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Apoio financeiro de Neymar ao 'parça' Daniel Alves não surpreende

A legislação espanhola permite que uma pessoa condenada por agressão sexual possa reduzir a sua pena com o pagamento de uma indenização à vítima — mesmo que a vítima não queira receber o valor. É o chamado "atenuante de reparação de dano causado".

A advogada da vítima de Daniel Alves deve recorrer da sentença de 4 anos e meio em regime fechado, considerando inclusive o fato de que ter acesso a tamanhos recursos financeiros não deveria significar uma pena menor.

Na prática, um homem rico ou com amigos ricos pode comprar anos de liberdade, com um dinheiro que certamente não atenuará o trauma da mulher estuprada. Ou seja, pobre vai em cana por mais tempo.

No caso de Alves, os 150 mil euros não foram pagos do próprio bolso. Com seu patrimônio congelado pelo processo, ele recorreu ao parça Ney. Neymar pai não apenas transferiu a soma como indicou um advogado de sua confiança para se envolver no processo.

Poxa, eles são amigos e amigos ajudam amigos mesmo nos piores momentos. Claro, cada um ajuda quem quiser e não precisa dar satisfação a ninguém. Como figura pública, porém, Neymar é exemplo. O tempo todo. O exemplo que ele escolheu dar, aqui, foi financiar a liberdade de um estuprador e influenciar um precedente importante.

Abala, mas não surpreende. O histórico de Neymar nunca indicou uma preocupação com a defesa das mulheres.

Muita gente se agarra ao caso Najila, como evidência de que marias chuteiras estão sempre à espreita, as verdadeiras predadoras buscando sua próxima presa indefesa. Vale lembrar que este caso especificamente foi arquivado por falta de provas. Ninguém saiu inocentado. Aliás, saiu, sim. Najila foi absolvida da acusação de fraude processual — anteriormente, a Justiça já havia rejeitado uma acusação do Ministério Público contra ela por denunciação caluniosa e extorsão.

O caso de que quase ninguém fala é o da Nike. A gigante americana rompeu contrato com o atleta na sequência da denúncia de uma funcionária. Segundo ela, o craque teria agido para forçá-la a fazer sexo oral. A empresa levou a sério, buscou o jogador para participar das investigações, ele não cooperou e o acordo zilionário, com sua galinha dos ovos de ouro, foi sumariamente rompido.

Imaginem aí o tamanho do peso que essa decisão carregou na Nike. Se teriam sido severos assim por uma besteira infundada qualquer.

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Poucos deram bola ao assunto. E Neymar seguiu rico e faceiro, traindo a esposa grávida, organizando fim de semana de pôquer e embarcando em cruzeiro de esbórnia com uma bebê recém-nascida em casa.

Pensando bem, não podemos acusar Neymar de incoerência. Ou de ser o tipo de cara que deixa os parças na mão. Mesmo os estupradores.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.