Revolta no Níger é golpe ditatorial ou revolução anticolonialista?
Uma junta militar tomou o poder no Níger em julho passado após depor Mohamed Bazoum, o primeiro presidente eleito democraticamente no país em 2020. Neste episódio do podcast Papo Preto, Stela Diogo conversa com o advogado César Augusto e com o cientista social Thiago Soares para entender se o que aconteceu no Niger foi golpe ou revolução.
O Níger foi colônia da França de 1922 até a sua independência, em 1960. O país fazia parte do chamado império colonial francês e, após a independência, se tornou uma nação soberana, mas marcada por conflitos e interesses políticos. Desde a independência, viveu quatro golpes de estado e Mohamed Bazoum foi o primeiro presidente eleito democraticamente, em 2020.
César Augusto diz que boa parte do que acontece nos países francófanos da África é por conta ainda da influência francesa. "A França tem uma série de mecanismos que continua a utilizar para manter o seu poder. São países com índice de desenvolvimento humano baixíssimo, mas que são ricos em minerais e recursos energéticos que fazem parte da estrutura francesa de transporte e energia" (a partir de 04:13 do arquivo acima).
Para ele, é ainda muito precipitado interpretar a deposição do presidente como uma revolução. "Até agora, não vimos como a junta militar vai se posicionar, se haverá mudança da estrutura do Estado" (a partir de 09:52 do arquivo acima).
Para Thiago Soares, o que houve no Níver foi um golpe dentro da própria estrutura do poder. E ele chama a atenção para o que vem a seguir. "Esses golpes militares, para que estejam relacionados a valores democráticos, sempre se colocam como um governo de transição, prometendo uma nova constituinte e depois voltar ao regime democrático. No Sudão, a junta militar não devolveu o poder à sociedade civil e virou uma ditadura, é um risco que se corre" (a partir de 11:06 do arquivo acima).
Papo Preto é um podcast produzido pelo Alma Preta, uma agência de jornalismo com temáticas sociais, em parceria com o UOL Plural, um projeto colaborativo entre o UOL, coletivos e veículos independentes. Novos episódios vão ao ar todas as quartas-feiras.
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