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Craque fora de campo: Como Vini Jr quer melhorar a educação no Brasil

Vini Jr durante Brasil x Chile pelas Eliminatórias - Lucas Figueiredo/CBF
Vini Jr durante Brasil x Chile pelas Eliminatórias Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Camilla Freitas

De Ecoa, em São Paulo (SP)

28/08/2022 06h00

A base vem forte. É assim que o instituto do jogador do Real Madrid, Vinícius Júnior, quer a educação pública no Brasil. Junto a uma equipe de cerca de 12 pessoas, ele criou uma tecnologia que une futebol e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para auxiliar escolas públicas do ensino fundamental.

Lançado em julho de 2021, o Instituto Vini Jr. tem como objetivo criar uma parceria com escolas do quinto ao nono ano para fazer do ensino algo mais divertido e lúdico para as crianças, sem deixar o aprendizado de lado.

"Queremos ser parceiros da escola pública, dos professores, queremos que as aulas sejam mais atrativas e que os professores façam uso de uma linguagem que faça mais sentido para os alunos", conta Victor Rodrigues Ladeira, diretor executivo do instituto.

Quero impactar quando entro na partida e pelas coisas que eu faço fora de campo também. Quero impactar em curto, médio e longo prazo, para que daqui a uns anos as pessoas possam falar que o Vinicius foi importante para a melhoria da vida das crianças, para a educação e por ter menos analfabetos no nosso país.

Vinicius Junior, jogador do Real Madrid

Vinícius Jr., do Real Madrid, comemora o título após a partida entre Liverpool e Real Madrid pela Final da UEFA - John Patrick Fletcher/ActionPlus/DiaEsportivo/Folhapress - John Patrick Fletcher/ActionPlus/DiaEsportivo/Folhapress
Vinícius Jr., do Real Madrid, comemora o título após a partida entre Liverpool e Real Madrid pela Final da UEFA
Imagem: John Patrick Fletcher/ActionPlus/DiaEsportivo/Folhapress

Quando Vini Jr. deu seu chute inicial

"Sempre sonho em realizar os sonhos da minha família e o sonho da minha família era esse. O sonho das pessoas que estão do meu lado era ajudar aqueles que precisam", contou a Ecoa.

A família do jogador, sempre que pôde, ajudou a comunidade onde cresceu o atacante do Real Madrid em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Eram festas beneficentes, entrega de alimento, sempre que podia, a família ajudava. Quando Vini assinou seu primeiro contrato como jogador de futebol profissional do Flamengo, a família passou a intensificar suas ações. A ida do atleta para a Espanha, contudo, fez crescer o desejo de fazer algo maior, ainda mais estruturado.

A educação surgiu como a pauta que mais mobilizou Vini e seus familiares. Era com ela que queriam trabalhar. "Optamos por atuar nas escolas públicas para diminuir as diferenças entre o ensino público e privado que foi aumentado pela pandemia", diz Victor.

"Lá no começo, quando conversávamos sobre como atuar dentro da educação, em uma conversa com o Vini, pedimos para ele trazer algumas memórias sobre a escola, e ele, sincerão, disse que a escola era muito chata, mas que ele gostava de educação física", conta o diretor do Instituto. Unir esporte e educação, então, foi natural.

"Quando o Vini fala da educação física, isso é um retrato do que muitas vezes encontramos nas escolas, a educação física como o único momento em que as crianças podem ser crianças, o momento em que elas podem correr, podem interagir umas com as outras. E a gente queria que a escola falasse mais a língua da juventude usando esse poder que o esporte tem", explica Victor Lacerda.

Instituto usa futebol em prol da educação

O Instituto Vini Jr., então, chega às escolas trazendo a tecnologia como ferramenta e o futebol como linguagem. Isso quer dizer que, por meio de um aplicativo para smartphone chamado Centro de Tecnologia Base, os alunos conseguem aprender português, matemática, ciências da natureza e humanas sempre tendo o futebol como referência.

"As crianças já chegam na escola fazendo conta do campeonato, quantos pontos o time fez, quantos pontos já tem, qual o saldo de gols. Elas já têm, ali, um raciocínio matemático dentro dessa conversa. E quando a gente traz isso para as aulas, elas conseguem se engajar mais porque isso faz mais sentido para elas", diz Victor.

Além disso, o conteúdo do aplicativo é gamificado, ou seja, dividido em competições. "Cada ano escolar corresponde a uma temporada e dentro de cada temporada tem as ligas, que são os bimestres, e dentro de cada liga tem as partidas que vão de oitavas de final até a grande final", explica o diretor do Instituto Vini Jr.

Para que a escola tenha condições técnicas de usar o CT Base, o Instituto oferece uma infraestrutura básica com uma sala reformada com equipamentos como tablets, smartv, laptops e smartphones. Também é oferecido internet em toda a estrutura escolar. Além do cuidado com o ambiente físico, o Instituto oferece treinamento para os professores para que eles possam fazer uso do aplicativo.

"Na capacitação de professores também falamos sobre o uso de novas tecnologias no ambiente escolar, sobre a própria BNCC que muitos professores não conhecem", explica Victor.

Vini Jr. no Instituto que criou para promover educação de qualidade - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Vini Jr. no Instituto que criou para promover educação de qualidade
Imagem: Reprodução/Instagram

Onde encontrar o CT Base

A primeira escola a receber a tecnologia do Instituto Vini Jr. foi a Escola Municipal Paulo Reglus Neves Freire, onde o próprio jogador estudou em São Gonçalo, Rio de Janeiro, quando criança. O modelo também está sendo aplicado na Escola Municipal Doutor Afonso Pena Júnior, em Rio Preto, Minas Gerais.

"Em São Gonçalo a gente tem uma rede de 115 escolas, em Rio Preto tem uma rede de duas escolas municipais. São realidades culturais, de repertório, bem diferentes. Quisemos experimentar em um ambiente mais urbano, mas em um ambiente mais rural também", conta Victor Ladeira.

A ideia do instituto, contudo, é expandir. Mesquita, Paracambi e Rio de Janeiro são mais três cidades interessadas em aderir ao CT Base em suas escolas. A expansão para outras séries do ensino fundamental também é um desejo, o que demanda, contudo, mudar um pouco a tecnologia do app, já que os interesses de adolescentes são diferentes dos das crianças.

"Também temos um sonho muito grande, e ano que vem vamos começar a colocá-lo em prática, que é a construção de uma escola, em São Gonçalo, para crianças de quatro a seis anos. Queremos mandar para o ensino público fundamental crianças mais bem preparadas", conta o diretor do Instituto Vini Jr.

A gente quer criar um grande cidadão, que possa escolher o seu futuro, que possa estudar, passar mais tempo na escola ou estudar de casa para ter um futuro brilhante, porque é isso que a gente quer pro Brasil e para o mundo.
Vinicius Junior, jogador do Real Madrid