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REPORTAGEM

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Sub-20: Israel luta por final inédita com time que une um país dividido

Anan Khalaili e Dor Turgeman comemoram gol da seleção israelense contra o Brasil - Buda Mendes - FIFA/FIFA via Getty Images
Anan Khalaili e Dor Turgeman comemoram gol da seleção israelense contra o Brasil Imagem: Buda Mendes - FIFA/FIFA via Getty Images
Thiago Arantes

Colunista do UOL, em Barcelona

08/06/2023 04h00

O Mundial Sub-20 só está sendo disputado na Argentina por causa de Israel. A Fifa levou o campeonato para o país sul-americano em cima da hora, depois que a Indonésia — sede original, um país de maioria muçulmana — negou-se a receber a delegação israelense.

Esse dado, por si só, já colocaria a seleção do Oriente Médio na história da competição. Mas a equipe tornou-se a grande surpresa do torneio: passou pela fase de grupos, venceu o Uzbequistão nas oitavas de final (1 a 0) e derrubou o favorito Brasil nas quartas, por 3 a 2 na prorrogação.

Tudo isso na primeira participação no torneio. Nesta quinta, às 14h30 (horário de Brasília), a campanha surpreendente tem mais um capítulo: o time encara o Uruguai, em La Plata, na luta por uma vaga na grande final.

O simples fato de chegar ao Mundial Sub-20 já foi uma zebra. O caminho dos israelenses rumo aos torneios da Fifa é complicado. Desde 1994, Israel disputa as Eliminatórias da Uefa, jogando contra as seleções de países europeus.

Mas, para muito além dos feitos esportivos, a equipe comandada por Ofir Haim tem causado algo raro no país: o time tornou-se uma espécie de "ponto de encontro" de diferentes povos que compõem a população local. Tanto no sentido literal, quanto em uma visão mais, digamos, filosófica.

Comecemos pelo literal. Basta olhar para os autores dos três gols marcados na vitória contra o Brasil: Anan Khalaili é árabe-israelense, nascido em Haifa; Hazma Shibili é de uma família de beduínos, nômades árabes que habitam os desertos; e Dor Turgeman é judeu.

Durante a partida contra a seleção brasileira, Turgeman usou um bracelete com a frase "Em memória das vítimas do ataque", em referência aos três soldados israelenses mortos em um atentado na fronteira com o Egito.

Em uma seleção que une diferentes origens, o caso mais curioso é o do meio-campista El Yam Kancepolsky. Filho de um surfista israelense, ele nasceu no Havaí e voltou para o país de sua família ainda criança, quando o pai decidiu montar a primeira escola de surfe de Israel. "El Yam", em hebraico, significa "Para o Mar".

No sentido mais filosófico, a seleção mais surpreendente do Mundial Sub-20 tem dado ao país um motivo para se unir em torno de um objetivo em comum. Algo raro, em um país que vive em permanente conflito.

"Por um momento, apenas por um momento, essa terra dividida teve algum motivo para comemorar. Finalmente, houve consenso sobre alguma coisa", escreveu o jornalista Herb Keinon, no The Jerusalem Post.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi informado no texto, Israel disputa as Eliminatórias da Uefa desde 1994, e não 1976. O erro foi corrigido.