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Garrafa pet vira grãos: como funciona o processo de reciclagem de plásticos

Rodrigo Lara

Colaboração para Tilt

13/08/2020 04h00

Imagine a situação hipotética: 70 anos após a chegada da colonização portuguesa no Brasil —ou seja, em meados de 1570— um deles jogou um utensílio plástico no chão. É bem provável que ainda hoje houvesse vestígios desse objeto.

O exemplo serve para explicar que o plástico leva em torno de 450 anos para se decompor na natureza. Além disso, sua fabricação utiliza recursos não renováveis, como petróleo. São duas características que, por si só, já justificam a reciclagem desse tipo de material. Mas você sabe como isso é feito?

Há três tipos de reciclagem de plásticos: a mecânica, a química e a energética. Dentre elas, a mecânica é a mais comum e é a que falaremos aqui.

Após a instalação responsável pela reciclagem receber o material, há uma separação por tipos de plástico. Uma vez separado, os plásticos passam por um processo de limpeza.

A intenção aqui é evitar que resíduos atrapalhem os processos a seguir. Até para facilitar esse processo, a recomendação é que os consumidores passem uma água em objetos plásticos antes de jogá-los no lixo reciclável.

Depois que os plásticos estão limpos, eles são triturados e enviados para as máquinas extrusoras, onde são fundidos e reprocessados. Nesse ponto, eles podem receber aditivos para manter ou melhorar suas propriedades e características originais.

A partir daí, eles são transformados em pequenas partículas chamadas pellets, que podem ser de PE (polietileno), PP (polipropileno), PET (polietileno tereftalato), PS (poliestireno), PA (poliamida), PC (policarbonato) entre outros. Esses pellets serão usados como matéria-prima para a fabricação de novos plásticos.

Todo tipo de plástico pode ser reciclado?

Não. Os plásticos que podem ser reciclados são chamados de termoplásticos. Mas há a categoria dos termofixos, que são materiais que se consolidam sob ação de calor no primeiro processamento e não podem ser transformados a partir daí. Geralmente têm vida útil muito longa, como o baquelite usado em cabos de panela, o poliuretano de espumas de bancos e o BMC, que é um material usado em refletores dos faróis de automóveis.

Quando descartados, esses materiais vão para reciclagem energética, servindo de combustível para altos-fornos e incineração controlada. Ainda assim, no caso de espumas, existem estudos para incorporar seu pó triturado na fabricação de novos blocos de espuma.

O que atrapalha ou inviabiliza a reciclagem de um plástico?

A presença de adesivos, rótulos e sujidades dificultam o processo de reciclagem. Nesse caso, processos paralelos como o de limpeza acabam sendo dificultados, o que pode tornar a reciclagem pouco viável financeiramente. De qualquer forma, além do processo de reciclagem já prever a limpeza do material antes do processamento, as máquinas extrusoras têm recursos para filtrar possíveis impurezas.

Todo plástico demora centenas de anos para se degradar?

Não. Ainda que seja o caso da maioria, há uma pequena parcela de plásticos biodegradáveis, caso do PHB (polihidroxibutirato) e do PLA (poliácido láctico). O problema é que eles ainda têm custos mais altos de produção e são mais limitados em termos de aplicações. Outra solução é usar aditivos na construção dos plásticos para transformá-los em oxibiodegradáveis. Estes estariam passíveis, portanto, de sofrer oxidação e ficar muito menos tempo na natureza.

É verdade que reciclar consome mais energia do que fabricar um plástico?

Não. Especialmente porque um plástico feito "do zero" envolve processos petroquímicos, o que por si só já demanda reatores complexos e, claro, muito mais energia do que a simples reciclagem. Além disso, a reciclagem é um processo mais simples e rápido.

Fontes:

Elen Beatriz Acordi Vasques Pacheco, professora e vice-coordenadora do Programa de Engenharia Ambiental da Escola de Química e da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Poli-UFRJ)
Clodoaldo Lazareti, professor de Engenharia de Produção do Instituto Mauá de Tecnologia

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