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Rachado, PSDB adia reunião para definir posicionamento na eleição

João Dória e Bruno Araújo - Renato Guariba/Futurpress/Folhapress
João Dória e Bruno Araújo Imagem: Renato Guariba/Futurpress/Folhapress

Tiago Minervino e Rafael Neves

Colaboração para o UOL, em Maceió, e do UOL, em Brasília

23/05/2022 18h00Atualizada em 23/05/2022 20h22

O presidente do PSDB, Bruno Araújo, anunciou hoje à tarde o adiamento da reunião da Executiva Nacional do partido, que estava marcada para amanhã. A decisão foi tomada pela cúpula da legenda após o ex-governador João Doria anunciar, mais cedo, sua desistência de concorrer à presidência da República nas eleições deste ano.

O adiamento do encontro, que ficou agendado para 2 de junho, reflete a divisão no PSDB sobre os rumos do partido na corrida presidencial. Uma ala, liderada pelo senador Aécio Neves, defende que a sigla lance candidatura própria, preferencialmente do ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite. Outro grupo, porém, avalia que os tucanos devem abraçar a campanha da senadora Simone Tebet (MDB-MS).

A reunião que ocorreria havia sido combinada na última terça entre os presidentes de PSDB, MDB e Cidadania, que negociam para lançar um candidato único da chamada terceira via. Na ocasião, ficou acertado que cada uma das siglas se reuniria amanhã, com seus respectivos dirigentes, para discutir o resultado de uma pesquisa que apontou Tebet como nome mais viável do que Doria.

"A reunião da executiva foi cancelada, pois seria uma reunião com a presença do ex-governador João Doria, no qual trataríamos das deliberações do encontro que tivemos com o Cidadania e o MDB nos últimos dias. Após o gesto de grandeza de Doria, esta reunião se tornou inócua naturalmente", afirmou o deputado Adolfo Viana (BA), líder do PSDB na Câmara.

Já o MDB anunciou que a Executiva do partido se reunirá amanhã às 16h, de forma virtual, para tratar da alianças na disputa

A ala que defende a candidatura própria é liderada pelo deputado federal Aécio Neves (MG), que já vinha questionando nas últimas semanas o apoio do partido a Tebet. Além de Leite, outro nome cotado internamente para ser o candidato tucano é o senador Tasso Jereissati (CE), que também é cotado como possível vice da emedebista.

Em nota divulgada na noite de hoje, Aécio disse lamentar o adiamento da reunião de manhã e voltou a defender a candidatura própria.

"O partido está em condições de analisar outros nomes da nossa legenda que possam liderar não só o PSDB mas também importantes setores do centro democrático", disse Aécio. "O PSDB nunca teve dono e não será agora, neste momento grave da vida nacional, que terá."

Outro grupo, este capitaneado por Bruno Araújo, é simpatizante à chapa encabeçada por Tebet. Para ele, ter um candidato tucano à presidência neste ano já é um "assunto vencido", pois, segundo destacou, "a aliança" com o Cidadania e o MDB é "absolutamente fundamental".

Negociações

Nos últimos meses, o PSDB, o MDB e o Cidadania se uniram para formar uma aliança em torno da chamada terceira via para se contrapor ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e ao presidente Jair Bolsonaro (PL), respectivamente primeiro e segundo colocado na disputa pelo Planalto.

Doria era apontado como o principal candidato deste grupo após a desistência do ex-juiz Sergio Moro. Na semana passada, todavia, o ex-governador foi colocado de lado, e o nome de Tebet foi alçado como cabeça de chapa. Hoje, o ex-governador anunciou que, "com o coração ferido", ele está fora da corrida presidencial, mas assegurou que permanece filiado ao PSDB.

Conforme o UOL mostrou, o clima interno no PSDB entre Doria e Bruno Araújo era de instabilidade, e o presidente da legenda já havia adiantado que não daria mais dinheiro para bancar a pré-campanha do tucano. Recentemente, aliás, o ex-senador Aloysio Nunes já havia antecipado que Doria estava "rifado" dentro do PSDB e sua candidatura "não era viável".

Antes de formalizar sua desistência, Doria chegou a dizer que estava "dialogando" sobre a possibilidade de sair como vice de Simone Tebet, pois, para ele, "o diálogo é a base da democracia". Ainda, o tucano também chegou a divulgar a análise de um cientista política sobre sua candidatura de ter maior potencial de voto que a da senadora, mas não foi o suficiente para reverter seu isolamento no PSDB.