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Ausência de PSB em evento de Lula no RS incomoda campanha e petista reclama

A ex-presidente Dilma Roussef (PT), o ex-presidente Lula (PT) e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), em evento de pré-campanha em Porto Alegre - Ricardo Stuckert
A ex-presidente Dilma Roussef (PT), o ex-presidente Lula (PT) e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), em evento de pré-campanha em Porto Alegre Imagem: Ricardo Stuckert

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

01/06/2022 22h41

A falta de representantes do PSB gaúcho em um evento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Porto Alegre na noite de hoje (1º) incomodou a pré-campanha petista. A ausência foi tema da fala de Lula e de outras lideranças políticas presentes.

O PT esperava reunir os três pré-candidatos da aliança no palco do grande encontro, marcado para esta noite, mas o ex-deputado Beto Albuquerque (PSB) se recusou a ir. O racha da aliança entre os dois partidos nos estados é exatamente o que o núcleo da campanha pretende evitar. Houve até uma reunião na segunda-feira (30) em que se estabeleceu o prazo de duas semanas para resolver os impasses.

Na primeira viagem junto ao ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), a chapa chegou ao Rio Grande do Sul em meio a uma disputa interna pela candidatura estadual. No estado, além de Albuquerque, a aliança ainda conta com o deputado estadual Edegar Pretto (PT-RS) e o vereador porto-alegrense Pedro Ruas (PSOL), ambos presentes, como pré-candidatos ao governo gaúcho.

Desconfortável com a condução do evento, organizado pelo PT-RS, Albuquerque já havia anunciado que não compareceria. A falta irritou Lula e outras lideranças petistas, que deixaram o aborrecimento explícito em suas falas.

"Eu queria fazer um apelo para os militantes do partidos que estão nos apoiando: por favor, sentem na mesa, tomem até um aperitivo se quiserem, mas tentem chegar a uma solução. Para que a gente não possa fazer um comício e não estar do nosso lado, aqui, o candidato ou candidata a governador, o candidato ou candidata ao Senado ou candidato a vice. Fica uma coisa meio trouxa", reclamou Lula, na abertura de sua fala.

"Eu sei que vocês não falaram nada, mas tão pensando: 'Poxa, por que que não tem um governador já anunciado? Por que não faz um acordo?'. Então eu queria fazer um apelo de um irmão, de companheiro: não custa nada sentar mais uma vez na mesa, sentar um pouco mais e dar de presente a esse povo a unidade dos setores querem derrotar o Bolsonaro e o governo do estado do Rio Grande do Sul. É o mínimo que o povo espera", completou.

O impasse foi tema de falas de outras lideranças locais que também discursaram. "Nós temos a humildade como Partido dos Trabalhadores de apresentar o nome do Edegar, mas estamos pronto para sentar na mesa para construir a unidade para voltar para o Piratini [palácio do governo do RS]", afirmou o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), presidente estadual da sigla.

"O companheiro Lula fez um esforço hoje para chamar todos os partidos e correntes políticas para uma grande unidade para derrotar as forças de direita no Brasil. Nosso partido já disse mais de uma vez que não tem nenhuma visão fechada de conformação da nossa chapa, mas que nós temos que sentar, discutir e ver qual a melhor possibilidade do campo da esquerda, e daí chegarmos a um acordo. Cada partido tem o direito de defender o nome", afirmou o ex-governador gaúcho Tarso Genro (PT) depois de pregar por Pretto.

Alckmin, único representante do PSB no palco, não tocou no assunto e fez a fala mais curta da noite.

"Encerraram a conversa"

Albuquerque disse ao UOL, na última segunda (30), que o evento foi todo montado voltado ao PT e que seria uma sequência do evento em Porto Alegre do último sábado (28) que referendou o nome de Pretto junto a lideranças petistas.

"Isso significa que tomaram uma decisão de encerrar a conversa mesmo. Se confirmou seu candidato, não dialogou praticamente nada com a gente e organizou o evento sozinho, tá dado que temos de escolher outro caminho", afirmou Albuquerque. Sem Lula, ele ameaça fechar a coligação local com o PDT e dar palanque a Ciro Gomes (PDT). "Respeito muito as decisões do PT, [mas] se não querem estar comigo, também não vou estar com eles", declarou.

Albuquerque argumenta que, em um estado conservador como o Rio Grande do Sul, ele consegue atrair mais eleitores ao centro. O PT gaúcho, por sua vez, diz que segue dialogando com o PSB e espera chegar a uma resolução, mas, caso não tenha, poderia lançar os dois candidatos. Os petistas dizem que Pretto teria mais apoio dos outros cinco partidos da aliança nacional.

Na última pesquisa divulgada pelo Real Big Data, nesta semana, os dois aparecem empatados atrás do ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL) e do ex-governador Eduardo Leite (PSDB).

Impasses regionais

O Rio Grande do Sul é um dos cinco estados em que há impasses entre o PSB e o PT. Uma situação semelhante em Santa Catarina ajudou a cancelar a visita a Florianópolis, marcada para amanhã (2). No estado, a aliança tem os nomes do ex-deputado Décio Lima (PT) e do senador Dario Berger (PSB) como pré-candidatos ao governo.

É exatamente isso que a campanha nacional quer evitar. A avaliação é que as eleições estaduais reproduzem a polarização nacional entre Lula e Jair Bolsonaro (PL) e ter duas candidaturas à esquerda, de oposição ao atual presidente, enfraqueceria ambas.

Na reunião de segunda-feira, os presidentes partidários Gleisi Hoffmann (PT) e Carlos Siqueira (PSB) concordaram, junto a Lula e Alckmin, que a aliança deve ter só um candidato em todos os estados.

Gleisi chegou um dia antes a Porto Alegre exatamente para tratar dessas questões, mas, aparentemente, não houve solução até o momento.