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Feliciano: Se Lula continuar falando, Bolsonaro ganha no primeiro turno

Colaboração para o UOL, em São Paulo

11/04/2022 12h27Atualizada em 11/04/2022 18h31

Para o deputado federal Pastor Marco Feliciano (PL-SP), integrante da Frente Parlamentar Evangélica, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é o maior "cabo eleitoral" que o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem para ganhar as eleições presidenciais de 2022.

"Se continuarem deixando o Lula falar, vamos levar em primeiro turno", disse Feliciano ao UOL Entrevista, programa do Canal UOL, citando as falas do ex-presidente sobre o aborto.

Na semana passada, Lula deu declarações afirmando que, embora seja contra o aborto, a prática deve ser tratada primordialmente como uma "questão de saúde pública", e não criminal, defendendo o direito de "todo mundo" ter acesso à prática.

"Mesmo eu sendo contra o aborto, ele existe. Quando a pessoa tem poder aquisitivo bom, ela busca tratamento bom e até vai para o exterior fazer o procedimento. Mas e a pessoa pobre?", afirmou à Rádio Jangadeiro Band News, de Fortaleza.

Para Feliciano, "qualquer marinheiro de primeira viagem sabe que foi um erro" Lula ter falado nesse tom sobre o procedimento. "São bandeiras que nós, evangélicos tradicionais, não abraçamos", afirmou na entrevista. "Aborto é assassinato de indefesos", disse, em outro momento.

Oposição a um eventual governo do PT

Embora se diga confiante em uma vitória eleitoral de Bolsonaro contra Lula, Feliciano disse que, caso o petista seja eleito, integrará o bloco de oposição a partir de 2023 e não será aliado de um governo do PT, ao contrário do que fez no início do governo de Dilma Rousseff (PT).

"Eu não vendo a minha ideologia e não abro mão do que eu penso", disse Feliciano ao UOL, afirmando que só apoiou Dilma em 2010 após surgirem notícias na imprensa de que a então mulher de José Serra (PSDB), adversário da petista, teria se submetido ao procedimento.

"A Dilma disse que era contra o aborto, chamou pastores e padres e assinou um documento dizendo: 'no meu governo, o aborto não será aprovado", relembrou o pastor.

Na época, Feliciano montou uma CID (Central de Inteligência Digital) — assim chamada por ele — para rebater ataques, boatos e críticas que visavam enfraquecer o apoio da petista entre os evangélicos.

'Horrível', diz sobre áudio de Milton Ribeiro

Para Feliciano, o áudio, revelado pelo jornal Folha de S.Paulo, que aponta Milton Ribeiro, hoje ex-ministro da Educação, priorizando, a pedido de Bolsonaro, atender prefeitos "amigos" de dois pastores é "horrível" por si só, por mais que investigações concluam não ter havido algum crime.

Segundo o deputado, parlamentares evangélicos vinham enfrentando dificuldades para agendar encontros com Milton Ribeiro, e o áudio revelado, apontando dois pastores desconhecidos do meio político em Brasília e sem cargos públicos negociando em nome da pasta, causou estranheza.

"Se não houve crime, ele deixou uma grande dúvida", acrescentou. Para Feliciano, as autoridades devem investigar o caso e punir os culpados, "não importando a religião".

Atualmente, além do TCU (Tribunal de Contas da União), a PF (Polícia Federal) também investiga o caso. Ribeiro já concedeu depoimento ao órgão, ocasião em que confirmou o pedido de Bolsonaro, mas negou a existência de "tratamento privilegiado".

CPI do MEC: contra

Ao UOL, Feliciano também disse ser contra a criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) no Senado para investigar o caso do ex-ministro Milton Ribeiro e dos dois pastores, avaliando que já bastam as investigações que correm no TCU e na PF.

"Uma CPI nesse momento vai ser apenas usada como um palanque eleitoral", afirmou, acrescentando ainda que "há vários fatos que precisam ser elucidados".

"O inconsciente coletivo já tem um certo preconceito contra evangélicos. E, quando a mídia começa a falar em favorecimentos (a pastores no ministério), isso fica muito ruim para nós, que somos a maior base de apoio ao presidente Jair Bolsonaro nesse momento", pontuou.

No momento, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) está buscando angariar assinaturas para conseguir protocolar um pedido de criação da CPI do MEC, após um colega parlamentar retirar o nome do documento.