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Alicia Klein

REPORTAGEM

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Jornal suíço de 1989 relatou estupro de menina no caso Cuca

Cuca, na apresentação no Corinthians - Rodrigo Coca/Agência Corinthians
Cuca, na apresentação no Corinthians Imagem: Rodrigo Coca/Agência Corinthians

24/04/2023 14h32

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Circulou nos últimos dias o link para um artigo de 1989, do jornal suíço "Der Bund", com informações graves sobre o caso Cuca. Detalhes que desmentem a versão sustentada pelo agora treinador do Corinthians.

A coluna verificou a autenticidade do arquivo com fontes na Suíça. Ele foi de fato publicado em 16 de agosto de 1989, trazendo um relato detalhado do julgamento e do ocorrido no fatídico 30 de julho de 1987, em Berna.

Lembrando que Alexi Stival (Cuca), Eduardo Henrique Hamester, Henrique Arlindo Etges, todos atletas do Grêmio à época, foram condenados por atentado ao pudor e coação envolvendo criança. O quarto envolvido, Fernando Castoldi, foi condenado "apenas" por coação.

Segundo as provas apresentadas no julgamento e o relato da vítima, testemunhas, médicos e peritos, Cuca e seus colegas estupraram, sim, uma menina de 13 anos. Onde está a inocência de um homem de 24 anos que força uma criança para dentro de um quarto, seu corpo para dentro do dela?

Como ainda relativizamos um crime dessa natureza? Ah, deixa o homem trabalhar. Esquece isso aí. Mimizenta.

Claro, você pode escolher acreditar nas falas de Cuca, que jura nunca ter tocado em uma mulher de maneira indevida (vale notar que a vítima era uma menina, não uma mulher). Que deu uma entrevista constrangedora, expondo a esposa e as filhas para falar do episódio. Que prefere fingir que nada aconteceu e se mostra aborrecido com as indagações a respeito. Como se o assunto em si fosse um estorvo.

Ou você pode acreditar nas informações abaixo, retiradas do artigo em questão. Ou na própria confissão dos três jogadores, que no segundo interrogatório resolveram admitir ter feito sexo com ela (menos Fernando).

Veja se algo nessa história parece adequado. Ou se parece criminoso, como pareceu à Justiça suíça.

Deixo a seu critério.

Fornicação e coação indiscutíveis nos três casos

"A sequência de eventos.

É 30 de julho de 1987, à tarde, um dia antes do último jogo da Philips Cup, entre Grêmio de Porto Alegre e Xamax Neuchâtel. A vítima está na cidade com um colega (ambos torcedores de futebol). Por acaso, eles encontram outro amigo, e por sugestão dele os três vão para o Bern Hotel Metropole, onde estão hospedados os jogadores da Philips Cup.

Em frente ao hotel, eles encontram os quatro jogadores do Grêmio: Alexi Stival (Cuca), Eduardo Henrique Hamester, Henrique Arlindo Etges e Fernando Castoldi. A vítima e seus dois companheiros abordam os atletas sobre uma possível troca de camisa e eles concordam em efetuá-la no quarto de um jogador.

Chegados a uma sala do segundo andar, conforme testemunhas, os jogadores desistem da pretendida troca de camisas. Em vez disso, eles começam a assediar a garota acintosamente.

As duas testemunhas disseram que eles beijaram e "acariciaram" a menina e que ela tentou se defender dessas investidas. Os jovens que acompanhavam a menina foram, então, expulsos da sala - sem violência, mas de forma decisiva.

Uma testemunha diz que viu pela última vez a menina sendo empurrada para a cama por um jogador. Depois que os dois colegas saem da sala, os jogadores trancam a porta por dentro.

Indecisos sobre o que fazer, os dois jovens procuram ajuda na recepção e recorrem a um funcionário do hotel, sem sucesso. Após mais hesitação, saem para a rua e relatam o ocorrido a um transeunte.

Sobem e batem na porta trancada do hotel, também sem sucesso. Pouco tempo depois (tudo dura cerca de meia hora), a menina sai do quarto do hotel, segundo seus companheiros, visivelmente atordoada.

Ela está vestindo uma camisa e um calção do Grêmio. Ela conta a seus companheiros apenas parte do que aconteceu na sala. Os jovens vão ao restaurante Löwen "tomar uma cerveja" e a garota se dirige para casa.

Em seguida, ela vai com os pais à delegacia para registrar queixa. Os três jogadores de futebol, Alexi, Eduardo e Henrique, a forçaram a manter relações sexuais e atos semelhantes ao coito, diz a vítima.

O quarto, Fernando, estava lá e ajudou os outros, auxiliando-os a despi-la. Esse atleta ajudou o colega a lhe tirar a calça e segurou suas pernas.

Os quatro jogadores de futebol foram presos e interrogados na mesma noite. Durante o primeiro interrogatório, eles negaram ter tocado na garota.

No segundo interrogatório, ocorrido alguns dias depois, no entanto, eles confessaram a relação sexual, com exceção de Fernando.

No entanto, eles afirmaram que nada havia acontecido contra a vontade da menina. A garota se divertira com tudo, segundo afirmaram. O que os levou a comentar que a garota "provavelmente não era normal".

Nesse segundo depoimento, eles confessaram novamente a relação sexual, novamente com exceção de Fernando.

O relatório forense mostrou vestígios de esperma dos dois jogadores, Alexi (Cuca) e Eduardo, no corpo da menina. Não foram encontrados vestígios de violência na vítima. Ela afirmou que ficou paralisada durante o incidente e, portanto, não gritou nem revidou.

Um dia depois, após consulta com o médico que a atendeu, a garota compareceu por pouco tempo à final da Copa Philips, acompanhada do irmão, fato que gerou comentários depreciativos de várias pessoas.

De acordo com o médico que trata dela, a menina vem sofrendo de graves transtornos mentais desde aquele incidente e, entre outras coisas, tentou suicídio na primavera passada."