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Diego Garcia

REPORTAGEM

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Qatar, dia 17: Qataris devolveram R$ 700 que cobraram a mais dias antes

Encontro da torcida antes de jogo do Brasil no Qatar - Diego Garcia/UOL
Encontro da torcida antes de jogo do Brasil no Qatar Imagem: Diego Garcia/UOL

Diego Garcia

Colunista do UOL

05/12/2022 04h00

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Uma situação peculiar ocorreu comigo em Doha na tarde da última sexta-feira.

Tudo começou na véspera, quando fui checar a fatura do meu cartão de crédito e me assustei com um valor bem maior do que o esperado. Ao esmiuçar meus gastos do último mês, especialmente os internacionais, encontrei um inesperado pagamento de R$ 730.

Olhei a data e percebi que foi no dia do jogo de Brasil x Suíça. Então, comecei a resgatar na memória passo a passo do meu dia. Acordei, fui em um encontro de torcedores brasileiros, onde faria uma entrada ao vivo no UOL Esporte News, segui para o jogo, trabalhei e voltei para casa, já de madrugada.

Meus únicos gastos naquela segunda-feira, pelo que me lembrava, foram 45 rials (cerca de R$ 73) que gastei em alguns tacos de frango na festa da torcida e mais 50 rials (R$ 80) para comer um shawarma e uma cerveja sem álcool no estádio.

Como poderia então ter desembolsado R$ 730, do nada, em algum lugar de Doha?

Rapidamente notei que os R$ 730 da fatura eram semelhantes aos cerca de R$ 73 dos tacos e deduzi que alguém pode ter colocado um zero a mais quando fui pagar. Então, senti-me enganado pelos donos daquele food truck e decidi voltar lá disposto a reaver a quantia. Mas, claro, por ser brasileiro, já esperei uma baita dor de cabeça para conseguir qualquer coisa.

Oras, como eu iria convencer os donos do lugar de que, de fato, não gastei tudo aquilo? A maioria dos pratos custava entre 90 e 100 rials. Eu poderia ter comprado para amigos, por exemplo. Era um evento com milhares de convidados, com venda de bebidas alcoólicas (no local, estava permitido) e pessoas bêbadas, que podem, às vezes, gastar mais do que podem ou devem. Mas não custava tentar.

Horas antes de Brasil x Camarões, portanto, cheguei pronto para um longo debate e logo vi que o nome do food truck era o mesmo da fatura. Então, encostei com autoridade no balcão com a voz empostada e o dedo em riste e pedi para alguém chamar com o gerente.

Uma atendente perguntou o que aconteceu e eu respondi: "Vim no último evento da torcida brasileira e comi tacos neste lugar. Os tacos custam 45 rials e passaram 450 rials no meu cartão de crédito. Como era pagamento por aproximação e estava tumulto, na hora não vi e só percebi vendo a fatura, e aí...".

Antes que eu pudesse sequer mostrar o comprovante ou argumentar mais, ela me interrompeu de maneira educada e disse: "Me desculpe, senhor, quanto eu preciso te devolver?". Tirou uma calculadora, subtraiu 45 de 450, abriu a gaveta, sacou duas notas de 200, uma de 5, devolveu e disse: "Desculpe o ocorrido!".

Foi assim que em 10 segundos resgatei o dinheiro perdido dias antes. Sem nenhuma discussão, sem que ninguém duvidasse da minha palavra, sem gritaria, sem cavalo entrando no meio de roça, sem moto estralando, nada! A atendente confiou na minha palavra e ainda se desculpou.

E não estamos falando de centavos, e sim quase R$ 700. É dinheiro para comer aqui no Qatar por uma semana, se conseguir escapar das comidas dos estádios, que são bem caras.

Enfim, surpreso com a atitude, agradeci, ainda consternado, e fui embora. Mas voltei segundos depois e pedi mais alguns tacos de frango. Paguei no dinheiro desta vez.