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'Não serei megaempresário': ex-seleção, jogador leva educação a quilombolas

O zagueiro Adaílton jogou no Bahia, Santos e em times da França; além da seleção sub-20 - Site oficial do Bahia
O zagueiro Adaílton jogou no Bahia, Santos e em times da França; além da seleção sub-20 Imagem: Site oficial do Bahia

Ed Rodrigues

Colaboração para Ecoa, no Recife (PE)

23/10/2022 06h00

Erguer a taça do Mundial Sub-20, em 2003, ou mudar a vida de crianças quilombolas na Bahia? É difícil definir a maior emoção da vida de Adaílton José dos Santos Filho. É que o ex-jogador da seleção brasileira de futebol Adaílton Filho fez um golaço em prol de comunidades quilombolas. Um projeto social criado por ele na Bahia tem levado educação e infraestrutura para moradores da comunidade Olaria, que fica na cidade Entre Rios, litoral norte baiano.

O trabalho atualmente atende 60 crianças e 15 jovens de 45 famílias. Desde a sua criação, há 11 anos, a Associação Superação, além do apoio escolar, oferece atividades esportivas e culturais, dá treinamento sobre noções de agricultura e já beneficiou mais de 200 famílias da comunidade.

A Ecoa, Adaílton explica que o principal objetivo do projeto é proporcionar condições de vida mais dignas para os cidadãos da região quilombola. As ações, segundo ele, são tentativas de gerar oportunidades e de potencializar as minorias segregadas.

São crianças, adolescentes e jovens filhos de agricultores com potência de vida e à espera de oportunidade para mostrar seus talentos, que acabam ofuscados pela desigualdade social, Adaílton Filho, ex-jogador de futebol e criador da Associação Superação

Desde 2011, a Associação Superação leva a esses moradores infraestrutura e viabiliza a crianças e jovens acesso à educação. Quando Adaílton chegou lá, não havia água nas torneiras e as famílias tinham que buscar em um rio. O projeto furou um poço artesiano e implantou tubulações para levar água até as casas. "O local não tinha saneamento básico, nem energia elétrica, por exemplo. Eles não faziam todas as refeições do dia, não iam à escola e tinham vários outros direitos negligenciados", diz o ex-jogador.

Superação - Divulgação - Divulgação
Ação fornece a 60 crianças e 15 jovens reforço escolar e atividades esportivas e culturais
Imagem: Divulgação

Com água encanada, agricultura loca melhorou e isso ajudou a colocar mais comida na mesas. A energia elétrica também era precária. Adaílton lembra que apenas um fio fazia o abastecimento de toda comunidade. Foi preciso intervir junto às autoridades para regularizar a oferta de energia.

Revisitando o próprio passado

Quando decidiu montar um projeto social, o ex-jogador voltou ao passado e se viu na mesma situação dos meninos que hoje ajuda. Ele é do bairro São Tomé de Paripe, uma área de vulnerabilidade social no subúrbio de Salvador.

"Pela forte ligação com meu estado, quis beneficiar meus conterrâneos baianos. Criei a associação com meu primo, Jadson Ribeiro, com a intenção de auxiliar as famílias daquela região. Minhas maiores inspirações são a baiana Irmã Dulce e um médico espírita que se dedicou à caridade, chamado Bezerra de Menezes"

Adaílton Filho, ex-jogador de futebol e criador da Associação Superação

Todo o trabalho é feito de forma voluntária por profissionais especializados em diferentes áreas do esporte e da educação. O projeto tem uma sede dentro da comunidade, um espaço que dispõe de duas salas equipadas com quadro negro, mesas, cadeiras, retroprojetor e som. Lá, as crianças têm aulas de reforço e contato com ações culturais no contraturno escolar.

Além disso, há outro espaço onde acontecem aulas de jiu-jitsu. Ainda está em fase de acabamento uma cozinha industrial, que servirá para capacitar os pais de alunos.

Investimento privado e apadrinhamento

O ex-atleta é sócio de uma empresa incorporadora de onde vêm os recursos para manter as atividades. Ele explica que há um acordo que determina que, obrigatoriamente, 50% da arrecadação da companhia vá para a atuação social.

Superação - Divulgação - Divulgação
As crianças são filhas de agricultores com potência de vida e à espera de oportunidade
Imagem: Divulgação

"Meu papel não é ser um megaempresário. Prefiro ser um empreendedor social que faz negócio para investir na sociedade. Outra fonte de recursos é o Faça Florescer, que é um apadrinhamento para garantir alimentação, educação, atividades no contraturno escolar e assistência familiar a bolsistas de até 18 anos. Por esse meio, um padrinho faz uma contribuição mensal de R$ 250, com o prazo mínimo de um ano", continua.

Adaílton adianta que o projeto acabou de assinar uma parceria com Sesi e Senai com o objetivo de oferecer educação integral para crianças e adolescentes, para que os assistidos possam ter ferramentas para o crescimento efetivo na vida. No primeiro momento, o desejo é impactar os estados da Bahia e Pernambuco.

O agricultor Antônio Oliveira, 46, é morador da comunidade Olaria e conhece bem as ações do projeto. Ele recorda que a principal mudança na vida das pessoas que moram lá foi o abastecimento d'água.

"Ter acesso à água foi a coisa mais satisfatória para todas as famílias. A parte educativa tem somado de forma muito positiva também. A educação é a base de tudo, hoje as crianças têm a oportunidade de ter aula de informática, português, matemática e esportes. Tem sido de grande proveito para a comunidade", destaca.

Atleta no Brasil e no mundo

Antes da Associação Superação, Adaílton Filho fazia parte de outros projetos sociais que ajudavam pessoas em condição de rua a terem um lar e buscarem tratamentos para a dependência de drogas. Mas foi a sua carreira como jogador de futebol que lhe trouxe mais notoriedade.

Superação - Divulgação - Divulgação
Adaílton (de branco, à dir.) quer dar a meninos e meninas oportunidades que ele não teve
Imagem: Divulgação

Jogou profissionalmente por 15 anos na posição de zagueiro. Começou a carreira nas divisões de base do Esporte Clube Vitória, e por lá se profissionalizou em 2002. Dois anos depois, carreira internacional. Embarcou para o Rennes, na França, e só retornou ao Brasil em 2007, para jogar no Santos.

"Voltei para a Europa em 2010, como atleta do time suíço Sion, e depois fui emprestado para o chinês HenanJianye, depois ao FC Chiasso, também da Suíça. Também passei pelo Bahia, em 2014, e pelos norte-americanos Chicago Fire, de 2015 a 2016, e Miami FC, de 2016 a 2017, quando encerrei minha carreira. Fui campeão Mundial Sub-20 vestindo a camisa verde e amarela da Seleção Brasileira em 2003, e também conquistei duas Copas da Suíça, três Campeonatos Baianos, uma Copa do Nordeste e um Campeonato Paulista", relembra.

Para saber mais sobre a Associação Superação, acesse o perfil do projeto no Instagram.