir com a Champions?

Vejamos. Estão classificados para as quartas o Paris Saint-Germain, o Atlético de Madrid, o RB Leipzig e a Atalanta - estes últimos dois, participantes inéditos nesta fase. Os jogos que faltam de oitavas: Barcelona-Napoli, Bayern-Chelsea, Man City-Real Madrid e Juventus-Lyon.

Sabem o que eu faria? Daria a orelhuda, simbolicamente, para a Atalanta.

Bérgamo é a cidade, até agora, que mais tragicamente tem sido punida pelo coronavírus. Está no coração da Lombardia, a região italiana mais afetada, os relatos dos médicos são pavorosos e é de lá que veio aquela imagem muito triste, dos caminhões do exército levando corpos para serem enterrados sozinhos, sem a presença de familiares.

Por que Bérgamo? A tentativa de encontrar explicações levou cientistas ao dia 19 de fevereiro. Foi a data da partida de ida entre Atalanta e Valencia, um jogo realizado em Milão, não em Bérgamo, por uma questão de regulamento da Uefa. Foi, talvez, o maior dia da história da Atalanta.

Goleada de 4, classificação inédita praticamente assegurada, um deslocamento de 40 mil pessoas ao San Siro. Não poderia haver festa mais inesquecível.

Mas aquela festa ganhou um apelido: "bomba biológica". Quatro gols mais o fim do jogo. Cinco momentos de êxtase, abraços, beijos, apertos de mão. Quem fez a festa, de fato, foi o Covid 19. Centenas, ou talvez até milhares, de torcedores voltaram a Bérgamo levando com eles alegria e morte. O jogo é uma das explicações mais plausíveis de por que a cidade se tornou o epicentro do coronavírus na Itália.

Não sabemos o que acontecerá daqui para frente, e muitas cidades terão enormes cicatrizes quando tudo isso passar. Mas, na Europa, dificilmente alguma localidade terá as mesmas marcas que a pequena Bérgamo.

Ironicamente, a tragédia acontece justo quando a minúscula Atalanta chega onde nunca chegou - e dificilmente chegará de novo.

Sou contra decretarem campeões de torneios inacabados. Mas, no caso da Champions, se não houver mais jogo, que deixem a taça em Bérgamo.