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Ex-ministros também são responsáveis pelo desmonte do Ministério do Esporte

Carlos Arthur Nuzman ao chegar à Polícia Federal após ser preso no Rio de Janeiro, em 2017 - Mauro Pimentel/AFP
Carlos Arthur Nuzman ao chegar à Polícia Federal após ser preso no Rio de Janeiro, em 2017 Imagem: Mauro Pimentel/AFP
José Cruz

17/01/2019 04h00

Não é apenas o ministério, transformado em "secretaria", que passa por desmonte nesse início de governo: a estrutura do esporte, em geral, está em decadência inédita na nossa história. 

O retrocesso foi desenhado ainda em governos passados, com denúncias - a maioria comprovadas - de corrupção em confederações, sustentadas com verbas públicas.

O ponto máximo da desmoralização do sistema ocorreu em 2018, com a prisão de Carlos Arthur Nuzman, acusado de ter comprado votos para transformar o Rio de Janeiro na sede dos Jogos de 2016. Ele foi banido do movimento com fama de "caloteiro" ao deixar uma dívida de R$ 200 milhões. 

É oportuno refrescar a memória sobre o envolvimento da verba pública no sistema do esporte profissional, cuja corrupção, que contribuiu para o fim do Ministério do Esporte, está longe de ser desmantelada totalmente.

O Plano Brasil Medalhas, em 2012, destinou R$ 1 bilhão, para projetos olímpicos e paralímpicos. Além disso, outros R$ 6 bilhões, de várias fontes, como os patrocínios de estatais e a Lei de Incentivo ao Esporte, rechearam o cofre dos cartolas no ciclo dos Jogos Rio 2016. 

Assim, não é apenas Nuzman que deve responder pelos desmandos das últimas décadas, mas todos os ex-ministros do Esporte, a partir de Agnelo Queiroz, em 2003. Todos foram responsáveis por reconhecidos desperdícios financeiros, além de não terem construído um sistema e uma política de Estado para o setor. Não deram à pasta que dirigiram a importância e a credibilidade necessárias. 

Leigos em esporte, os ex-ministros foram cúmplices da corrupção, e silenciaram quando questionados pelo Tribunal de Contas da União sobre a fragilidade da estrutura que gerenciavam.

O relatório de uma das auditorias do TCU demonstra o desleixo daquela época. Veja: 

"A liderança exercida pelo Ministério do Esporte na política de esporte de rendimento é limitada. O Ministério mostrou-se, em nível de organização, aquém do que seria desejável, dado o seu papel de protagonismo no desporto brasileiro. O órgão conta estrutura deficiente frente a todas as suas atribuições e, dessa forma, não apresenta capacidade operacional de atuar de forma satisfatória como coordenador das ações do sistema esportivo e como responsável pelo controle de grande parte dos recursos públicos aplicados no esporte de rendimento".

Mais?

"Além disso, a crise de credibilidade das entidades esportivas afasta patrocinadores, diante de casos de desvios de recursos amplamente noticiados pela mídia".

"Os controles existentes (no Ministério) são insuficientes para mitigar os riscos verificados..."

Foi assim que o esporte foi parar no Ministério da Cidadania, onde estão, também, os assuntos da cultura e do combate às drogas. O general da reserva Marco Aurélio Costa Vieira, cuidará da Secretaria de Esporte, mas o comando geral da pasta é do médico e deputado federal Osmar Terra (MDB). 

Agnelo, em 2003, também era médico e deputado. Além do desmonte, retrocedemos 16 anos... 

Sobre Cultura, Terra disse que sabe "o que é um berimbau". Já sobre Esporte, espero que saiba o que é um atleta. Afinal, já tivemos um ministro, George Hilton, que não entendia de esporte, "mas de gente", como declarou na sua posse... 

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