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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O que Neymar ganhou nos últimos cinco anos, além de desdém? 

Neymar, durante derrota do PSG contra o Lille, pelo Campeonato Francês - FRANCK FIFE / AFP
Neymar, durante derrota do PSG contra o Lille, pelo Campeonato Francês Imagem: FRANCK FIFE / AFP

05/04/2021 13h09

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Nenhum torneio internacional. Zero. O ouro nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, foi a última grande conquista de Neymar. De lá para cá, levou uma Copa del Rey com o Barcelona e diversos títulos franceses com o PSG. Na Seleção principal, nada.

Na França, onde o domínio do clube parisiense é o mínimo esperado pelo nível de investimento, o brasileiro segue marcando muitos gols e tomando muitos cartões. O chilique após a expulsão na partida contra o Lille, no sábado, foi apenas mais uma demonstração de descontrole daquele que até os mais incautos estão desistindo de chamar de Menino Ney.

Nos últimos 15 jogos pela Ligue 1, Neymar fez seis gols, deu cinco assistências e tomou três cartões vermelhos. Uma bela média de dois gols para cada expulsão. Nenhum outro atleta do campeonato levou tantos vermelhos no mesmo período.

Estou dizendo tudo isso antes que me acusem de ser uma feminista chata que persegue o garoto de 29 anos por seu comportamento fora de campo. De fato, faz tempo que ele decepciona como ser humano e isso não é pouca coisa. Acredito que todos deveríamos nos importar com o exemplo que ídolos podem dar a crianças e adultos.

Mas Neymar é uma decepção também dentro das quatro linhas. Instável, técnica e emocionalmente. Infantil, como jogador e como homem. Tem momentos de brilhantismo, em que lembramos por que um dia acreditamos que seria o novo Pelé, ou o nosso Messi. Ele não é nem um, nem outro. Porque para ser craque, craque mesmo, destes que gravam seu nome na história, indisputavelmente, precisa ser constante, sólido, confiável. Precisa ser, pelo menos na maior parte do tempo, inabalável. Até nem precisa ser bom caráter, infelizmente.

Pense em qualquer uma dessas características e veja se consegue associá-las a Neymar por mais do que quatro segundos.

A citação já repercutiu bastante, mas não posso deixar de dar espaço para a definição da "France Football", uma das publicações esportivas mais respeitadas do mundo: "Seu comportamento era terrível. Enfrentando o Lille, em encontro crucial para o título de campeão da França, Neymar tinha 13 anos. A maturidade de um júnior e a imprudência tática da criança que faz apenas o que lhe agrada."

Marcadores sabem disso, árbitros sabem disso, treinadores adversários sabem disso. Sabem que há pontos fracos a explorar. Claro que é difícil apanhar o tempo inteiro e não se lesionar ou perder a cabeça. Esta é a sina de todo grande craque habilidoso, desde os tempos em que nem existiam cartões e os carniceiros saíam impunes. Neymar não é o primeiro a precisar superar estes obstáculos.

Até quando, então, ele vai ser esperança, promessa, o menino prestes a se consagrar a qualquer momento? Aos 29 anos, Messi já tinha sido eleito o melhor do mundo cinco vezes. Cristiano Ronaldo, três. (Imagina se não fossem contemporâneos.) Enquanto isso, Neymar Jr. segue zerado, rei mesmo só de vexames e memes.