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OPINIÃO

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Vitor: Troca gigante entre Nets e 76ers muda relação de forças na NBA?

James Harden (dir) tenta passar por Ben Simmons em jogo do Brooklyn Nets contra o Philadelphia 76ers na NBA em fevereiro de 2021 - Tim Nwachukwu/Getty Images
James Harden (dir) tenta passar por Ben Simmons em jogo do Brooklyn Nets contra o Philadelphia 76ers na NBA em fevereiro de 2021 Imagem: Tim Nwachukwu/Getty Images

11/02/2022 11h07

Cerca de duas horas antes do limite para trocas na NBA veio o anúncio que todo mundo aguardava: o Philadelphia 76ers e o Brooklyn Nets finalizaram um acordo que enviaria o ex-MVP James Harden para a Philadelphia, em troca de outro (ex) All Star em Ben Simmons, Seth Curry, Andre Drummond e duas escolhas de Draft. A troca, que vinha sendo especulada nos últimos dias, foi a cereja do bolo do que foi uma movimentadas datas limites de trocas.

E, no entanto, em meio a uma correria para se declarar quem venceu e quem perdeu a troca, quem resumiu melhor meu sentimento a respeito tenha sido o jornalista Rohan Nadkarni, da Sports Illustrated: "Uma troca na qual os dois times fizeram bonito, mas que ambas as estrelas estavam disponíveis por um bom motivo".

É realmente impossível falar dessa troca sem entrar nas questões extra-quadra que fizeram ela ser possível. Do lado dos Sixers, Ben Simmons se afastou da equipe após ser criticado pelos companheiros e pelo técnico Doc Rivers seguindo a eliminação dos playoffs de 2021, vindo de performances desastrosas contra os Hawks; o australiano logo deixou claro que não queria mais jogar pela franquia. A percepção era de que Simmons mudaria de postura quando isso começasse a significar perder partes do seu salário de 30 milhões de dólares - o que não aconteceu, e eventualmente uma troca se tornou inevitável e a melhor solução para ambos os lados.

Do outro lado, James Harden deveria ser a peça final de um supertime dos Nets após as chegadas de Kyrie Irving e Kevin Durant, e o ex-MVP forçou sua saída do Houston Rockets para fazer isso acontecer. Os Nets chegaram perto de realizar esse potencial - não fosse as lesões de Kyrie E Harden, ou mesmo o dedão enorme de KD, os Nets teriam vencido os Bucks - mas lesões e a postura antivacina de Kyrie minaram qualquer chance do Big Three ter continuidade; em pouco mais de um ano juntos, os três atuaram ao mesmo tempo em apenas 16 jogos. Enquanto isso, as tensões foram crescendo - principalmente, pelo que se diz, a frustração de Harden com a postura egoísta de Kyrie - e com o contrato de Harden prestes a expirar e o jogador não apenas recusando uma extensão, mas dando sinais de que não renovaria o contrato, os Nets precisavam decidir se trocavam o barbudo, ou se corriam o risco de perder ele por nada.

Com os dois times vendo sua mão forçada, e considerando o interesse de Harden em ir para os Sixers como agente livre (e sua relação com o GM Daryl Morey), ficou claro que a solução simples para ambos os times era trocar uma estrela insatisfeita pela outra. E, ontem, ela finalmente se concretizou.

E, apesar da pura magnitude datroca, do quanto isso muda para ambos os times, do quão bombástico foi o anúncio, do interesse do público no movimento... eu sempre acabo voltando para as palavras de Nadkarni: ambas as estrelas estavam disponíveis por um motivo.

Uma verdade incômoda é que Harden simplesmente não é mais o MVP que foi em Houston. Ele ainda é muito bom, claro, mas tem descido um degrau já faz duas temporadas, e o Harden desse ano não é mais um fazedor de diferença do nível que foi no passado (ou mesmo ano passado, quando chegou em Houston). Se fosse, duvido muito que os Nets trocariam, ainda mais dada a incerteza da situação de Kyrie. Da mesma forma, não creio que os Sixers estariam tão interessados em trocar Simmons por um Harden de 32 anos e prestes a receber um contrato mastodôntico - não a ponto de incluir Seth Curry E escolhas de Draft - se não fosse toda a bizarra situação do australiano. E ambos os times incorporaram uma parte grande desse risco inerente aos jogadores, algo que pode passar desapercebido quando se analisa apenas a parte teórica do acordo: os Nets estão trocando o principal ballhandler do time por um jogador que está inativo faz oito meses, supostamente (afirmado por ele próprio) lidando com questões psicológicas sérias, que já mostrou ter uma personalidade complicada e foi um desastre da última vez que jogou nos playoffs. Da mesma forma, os Sixers estão trocando talvez seu segundo melhor jogador (Curry) e escolhas de Draft por um jogador na descendente, vindo de lesões, tendo sua pior temporada em 10 anos. Seria diferente se isso fosse um jogo de NBA 2k, mas na vida real ambos os times terão que lidar com muitas incertezas durante essa adaptação.

E olha, talvez eu esteja pensando longe demais, e ignorando as conexões fáceis na minha frente. Talvez a situação seja muito mais simples do que isso. Mas a verdade é que, quando mais eu penso a respeito dessa troca que parece ter mudado tudo, mais eu acho que, no grande esquema das coisas, ela muda na verdade bem pouco. Em outras palavras, eu não estou convencido que essa troca realmente muda o eixo de poder na NBA, ou a situação das equipes dentro de quadra.

Pegue o Philadephia 76ers, que pelo menos no curto prazo está sendo apontado como claro vencedor da troca. E é fácil ver por que: com Simmons sem jogar, os Sixers basicamente fizeram o upgrade de Seth Curry para James Harden; por mais que eu goste de Curry, Harden é um jogador muito superior, então é fácil pensar que o time melhorou - e, para um time que já estava indo bem na temporada ao redor de um candidato a MVP em Joel Embiid, essa melhoria deveria elevar o time ao patamar de favoritos ao titulo. Certo?

Bem, de novo, pode ser que seja simples assim, mas eu não estou convencido. Parte do que fez os Sixers tão bons nessa temporada (e com uma campanha de 28-14 quando Embiid joga) é porque eles reinventaram sua forma de jogar, colocando a bola nas mãos de Embiid mais do que nunca e executando as ações ao seu redor - algo que só aconteceu pela ausência de um jogador que segurasse a bola como Simmons, e que elevou Embiid a um nível de possível MVP da temporada. Harden, por sua vez, É um jogador que segura muito a bola, controla as ações do time e dribla mais do que qualquer outro jogador da NBA. Adicionar Harden significa mudar por completo toda essa dinâmica e o estilo que a equipe desenvolveu ao longo de 55 jogos, alterar o papel de Embiid no time, e basicamente se reinventar do zero na reta final da temporada. É um risco muito grande, e embora seja aceitável dado o potencial e as circunstâncias envolvendo Simmons, está longe de ser uma certeza que o time dará um salto de qualidade.

E também tem o seguinte: ao longo dos anos, ficou claro que a melhor forma de maximizar o jogo de Harden é cercá-lo de arremessadores, abir a quadra, e dar espaço para ele infiltrar... mas os Sixers são um encaixe bem ruim para esse estilo. Tendo trocado Curry, o time simplesmente não tem mais arremessadores de elite: Thybulle arremessa 32% de fora; Tobias Harris está abaixo de 35%; Korkmaz em 29%. Só Niang está acima de 40%, e Maxey em 39%, embora esse último arremesse mais a partir do drible. Claro, talvez o pick-and-roll entre Harden e Embiid seja TÃO dominante que isso simplesmente não importa, mas seria muito mais fácil acreditar nisso se fosse o Harden de 2019, ou mesmo o do ano passado. Os Sixers estão hoje com mais talento, sem dúvida, e seu teto aumenta com a troca, mas eu estou cético de que Phiadelphia mudou de patamar.

Para os Nets, a análise é mais difícil em parte por estarem trocando um jogador que estava jogando (apesar de machucado no momento) por um que não atua faz oito meses, e trás todos os problemas citados. Em teoria, Simmons é um encaixe mais limpo no Brooklyn: o time já tem dois pontuadores de elite em Kyrie e Durant, então faz sentido trocar um terceiro pontuador por um ótimo defensor que não precisa de arremessos, e que dobra como um bom passador. Com os arremessadores que Brooklyn tem, Simmons é um encaixe muito melhor lá do que na Philadelphia, e oferece uma versatilidade e capacidade destrutiva na defesa que os Nets não tinham. Se Kyrie estiver jogando e se Durant estiver saudável, e se Simmons retomar a melhor forma, e se os problemas de playoffs não voltarem a aparecer, da para fazer o argumento de que os Nets são um time mais sólido do que antes da troca.

Mas é um número grande de "ses". Kyrie insiste na postura antivacina, e não pode jogar em casa; Durant, por sua vez, não tem prazo para voltar de lesão. Harden, de certa forma, era o mais estável do time (apesar de não ser totalmente estável), e agora ele não está mais lá. Talvez Simmons - se estiver fisica e mentalmente bem - possa ajudar nisso, é um jogador mais adequado à temporada regular que eleva o piso da equipe até o fim da temporada (algo que Brooklyn, oitavo no Leste, precisa com tantas incertezas), mas a perda de Harden também diminui o teto do time e a principal opção de criação e pontuação vinda do perímetro dada a situação de Kyrie. Eu não acho que o time despenque de nível com a troca, a meu ver continuam tão candidatos ao título quanto eram antes, mas também não acho que o time tenha subido de patamar ou tornado as dúvidas e problemas menores do que antes.

E é isso que eu quero dizer quando digo que não achei que a troca mudou muito no grande esquema das coisas. Philadelphia subiu um pouco seu teto, mas abaixou seu piso; os Nets subiram seu piso (em teoria), e diminuíram seu teto. Mas, na média, ambos continuam muito próximos de onde eu os enxergava antes da troca.

Talvez eu esteja errado, é claro. Essa troca - e ambos os times depois dela - tem incertezas demais, variáveis demais, para se cravar qualquer coisa com algum nível de certeza a essa altura. As situações podem ir em direções tão diversas, com tantas ramificações, que nem o Doutor Estranho da Marvel seria capaz de ver todos os possíveis resultados. O que nos resta agora é nos divertir, e acompanhar como os times se resolvem em busca da melhor versão de si mesmos - e se essa melhor versão, sim, é capaz de alterar a relação de forças na NBA.