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Danilo Lavieri

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Palmeiras e Fla dominam futebol porque pagaram pedágio que rivais não topam

Dudu, do Palmeiras, e Vidal, do Flamengo, em ação na partida do Campeonato Brasileiro - Marcello Zambrana/AGIF
Dudu, do Palmeiras, e Vidal, do Flamengo, em ação na partida do Campeonato Brasileiro Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

Colunista do UOL

03/11/2022 04h00

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Ainda há os que acham que é só uma fase, mas Palmeiras e Flamengo já mostraram que ensaiam uma hegemonia no futebol brasileiro e que chegam a 2023 com chance de serem novamente os protagonistas de tudo o que disputam. Nada é por acaso. Os dois toparam pagar um pedágio que nenhum outro rival direto se mostrou disposto nos últimos anos. Por isso, a cada ano o "intruso" muda, mas a dupla está sempre nas cabeças.

Nos últimos dois anos, o Alviverde foi campeão do Paulista, da Copa do Brasil, da Recopa, de duas Libertadores e de um Brasileirão. Olhando desde 2015, a lista aumenta ainda mais com mais uma Copa do Brasil e dois Brasileiros. Neste mesmo período, o Flamengo também foi campeão de todos esses torneios e ainda levou a Supercopa do Brasil.

A retomada de ambos para viverem essa fase começou praticamente junta, com muitas semelhanças e algumas diferenças. Em 2013, o Palmeiras jogou a Série B e começou uma reestruturação financeira que contou com o criticável aporte de Paulo Nobre, então presidente do clube. No ano seguinte, em pleno centenário, foi a vez de o torcedor sofrer com aquela que quase foi a terceira queda e ouvia de sua direção que tudo fazia parte de uma mudança para "voltar a beber água limpa". Em 2015, a Crefisa chegou e bombou ainda mais a receita que já crescia com a inauguração recente do Allianz Parque de Luiz Gonzaga Belluzzo.

De lá para cá, o Palmeiras passou a ser respeitado no mercado de transferências, não precisou mais adiantar receitas e manteve praticamente todas as suas contas em dia. O investimento na base só aumentou e o que hoje todo mundo vê em Endrick ainda tem uma lista com Gabriel Menino, Danilo, Vanderlan... E ainda vem o Estevão Messinho por aí.

O Flamengo, sob o comando de Eduardo Bandeira de Mello, também preferiu abrir mão de um pouco de competitividade para voltar a colocar a casa em ordem. Os títulos demoraram um pouco mais, mas agora chegam em atacado. Muito criticada, a direção disse que tinha um dever ético e moral de colocar toda a casa em ordem. Hoje, além das taças, o clube bate recordes e mais recordes de receita que dão um potencial ainda maior de compra em relação a seu concorrente que passou a ser tratado como grande rival por causa das disputas diretas.

Enquanto isso, o Atlético-MG chegou a tentar entrar nesse hall, mas de maneira artificial. Vendo a dívida subir, o time contou com empréstimos que fizeram o buraco ultrapassar a casa do R$ 1 bilhão. Deu certo em 2021, com o Brasileirão e a Copa do Brasil, mas o alto preço do all in não será pago em 2022. A solução mais estudada é virar SAF.

O São Paulo também investiu em contratações, tentou aproveitar vendas de jovens da base para melhorar o time, mas deixou de lado o pagamento de dívidas. A cada dia, uma nova data é dada como promessa para zerar tudo isso. Conseguiu um Paulistão e nada mais. Agora, as contas no vermelho batem na porta ainda mais após a contratação mirabolante de Daniel Alves e com o erro sendo repetido com Galoppo. Agora, a expectativa é diminuir os investimentos em 2023. Mas será que isso será mesmo feito?

O Corinthians investiu alto com um supertime em 2022. O custo do pacote Yuri Alberto é pornográfico e fica ainda pior com os salários de Paulinho, Renato Augusto, Giuliano e até de Willian, que já foi embora. Com a dívida do estádio sendo quase ignorada desde 2014, o time aposta na força de sua torcida para continuar gastando mais do que pode. Deu certo no Brasileirão em 2017 e mais nada.

O futebol de hoje cobra cada vez mais responsabilidade nas finanças e na administração. Times que até há pouco só lutavam contra o rebaixamento sobem na tabela por conta de sua estrutura. O Fortaleza é o grande exemplo disso.

A moda das SAF chega para tentar equilibrar esse jogo, mas o resultado a curto prazo não deve ser visto. Enquanto os times tratam cada temporada como a última e gastam tudo o que não podem, poderemos ver um ou outro intruso na briga, mas dificilmente veremos alguém que vai conseguir competir em tão alto nível por tanto tempo como fazem Palmeiras e Flamengo.

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