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Lula: Brasil está precisando de 'alguém para salvar o país'

Mariana Durães e Luma Poletti

Do UOL, em São Paulo e Colaboração para o UOL, em Brasília

28/04/2022 22h08Atualizada em 29/04/2022 09h01

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse hoje que o Brasil "precisa de alguém para salvar o país". O petista participou do XV Congresso Constituinte da Autorreforma do PSB, que oficializou o apoio à sua pré-candidatura do petista ao Planalto, e comentou a formação da chapa com o ex-adversário Geraldo Alckmin (PSB).

"Isso [Lula e Alckmin juntos] chama-se política. Isso chama-se maturidade. Isso chama-se compromisso com esse país e compromisso com o povo brasileiro. (...) Nunca antes na história desse país, o Brasil precisou tanto de nós como ele está precisando agora", disse.

Não é uma eleição de um conjunto de pessoas que querem ganhar as eleições para governar o país. A eleição é mais do que isso. O resultado dessas eleições é que a sociedade brasileira está precisando de alguém para salvar o país, para cuidar do povo brasileiro, para reeditar a soberania deste país diante dos olhos do planeta terra
Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em evento do PSB

Além disso, Lula disse a Alckmin que eles precisam ganhar essa eleição para "reestabelecer a esperança do povo brasileiro": "Para fazer as pessoas perceberem que é possível sonhar e transformar esse sonho em realidade (...) É possível, e nós já conseguimos fazer isso".

Lula e Alckmin se abraçam em evento do PSB em Brasília - MATEUS BONOMI/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO - MATEUS BONOMI/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO
Lula e Alckmin se abraçam em evento do PSB em Brasília
Imagem: MATEUS BONOMI/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO

Lula disse a Alckmin que eles não terão tempo para brigar entre si porque vão precisar dedicar todo o tempo a "brigar com quem precisar brigar para recuperar a dignidade e qualidade de vida do brasileiro". O ex-presidente afirmou que ele e o ex-governador de São Paulo vão unir suas experiências para trabalhar e recuperar o país, "sem tempo de descansar".

Vamos ter que fazer em quatro anos o que seria necessário fazer em 40
Ex-presidente Lula, remonta ao lema do Plano de Metas de JK: "50 anos em 5"

O petista também falou sobre o anúncio da transposição do Rio São Francisco pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), como se fosse obra deles. Segundo Lula, as construções que começaram a ser executadas no seu governo, eram uma batalha desde os tempos de Dom Pedro II, sem sucesso.

O ex-presidente ainda ressaltou que seu governo provou que os problemas de fome e falta de água no Nordeste não eram "problemas da natureza" mas, sim, "falta de vergonha na cara das pessoas que governavam esse país".

Lula também citou a crise econômica, os preços dos combustíveis, e disse que o governo atual destruiu tudo que foi conquistado antes, incluindo o desenvolvimento da indústria. O petista frisou ao companheiro de chapa que os dois vão precisar "fazer um milagre para incentivar o empreendedorismo nesse país".

O ex-presidente chamou Bolsonaro de "capacho do Congresso", criticou a forma como reagiu à pandemia de covid-19 e ironizou a relação do atual chefe do Executivo com o cristianismo.

Nós nunca vimos esse homem visitar uma família que teve gente que morreu de covid. Esse homem nunca chorou. Ele negou a vacina o tempo inteiro. Ele abusa da bondade do povo brasileiro. E é mentiroso, porque fala que é evangélico. Olha a cara dele, ele não crê em Deus. Olha o que ele fala. Um cara que fez um filho disputar uma eleição com a mãe, para derrotar a mãe, não pode ser cristão. Acho que ele não foi tomar banho no rio Jordão, acho que ele se banhou no rio Pinheiros mesmo
Lula

Na saída do palco montado, Lula foi muito assediado pelo público e entrou em uma sala ao lado do salão de eventos. Políticos e apoiadores queriam entrar para acompanhar o ex-presidente, mas seguranças barraram a entrada, gerando um princípio de tumulto e bate boca. Seguranças tiveram que fazer um cordão de isolamento e repetir que ninguém mais iria entrar, fosse deputado, vereador, prefeito ou qualquer apoiador. Lula deixou o local sem falar com a imprensa.

Alckmin também fala em 'mudar o Brasil'

Geraldo Alckmin também fez críticas ao governo Bolsonaro, e destacou o negacionismo do Planalto durante a pandemia. O ex-governador de São Paulo também falou dos planos para um eventual governo com o petista: mudar o Brasil.

"O Brasil vive um momento triste, desemprego, carestia, tomate vendido por grama, sofrimento da população, morte. (...) É inaceitável que tenhamos um governo que despreza a vida humana. (...) Não se constrói um país assim. É com a paz, fruto de justiça, de oportunidades, de emprego, de renda, é isso que nos motiva", disse.

Ao discursar no evento, o ex-governador de São Paulo mandou um recado ao ex-presidente: "Nós nos defrontamos em eleições, disputamos o mesmo cargo, o fizemos dentro da regra democrática. Hoje, estamos unidos por um dever. A política é olhar o interesse público, o interesse das pessoas, é mudar o Brasil. Recuperarmos esse país", disse.

Alckmin também elogiou a militância do PSB e o trabalho do presidente Carlos Siqueira. O ex-governador agradeceu por terem aberto as portas do partido a ele: "Fico feliz de estar aqui com vocês, para somar esforços, para integrar a esse trabalho".

A aliança entre Lula e Alckmin, até poucos anos atrás improvável, vem sendo desenhada desde o segundo semestre de 2021. Mas a indicação do ex-governador e ex-adversário do petista foi entregue oficialmente pelo diretório nacional do PSB em um evento em São Paulo no dia 8 de abril, com a presença dos dois. No último dia 13, o diretório nacional do PT aprovou a coligação com o PSB e a indicação a vice na chapa presidencial. Na ocasião, além da aliança, também foi aprovada a federação com o PCdoB e o PV.

Alckmin também deixou o evento sem falar com a imprensa. Questionado sobre a graça (perdão) concedida por Bolsonaro ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), o ex-tucano apenas comentou que se trata de "um precedente grave e preocupante". O presidente concedeu o perdão ao parlamentar na semana passada, após sua condenação pelo STF a 8 anos e 9 meses de prisão em virtude de suas declarações contra membros da corte.

Disputa em São Paulo

Ao deixar o evento, o ex-governador de São Paulo Márcio França foi questionado sobre as negociações para a disputa do governo de São Paulo. Ele e o ex-prefeito petista Fernando Haddad são pré-candidatos ao cargo, mas, segundo França, a disputa não pode interferir na aliança da chapa presidencial.

"A gente não vai colocar o interesse de São Pulo acima do Brasil. O que está demonstrado é que a opção pelo Alckmin [por parte] do Lula foi de ampliar o seu espectro político", declarou o ex-governador.