Uma oportunidade no caos

Como num tango argentino, aquela que deveria ser a maior final da Libertadores de todos os tempos, tornou-se um vexame mundial que ninguém mais sabe quando, onde e como terminará. Haja o que houver, entretanto, o futebol sul-americano está diante de um daqueles momentos únicos, nos quais, se houver vontade política, pode-se tomar decisões importantes para mudar os rumos da principal competição do continente, servindo também de exemplo para banir, de uma vez por todas, problemas que, pouco a pouco, vão tornando o futebol um esporte de alto risco na América do Sul.
Não creio que a desmoralizada Conmebol vá punir o River Plate pela absurda agressão de sua torcida ao ônibus do Boca Juniors, no caminho para o Monumental de Nuñez. Mas a oportunidade é perfeita para que, ao menos, se exija um regulamento bem mais duro que, a partir da próxima edição, reprima e condene com vigor quaisquer tipos de agressão nos estádios e nos seus arredores. Basta querer. O presidente da Fifa, Gianni Infantino, estava na Argentina. Se der um empurrãozinho...
Não custa lembrar que, na final da Sul-Americana do ano passado, o Maracanã foi palco das mais variadas e condenáveis formas de selvageria. O estádio foi invadido, os bares saqueados, houve brigas e roubos, enfim, um inferno que nem a polícia foi capaz de controlar.
A partir daí algumas medidas simples, como bloqueio de ruas vizinhas ao estádio, exigência de apresentação do ingresso aos policiais, bem antes de chegar às catracas, e trabalho preventivo de inteligência sobre as mais violentas torcidas organizadas, melhoraram consideravelmente o quadro. O Flamengo jogou duas partidas da atual Copa Libertadores com os portões fechados como punição.
As tragédias de Heysel e Sheffield, nos anos 80, provocaram suspensões de cinco anos de todos os clubes ingleses nas competições europeias (o Liverpool pegou seis) e levaram a Inglaterra a produzir o relatório Taylor, reformar os seus estádios e banir os hooligans deles.
É preciso que se aproveite o absurdo acontecido nesse último final de semana em Buenos Aires para adotar medidas semelhantes, já a partir da próxima temporada. Há alguns dias, houve um dirigente que chegou ao delírio de comparar a Libertadores à Champions League. Essa final entre Boca e River nos mostrou, com clareza, como estamos a anos-luz disso.
Se, no entanto, esse lamentável episódio servir como ponto de partida para uma reformulação que nos permita avançar na luta contra a violência no futebol, o vexame de Nuñez pode até ser lembrado, no futuro, como um ponto histórico e positivo.
O problema é acreditar que isso, realmente, vá acontecer, num órgão, como a Conmebol, que, entre outras coisas, permitiu que esse ano uma mesma infração tivesse dois veredictos distintos, prejudicando um clube brasileiro (o Santos) e beneficiando um argentino (o River).
Infelizmente, a Conmebol não é confiável. Mas que tem pela frente uma oportunidade de ouro para passar a ser, tem.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.