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TCU alertou sobre corrupção no esporte antes dos Jogos Olímpicos

Visão geral do estádio do Maracanã para a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016 - REUTERS/Fabrizio Bensch
Visão geral do estádio do Maracanã para a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016 Imagem: REUTERS/Fabrizio Bensch
José Cruz

07/02/2019 04h00

A um ano e cinco meses dos Jogos Olímpicos de Tóquio, o esporte brasileiro ainda está sem diretriz no governo de Jair Bolsonaro. Diante dos abusos e mazelas passadas, é claro que se precisará de bom debate para criar normas referentes à liberação e, principalmente, uso do dinheiro público. Mas, antes, é preciso decidir: compete ao Estado financiar o alto rendimento? O certo é que nessa transição entre a fartura de ontem e as dificuldades de agora está a preparação das equipes aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2020.

Recentemente, o tênis perdeu o apoio dos Correios. Desportos Aquáticos vai pelo mesmo caminho. Outras estatais antecipam que a festa acabou. E o que ocorrerá com a Lei de Incentivo ao Esporte? A Bolsa Atleta será honrada? Ironicamente, o esporte subiu no telhado?

A gravidade do atual momento olímpico não pode ser atribuída apenas à decisão política do governo, de não dar ao esporte o mesmo apoio financeiro de antes. Ela foi construída - e anunciada - ao longo dos últimos anos de diferentes formas. Por exemplo, pela omissão dos ministros do Esporte que se sucederam, fechando os olhos à corrupção e não construindo um plano de longo prazo para o setor. 

Os cartolas, por sua vez, encantados com a fartura de dinheiro que saía, ficaram dependentes do cofre público, como se fosse ação eterna. E, sem gestão profissional, não tornaram o esporte um produto rentável, capaz de suprir o apoio oficial, quando necessário. Paralelamente, a falta de fiscalização facilitava a corrupção e o desvio de verbas. Com o tempo, essas práticas deixaram o setor esportivo vulnerável, tornando-o desacreditado e fragilizado para novas parcerias oficiais ou privadas. Sem esquecer que o próprio presidente do COB e do Comitê Jogos Rio 2016, Carlos Arthur Nuzman, foi preso e afastado do movimento esportivo. Solto, ele se explica à Justiça.

Investigações oficiais mostraram que os dirigentes não tinham limites nos gastos. Afinal, a grana estava garantida, inclusive para salários volumosos. Em um relatório de auditoria (TC 023.922/2015-0), o Tribunal de Contas da União registrou, sem citar nomes ou entidades:

"Nas fiscalizações realizadas, em algumas das entidades, foram verificados salários de até R$ 118.573,00, passando por valores como R$ 45.349,00 e R$ 30.451,00, para funcionários, incluindo caso de técnico estrangeiro contratado, enquanto, para dirigentes, em uma entidade, foram constatados salários de R$ 31.154,52 e de R$ 29.285,26".

No mesmo relatório, foi alertado sobre o perigo da corrupção: 

"De modo geral, os resultados alcançados com o presente FOC (Fiscalização de Orientação Centralizada) corroboram riscos apontados por ocasião do levantamento do esporte de alto rendimento, dos quais destaca-se o risco de desvio de recursos públicos destinados ao esporte de rendimento."

Entenderam? O alerta de que o desvio da grana era real foi dado. O governo sabia que boa parte do dinheiro que liberava ia para bolso alheio. O próprio TCU identificou isso em outras auditorias e mandou devolver os recursos, corrigidos e com multa aos infratores. Essa festa durou 15 anos, de 2003 a 2018, nos governos Lula, Dilma e Temer.

Beneficiados, os atletas também se omitiram no combate à corrupção. Agora, são os principais atingidos. O que esperar?

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