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MDB culpa ACM Neto e líder na Câmara por União Brasil ter abandonado 3ª via

Luciano Bivar (PSL) e ACM Neto (DEM) no ato de fundação do União Brasil, em Brasília - Toninho Barbosa e Leandro Barros/Agência Liderança
Luciano Bivar (PSL) e ACM Neto (DEM) no ato de fundação do União Brasil, em Brasília Imagem: Toninho Barbosa e Leandro Barros/Agência Liderança

Weudson Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Brasília

05/05/2022 16h17

Presidente nacional do MDB, o deputado federal Baleia Rossi (SP) afirmou hoje que o secretário-geral do União Brasil, ACM Neto —pré-candidato ao governo da Bahia, e o líder da sigla na Câmara dos Deputados, Elmar Nascimento (BA), foram os responsáveis pelo desembarque do partido da chamada "terceira via", anunciado pelo presidenciável Luciano Bivar.

"Seria melhor se nós tivéssemos uma candidatura única. Mas o União Brasil passou por uma crise interna, em que uma ala queria fazer parte da terceira via, e apresentar uma candidatura única. No entanto, o grupo que chegou do DEM, ligado a ACM Neto, acabou bloqueando esse diálogo por interesses locais. Eles acabaram vetando a discussão dessa unidade", disse ao UOL.

Em contato com o UOL, os dois políticos baianos citados pelo dirigente do MDB reiteraram a posição oficial da sigla de que MDB e PSDB têm divisões internas que desestabilizam a harmonia do bloco. O grupo busca viabilidade para tentar derrotar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) na corrida pela Presidência da República neste ano.

"Não houve definição de um critério para escolha de um candidato comum. Com todo respeito ao deputado Baleia Rossi, eu não sei com base em quê ele levanta esse tipo de acusação, tendo em vista que meu foco de trabalho está voltado ao projeto de eleição na Bahia e que eu não participei das conversas envolvendo a terceira via, em Brasília", disse ACM Neto ao UOL.

Bolsonaro e Elmar Nascimento são aliados políticos - Reprodução/YouTube - Reprodução/YouTube
Bolsonaro com Elmar Nascimento (União-BA)
Imagem: Reprodução/YouTube

Entre integrantes de MDB, PSDB e Cidadania consultados pelo UOL, a avaliação é que Elmar Nascimento cedeu a uma demanda do governo federal para pressionar por uma candidatura independente no União Brasil. A medida seria uma estratégia para evitar que Bolsonaro perca votos para a "terceira via".

Segundo os interlocutores, o deputado teria sido alertado que perderia influência na Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) se o partido se mantivesse no bloco. O congressista tem indicado aliados para cargos de chefia na estatal vinculada ao MDR (Ministério do Desenvolvimento Regional).

O União Brasil viveu grandes dificuldades internas porque o partido é novo. Dentro do MDB, a candidatura de Simone Tebet está cada vez mais consolidada e a nossa militância está cada vez mais unida e entusiasmada
Baleia Rossi, presidente do MDB

Ao UOL, Elmar afirmou que ACM Neto "não teve nada a ver com a saída do União Brasil da terceira via", admitiu que participou ativamente das tratativas para que o partido seguisse um caminho independente e lembrou que o MDB apoia o petista Jerônimo Rodrigues na corrida pelo governo da Bahia

"Todos os diretórios e lideranças estaduais do União Brasil apoiam Bivar, algo que não ocorre com PSDB e MDB em relação aos candidatos deles. São esses partidos que têm problemas internos —não o União Brasil. Com relação à Codevasf, colegas recentemente renunciaram a três ministérios que chefiavam. Isso derruba a tese de que a saída da terceira via foi em nome de cargos em órgão do governo", disse.

Anunciado no fim da noite de ontem, a oficialização sobre o desembarque, que tem sido aventado há dias, foi deliberada em reunião realizada com lideranças da sigla. Agora, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) e o ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) disputam a cabeça do autointitulado "centro democrático".

Procurado pela reportagem, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, disse que não recebeu com surpresa o anúncio de saída do União Brasil do grupo, que deve lançar o nome para candidatura única em 18 de maio. "Game over. Agora é com João Doria", disse reservadamente outro tucano envolvido nas negociações entre os partidos.

O presidente do Cidadania, Roberto Freire, não havia se manifestado até a última atualização desta reportagem —o partido integra o bloco por meio de federação partidária com o PSDB.

União 'puro sangue' com ou sem Moro

No União Brasil, a avaliação é que o partido tem muitos quadros para ter uma chapa presidencial pura (com dois candidatos do mesmo partido). Segundo interlocutores próximos ao ex-ministro Sergio Moro ouvidos pelo UOL, uma composição com Bivar, atual pré-candidato ao Palácio do Planalto pela sigla, como vice do ex-juiz da Lava Jato seria "o ideal" por dois motivos.

Ele é o maior cabo eleitoral que temos no momento e o União Brasil precisa tanto de Moro quanto Moro precisa do União Brasil. Qualquer decisão que venha a ser tomada nesse sentido seria positiva
Integrante do União Brasil sobre Sergio Moro

O primeiro é o capital político do ex-juiz da Lava Jato, avaliado como "bom". O outro é a presumida popularidade do ex-juiz com uma parcela do eleitorado que abandonou o bolsonarismo, que poderia tornar eventual composição com Bivar mais robusta, na avaliação de dirigentes.

Resistente à ascensão do ex-juiz da Lava Jato a uma chapa presidencial, outro setor do União Brasil pressiona para que Moro aceite concorrer à Câmara dos Deputados ou ao Senado pela legenda. Nessa ala, a senadora Soraya Tronicke (MS) é candidata mais forte para disputar a eleição como vice de Bivar.

Sergio Moro em jantar com o presidente do União Brasil, Luciano Bivar - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Sergio Moro em jantar com o presidente do União Brasil, Luciano Bivar
Imagem: Reprodução/Twitter

"Ele está muito desgastado. O União Brasil quer colocar Moro no tamanho que eles acham que ele tem, que é para o Congresso Nacional. Avalia-se que Moro consegue cerca de 2 milhões de votos por São Paulo se concorrer a deputado federal, o que daria bastante cadeira ao partido", disse outro interlocutor próximo a Moro ao UOL.

O ex-juiz afirma agora que ainda não decidiu se quer ser deputado federal, senador ou presidente pela sigla. No entorno de Moro, a avaliação é que ele precisará ter um mandato no próximo ano, seja qual for. Em janeiro, Moro havia negado quaisquer planos de abandonar a tentativa de se eleger ao Palácio do Planalto: "Sou pré-candidato à Presidência, não ao Senado", disse à época.