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Lula, Tebet e Ciro reagem a mentiras de Bolsonaro sobre urnas eletrônicas

18.jul.22 - Bolsonaro fala a embaixadores sobre as urnas eletrônicas, no Palácio da Alvorada - Reprodução/TV Brasil
18.jul.22 - Bolsonaro fala a embaixadores sobre as urnas eletrônicas, no Palácio da Alvorada Imagem: Reprodução/TV Brasil

Do UOL, em São Paulo, e Colaboração para o UOL, em Brasília

18/07/2022 18h46Atualizada em 19/07/2022 18h22

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a senadora Simone Tebet (MDB), e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), pré-candidatos à Presidência da República, criticaram hoje o presidente Jair Bolsonaro (PL) por declarações contra o sistema eletrônico de votação em reunião com embaixadores.

Lula disse que Bolsonaro "conta mentiras contra nossa democracia". O petista lamentou que temas de interesse do Brasil, como "desenvolvimento ou combate à fome" não tenham sido debatidos.

"É uma pena que o Brasil não tenha um presidente que chame 50 embaixadores para falar sobre algo que interesse ao país", escreveu o ex-presidente no Twitter.

Em nota, Tebet diz esperar que os demais pré-candidatos manifestem no TSE sua confiança nas urnas eletrônicas para todos os brasileiros. Para a senadora, o Brasil "passa vergonha diante do mundo".

"O presidente convocou embaixadores e utilizou de meios oficiais e públicos para desacreditar mais uma vez o sistema eleitoral brasileiro. Reforço minha confiança na Justiça Eleitoral e no sistema de votação por urnas eletrônicas", disse a senadora.

Ciro disse que a reunião de hoje foi um "horrendo espetáculo". O pré-candidato do PDT defendeu a busca de "instrumentos legais" para retirar Bolsonaro do cargo e criticou o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), responsável por autorizar processos de impeachment.

"Não há mais paciência política nem armadura institucional capazes de suportar tamanho abuso. Muito menos complacência de se interpretar organização clara e deliberada de golpe como arroubos retóricos ou desatinos de um presidente desqualificado", afirmou, em uma sequencia de posts.

Os presidenciáveis André Janones (Avante), Felipe. D'Ávila (Novo) e Sofia Manzano (PCB) também se manifestaram. Janones disse que as falas de Bolsonaro sobre "fraudes nas eleições" são papo furado, e ironizou os votos em João Amoedo, à época candidato do Novo.

"Bolsonaro precisa ser demovido do cargo e jogado na lata de lixo da história", disse Janones.

D'Ávila ressaltou o fato de Bolsonaro ter contestado a validade de uma eleição que ele mesmo saiu vencedor. Também criticou o fato de o presidente questionar um sistema eleitoral que foi responsável por eleger seus familiares diversas vezes.

"Ironicamente, hoje ele disse não querer instabilidade no país", afirmou.

Já Sofia Manzano disse que a reunião faz parte de uma "agenda golpista", e destacou que a mensagem passada por Bolsonaro é de que ele "não aceitará uma derrota nas urnas".

"É preciso mobilizar trabalhadores, sindicatos, movimentos populares e a juventude para barrar qualquer tentativa de golpe", comentou.

Dilma Rousseff (PT) declarou que o encontro de Bolsonaro com os embaixadores é confissão que Bolsonaro "vai perder a eleição para Lula".

O que disse Bolsonaro no encontro

Aos embaixadores, Bolsonaro repetiu criticas que tem feito desde o ano passado ao sistema de votação. No início de sua fala, o presidente afirmou que basearia a apresentação em um inquérito da PF (Polícia Federal) sobre o suposto ataque hacker ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) durante as eleições de 2018. Trata-se do inquérito divulgado pelo presidente em 4 agosto de 2021, quando Bolsonaro leu trechos da investigação da PF.

"Segundo o TSE, os hackers ficaram por oito meses dentro do computador do TSE, com código-fonte, senhas —muito à vontade dentro do TSE. E [a Polícia Federal] diz, ao longo do inquérito, que eles poderiam alterar nome de candidatos, tirar voto de um e mandar para o outro", disse Bolsonaro.

Outro inquérito foi aberto pelo STF para investigar o vazamento da apuração, com Bolsonaro e o deputado bolsonarista Filipe Barros (PL-PR) entre os alvos. Hoje, o presidente ainda sugeriu que os ministros atuariam no TSE para barrar medidas de transparência. O objetivo, segundo Bolsonaro, seria eleger "o outro lado".

"Eu ando o Brasil todo, sou bem recebido em qualquer lugar. Ando no meio do povo. O outro lado, não. Sequer come no restaurante do hotel, porque não tem aceitação. Pessoas que devem favores a eles não querem um sistema eleitoral transparente. Pregam o tempo todo que, após anunciar o resultado das eleições, os chefes de Estado dos senhores devem reconhecer o resultado das eleições", disse.

Em nota, a Presidência da República disse que Bolsonaro manteve encontro hoje com chefes de missões diplomáticas no Brasil para intercâmbio de ideias sobre o processo eleitoral.

"O presidente sublinhou aos representantes do corpo diplomático que sua própria carreira política é um resultado do sistema democrático. Lembrou, nesse sentido, seu período de mais de 30 anos como representante eleito, em trajetória iniciada na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, passando pela Câmara dos Deputados e culminando com sua eleição à Presidência da República em 2018, com mais de 57 milhões de votos válidos, em campanha realizada com mínimo financiamento público", destacou.

Fachin reagiu

Após as declarações de Bolsonaro no Palácio da Alvorada, o presidente do TSE, Edson Fachin, afirmou que o chefe do Poder Executivo tenta, por meio de informações distorcidas, "diluir a República". Leia a nota:

"As entidades representativas como a OAB e a própria sociedade civil precisam fazer sua parte na garantia de que a democracia seja preservada. É importante a sociedade civil e o cidadão entenderem que esse tipo de desinformação, como a de hoje, pode continuar, uma vez que ao negacionismo não interessa as provas incontestes e os fatos. Portanto, precisamos nos unir e não aceitar sem questionarmos a razão de tanto ataque", disse o ministro.

Em nota, após os eventos, o TSE publicou um complicado de conteúdos sobre alguns dos pontos levantados por Jair Bolsonaro durante a reunião com os embaixadores."É falso que hacker teria atacado sistema de votação no 1º turno das Eleições Municipais de 2020", disse a corte eleitoral. "As investidas de hackers na época do pleito de 2020, com mais de 486 mil conexões por segundo, não obtiveram sucesso."

A corte também rebateu a afirmação do presidente de que as sugestões apresentadas pelas Forças Armadas no âmbito da Comissão de Transparência Eleitoral (CTE) tenham sido ignoradas ou rejeitadas.

"Mais de 70% das propostas da CTE foram acolhidas para as Eleições 2022. De 44 sugestões, 32 foram acolhidas, 11 ainda serão estudadas para o novo ciclo eleitoral (2023-2024) e apenas uma foi rejeitada", disse o TSE.

Sobre alegação repetida pelo presidente aos embaixadores de que urnas teriam completo automaticamente votos para presidente na eleição de 2018, o TSE disse que um vídeo que circula na internet com essa alegação é editado.

"Avaliação de peritos em edição comprova que o vídeo é falso. Verificam-se cortes no filme, que confirmam que houve montagem. Além disso, no momento em que o primeiro número é apertado, o teclado da urna não aparece por completo, o que sugere que outra pessoa teria digitado o restante do voto. É possível, ainda, constatar, no programa de edição, o ruído de dois cliques simultâneos, o que reforça essa tese", disse.