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Moçambicano cria sistema que desinfecta água com ajuda do sol no RS

O pesquisador moçambicano Beni Chaúque - Divvulgação
O pesquisador moçambicano Beni Chaúque Imagem: Divvulgação

Luciano Nagel

Colaboração para Ecoa, em Porto Alegre

09/09/2022 06h00

O doutorando no Programa de Pós-Graduação em Microbiologia Agrícola e do Ambiente na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em Porto Alegre, Beni Chaúque, de 35 anos, criou o protótipo de um sistema, enquanto realizava seu curso de mestrado na universidade gaúcha, que é capaz de desinfectar a água por iluminação solar, tornando-a potável.

O projeto, que agora está em processo de reconhecimento de patente, elimina bactérias e cistos de protozoários em até 90 segundos. Segundo o autor, que é natural de Moçambique, no sudeste do continente Africano, a técnica de desinfecção solar da água é habitual no meio científico e conhecida pela sigla em inglês ''SODIS'' (solar water disinfection).

"O processo tradicional consiste em colocar um pouco de água não tratada em uma garrafa pet, que deve ficar sob o sol por, pelo menos, seis horas para matar todos os microrganismos e tornar a água novamente potável para ingestão. Tudo isso, graças ao calor e às radiações solares. Em dias nublados, com 50% de neblina, seria necessário expor a garrafa por ao menos dois dias para se ter 1,5 litro de água potável", explicou o cientista que mora e estuda em Porto Alegre há cinco anos.

Modelo torna o processo mais rápido

No entanto, o volume de água obtido pela técnica já conhecida é relativamente pequeno, repetitivo e cansativo. Além do mais, em regiões de pobreza nem sempre há um número grande de garrafas ou recipientes disponíveis para a coleta da água.

Já o sistema criado por Beni tem um grande diferencial, pois aquece e esteriliza a água com os raios solares UV (refletidos por um conjunto de espelhos), trabalhando de maneira constante, por meio de uma bomba movida a energia solar, que possibilita alcançar um volume de água muito superior.

Sistema que desinfecta água por iluminação solar - Divulgação - Divulgação
Sistema purifica água por iluminação solar
Imagem: Divulgação

''O promissor protótipo poderá ser instalado no local de captação da água, ou seja, numa represa por exemplo, sem necessidade de energia elétrica. A SODIS em fluxo contínuo permite disponibilizar de 1 a 5 litros de água potável por minuto. ''Em 24h, teríamos, em média, 7 mil litros de água potável''.

Outra vantagem é o custo do equipamento, que é relativamente baixo. ''Se produzirmos numa escala comercial, poderá custar, em média, R$ 2.500 e ajudar as pequenas comunidades menos favorecidas, que não têm acesso a água potável, tanto no Brasil como em Moçambique. No protótipo do teste, por exemplo, tratando 360 litros de água por dia, a estrutura pode custar R$ 1.800, com uma durabilidade média de até seis anos'', disse o pesquisador.

Como é o protótipo?

O modelo desenvolvido por Beni consiste em dois tanques, um para aquecimento e outro para resfriamento da água não potável, além de uma tubulação pela qual a água passa, recebendo os raios solares UV. Também há um jogo de espelhos que direciona esses raios para os tubos onde a água está localizada.

Protótipo - Divulgação - Divulgação
Modelo desenvolvido por pesquisador permite disponibilizar de 1 a 5 litros de água potável por minuto
Imagem: Divulgação

''Como o sistema permanece em fluxo constante, a água vai passando em alta velocidade pelas tubulações e naturalmente vai sendo esterilizada. Assim o trabalho consegue ser feito em grandes volumes'', explicou o cientista.

O novo equipamento para desinfectar água foi criado por Beni há pouco mais de um ano e meio e os próximos passos, além de patentear o produto, é elaborar um design mais arrojado, com novas configurações, para maximizar a quantidade de água produzida. O próximo objetivo, segundo ele, é para que o sistema produza de 800 a 1.000 litros de água por dia, em períodos de sol.

O pesquisador vai realizar novas experiências a partir do próximo verão, como, por exemplo, no tratamento de águas residuais, que são lançadas diretamente no esgoto e não recebem o tratamento sanitário. ''Nós queremos degradar com o equipamento resíduos de fármacos e agrotóxicos despejados na água, que atualmente é uma preocupação global'', finalizou o cientista.