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OPINIÃO

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A hora da WNBA: 6 motivos para acompanhar a liga feminina de basquete

Isabella Mei

22/07/2022 04h00

A NBA concluiu mais uma temporada em junho, e quem ama basquete ficou com aquele sentimento de melancolia, como se faltasse uma parte do seu cotidiano. Muita gente se alimentou da Summer League ou até mesmo da breve presença de LeBron James na Drew League, porém foi tudo muito breve. Mas eis a questão que se apresenta: a chegada da offseason e falta de jogos da NBA significa não ter basquete para assistir? E eu te respondo: não, senhor!

Apresento a vocês a WNBA - Women's National Basketball Association - a versão feminina da NBA, criada em 1996 para difundir o basquete feminino profissional nos Estados Unidos (para saber mais a respeito, recomendamos esse episódio do podcast de história de basquete Na Era do Garrafão). Em sua 26ª edição, a de 2022, a WNBA combina o melhor do esporte profissional com entretenimento e um comprometimento inigualável com a diversidade e igualdade social.

Em um ano emocionante - e vamos chegar lá, sem spoilers no momento -, a temporada regular está se encaminhando para seu final, abrindo alas para a bola dos playoffs subir no dia 17 de agosto. Por isso, trago seis motivos para te incentivar a começar a acompanhar a WNBA e suprir a falta que a bola laranja te faz na ausência da NBA.

Programação para a offseason da NBA

A temporada da WNBA normalmente começa em maio, porém abril é o mês de aquecimento com a cerimônia do Draft. A temporada regular vai até meados de agosto, e sua metade é cravada pelo All-Star Game que acontece em julho. Setembro e outubro são os meses em que os filhos choram e a mãe não vê, com os playoffs e as Finais de temporada. Anotou o calendário? Pois agora você tem basquete o ano todo, já que as Finais da WNBA em outubro - acabam logo antes da temporada da NBA retornar no fim do mês, te dando a chance de ver 365 dias de basquete ininterruptos.

Grandes despedidas

2022 tem sido um ano emocionante para os fãs de WNBA; afinal, duas grandes estrelas estão em sua última dança antes da aposentadoria definitiva. Quem ama basquete provavelmente já ouviu falar no nome de Sue Bird - e não, ela não é parente de Larry Bird -, a maior líder em assistências da história da WNBA (3.171 até o momento, e contando). A armadora quatro vezes campeã com o Seattle Storm é também a jogadora com maior número de aparições em All-Star Games, com 13 no total. Bird foi a primeira escolha geral do Draft de 2002 e está, enfim, no seu último ano dentro das quadras depois de vinte e um como profissional.

Sylvia Fowles, a lendária pivô do Minnesota Lynx, também se despede esse ano. Pelo andar da carruagem, ela possivelmente não terá o seu arremesso final nos playoffs, já que o Lynx não deve se classificar para a pós-temporada, mas Mama Syl traçou uma carreira e tanto: foi a Defensora do Ano quatro vezes, duas vezes campeã com o Minnesota Lynx nas quais foi eleita Finals MVP (e mais uma MVP da temporada regular), foi 8x consagrada como All-Star e já faturou quatro ouros olímpicos. Para fechar com chave de ouro, Fowles abrilhantou o All-Star Game de 2022 com uma belíssima enterrada.

Essa é a última oportunidade de assistir duas estrelas brilhantes em quadra como jogadoras. Imperdível, para dizer o mínimo.

A juventude

Se duas estrelas se despedem, outras jovens promessas começam a se destacar para guardar o futuro da WNBA. Na W é possível acompanhar o desenvolvimento desde o ano de rookie de uma atleta até sua possível chegada a um estrelato - veja só Sabrina Ionescu como um bom exemplo.

O fato de a liga ter apenas 12 times - 14 até 2025, segundo a comissária geral Cathy Engelbert - e um elenco de no máximo 12 jogadoras por franquia, abre espaço para que jovens talentos se desenvolvam em quadra, recebendo mais responsabilidades e minutagens. Para esse ano, fica a recomendação de olhar atentamente para Rhyne Howard, a primeira escolha do Draft pelo Atlanta Dream, um time em reconstrução que provavelmente já vai para os playoffs comandado por uma novata.

Uma liga em desenvolvimento

Diferentemente da NBA com seus 75 anos, a WNBA existe há apenas 26. Em um comparativo de tempo está no começo, mas não por isso é "menos profissional" do que a liga vizinha - afinal ainda estamos falando do basquete de alto rendimento, que também se inicia no universitário, passa pelo Draft e culmina na liga profissional.

A principal diferença é que as atletas chegam à WNBA um pouco mais velhas do que os jogadores do masculino. A liga feminina tem uma regra que só permite que jogadoras estadunidenses sejam eletivas para o Draft com no mínimo 23 anos, ou já formadas na faculdade. Para jogadoras internacionais, a idade mínima é de 19 anos.

Acompanhar a WNBA é ver de perto o crescimento de uma liga ano após ano, que está em disparada desde 2020. Em 2021, a W teve um aumento de 74% de audiência - isso ainda se tratando de uma cobertura restrita, principalmente fora dos Estados Unidos. Com as promessas de expansão e as adaptações que a liga proporciona, é possível dizer que estamos vivenciando o começo da difusão da liga em uma era privilegiada pela tecnologia - que auxilia em quem promove o esporte e para quem o acompanha.

Um jogo diferente

Há quem ouse dizer que a WNBA não é tão boa quando a NBA por motivos técnicos - e porque não tem enterrada. A questão é que até tem, sim - Brittney Griner é a campeã, e nesse ano Awak Kuier e Sylvia Fowles entregaram enterradas na quadra -, mas com bem menos frequência por razões físicas, e também por não ser uma prioridade das atletas.

Dito isso, para acompanhar a WNBA é preciso saber que você assistirá a um jogo distinto ao da NBA. Estamos falando na mesma modalidade, mas de uma liga composta por mulheres: existem necessidades, prioridades e portes físicos completamente diferentes. E diferente não significa ruim, muito pelo contrário, pois presenciamos técnicas e habilidades de altíssimo refinamento em quadra - como o fade away de Diana Taurasi... belíssimo!

Curiosamente, o estilo da WNBA lembra mais o que muitos saudosistas da NBA reclamam que não tem no basquete moderno: muito jogo de garrafão, pivôs jogando de costas para o aro, um estilo mais lento e físico, e tudo isso (como já dito) em um nível extremo de habilidade e refinamento.

Becky Hammon

Para os fãs de NBA, principalmente os torcedores do San Antonio Spurs, Becky Hammon já é um nome bem difundido. Depois de oito anos como técnica assistente ao lado de Gregg Popovich, ela enfim está tendo sua primeira experiência como técnica principal. A franquia felizarda é o Las Vegas Aces, que atualmente ocupa o segundo lugar na tabela, vai disputar a Commissioner's Cup contra o Chicago Sky, e é um dos favoritos ao título da WNBA de 2022.

O Aces - antes coordenado por Bill Laimbeer, um dos famosos bad boys do Detroit Pistons - está em um ano de "foguete que não dá ré" sob o comando de Hammon, chegando a ter uma sequência de sete vitórias consecutivas em maio e quatro jogadoras eleitas All-Star, e é um motivo à parte para se acompanhar essa reta final de temporada.

Um bônus: o fator político

Para quem acredita que o basquete vai além das quadras e têm o seu lado político, a WNBA é um prato cheio. O Instituto de Diversidade e Ética nos Esportes (TIDES, em inglês) designou a nota A+ para a WNBA nos quesitos racial e de gênero. E não teria como ser diferente: a WNBA é uma liga em que 74.5% de suas atletas são mulheres negras, além de ter a inclusão de atletas da comunidade LGBTQ+ como premissa básica.

Repleta de jogadoras que se posicionam politicamente, é impossível esquecer da história de quando as atletas do Atlanta Dream fizeram campanha para eleger um senador democrata no lugar de uma republicana abertamente racista. Ou o fato de que a WNBA foi a primeira liga profissional a vacinar 99% das jogadoras contra a Covid-19. A vitória vai além dos placares, ela também está na sociedade como um todo.