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Tarcísio ao criticar câmeras: Preferem monitorar policial do que o bandido

Ex-ministro Tarcísio de Freitas é pré-candidato do PL ao governo de São Paulo - Ricardo Botelho/MInfra
Ex-ministro Tarcísio de Freitas é pré-candidato do PL ao governo de São Paulo Imagem: Ricardo Botelho/MInfra

Stella Borges

Do UOL, em São Paulo

30/05/2022 12h37Atualizada em 30/05/2022 16h46

O ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), pré-candidato ao governo de São Paulo apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), voltou, hoje, a fazer críticas ao uso de câmeras nas fardas dos policiais e disse que prefere investir em tornozeleiras eletrônicas para monitorar condenados.

A declaração foi dada durante um evento com representantes do varejo, na sede da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), no centro da capital paulista.

"Você tem 350 mil condenados que estão aí perambulando pelo estado de São Paulo com sentença transitada em julgado (quando não há mais possibilidade de recorrer) sem nenhum tipo de monitoramento e o índice de reincidência desses criminosos chega a quase 50%, ou seja, o criminoso volta a praticar o crime. Uma tornozeleira eletrônica custa 200 e poucos reais por mês e a câmera do policial R$ 690. Estão preferindo monitorar o policial do que o bandido. Isso me acende um alerta", disse.

"Será que não valia a pena um monitoramento muito pesado desse bandido que está solto e reincidindo, cometendo crimes?", questionou.

Em outro momento do debate, ao voltar ao tema, o pré-candidato disse estar preocupado "com a letalidade do bandido, não do policial" e, caso eleito, prometeu uma série de medidas voltadas às forças de segurança, com melhoria de salário, aumento do efetivo e cuidar da assistência jurídica e médica dos agentes.

Em participação na sabatina UOL/Folha no início deste mês, Tarcísio já havia dito não estar satisfeito com a implantação de câmeras nas fardas para a gravação de ações policiais e prometeu fazer mudanças nessa política de segurança pública.

"Para mim é um voto de desconfiança para o policial. Eu acredito no policial. Acredito naquele profissional que coloca uma farda e coloca a vida em risco para nos defender. Entre policial e criminoso, fico com policial. Você tira privacidade do policial e não permite que coisas que eram rotina aconteçam", afirmou na ocasião.

No entanto, reportagem publicada em abril pelo jornal Folha de S.Paulo mostra que o uso de câmeras pelos policiais aumenta a proteção da tropa. Nos últimos três anos (2019-2021), entre os meses de junho e outubro, as ocorrências de resistência às abordagens policiais caíram 32,7% nos batalhões que usam a tecnologia. Nas unidades que não a utilizam, a queda foi de 19,2%.

O governo do Rio de Janeiro deu início hoje à instalação de câmeras em uniformes de agentes de segurança da Polícia Militar.

A confirmação veio depois de uma operação policial ocorrida na última terça-feira (24) na Vila Cruzeiro, na zona norte da cidade do Rio. A ação, uma das mais letais da história do estado, terminou com pelo menos 26 mortos.

Elo com Bolsonaro não atrapalha, diz pré-candidato

Em declaração dada a jornalistas após a sabatina, o ex-ministro negou que sua ligação com o presidente atrapalhe sua campanha e possa limitar seu crescimento. Pesquisa Datafolha divulgada na semana passada mostrou que 54% dos entrevistados dizem não votar em Bolsonaro de jeito nenhum enquanto 48% afirmaram reprovar o governo.

"A ligação com o presidente no final das contas tem me ajudado, não tem limitado, não. É natural que haja alguma rejeição ao mandatário da vez. O Brasil enfrentou, como todo o mundo, crises muito graves, e as pessoas não conseguem fazer essa separação", argumentou, citando altos índices de inflação em outros países, além do Brasil.

O ministro disse que, ao longo da campanha, vai mostrar "as coisas boas que aconteceram" no governo.

"É uma forma de trabalhar essa questão do presidente, que eu acho que é um governo que entregou muito, tem muito acerto, muito mais acerto do que erro. E esses acertos foram fundamentais para suplantar um momento que para o Brasil e para o mundo era muito difícil", acrescentou.

Tarcísio afirmou ainda que "não há nenhum tipo de golpismo, fala golpista, risco de golpe" por parte de Bolsonaro, apesar de insinuações e ataques sem provas que o mandatário costuma fazer ao processo eleitoral. A pesquisa Datafolha também mostrou que 56% dizem que é preciso levar a sério as ameaças golpistas do chefe do Executivo.

"O Brasil segue seu curso, as instituições são fortes. Já tivemos 'n' demonstrações a esse respeito", argumentou ele.

O pré-candidato afirmou ter "certeza" de que o Brasil vai "passar por um processo eleitoral que vai seguir o seu curso normal".

"O presidente sempre jogou dentro das quatro linhas [da Constituição]. Ele é um produto da democracia e tem agido conforme as regras democráticas."

Desde que as urnas eletrônicas foram implementadas —parcialmente em 1996 e 1998, e integralmente a partir de 2000— nunca houve comprovação de fraude nas eleições brasileiras, mesmo quando os resultados foram contestados. A segurança da votação é constatada pelo TSE, pelo MPE (Ministério Público Eleitoral) e por estudos independentes.

Pesquisa realizada pelo Instituto Quaest, contratada pelo Banco Genial, e divulgada em 12 de maio mostra que Tarcísio aparece em terceiro lugar, com 10% das intenções de voto em um dos cenários testados, atrás de Fernando Haddad (PT) e Márcio França (PSB).