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Balé ajuda a reduzir índice de gravidez entre jovens em comunidade no Rio

Ballet Manguinhos atendeu mais de 3 mil alunos em 10 anos - Ana Maria Silva/ Divulgação
Ballet Manguinhos atendeu mais de 3 mil alunos em 10 anos Imagem: Ana Maria Silva/ Divulgação

Carmen Lúcia

Colaboração para Ecoa, do Rio de Janeiro

21/06/2022 06h00

Para muitas pessoas, a imagem de meninas usando sapatilhas, collant, saia transpassada e coque não combinaria com um cenário marcado por violência, pobreza e falta de oportunidades. Mas jovens como Ana Beatriz Falcão e Gloria Lila provam que esse pensamento está completamente equivocado. Elas são ex-alunas do Ballet Manguinhos, projeto que oferece de forma gratuita acesso à cultura, educação e esporte aos moradores da comunidade no Rio de Janeiro.

A influência do projeto foi fundamental na vida de Gloria, 20 anos, que fez da dança a sua profissão. "Fiz aulas no Ballet Manguinhos por quatro anos e foi de extrema importância porque a Daiana Ferreira, fundadora do projeto, criou um espaço gratuito de estudo de balé clássico para crianças, jovens e adultos, proporcionando contato com a arte e a cultura, aprendizado e troca de saberes, tudo bem próximo da casa dos estudantes", explica.

Ela acredita que a dança é capaz de mudar o mundo. "A dança permite que a gente se expresse e sinta a expressão do outro. É um espaço de troca com as pessoas muito grande. Acho que ela pode mudar o mundo através da sensibilização das pessoas. Tive a experiência de dançar e me apresentar em diferentes espaços, criar laços afetivos e compartilhar conhecimento."

Para Ana Beatriz, hoje também com 20 anos, o Ballet Manguinhos permite que muitas meninas e meninos mudem a sua forma de pensar e busquem oportunidades melhores. "Lembro que eu gostava muito dos vários lugares que conhecemos, como o Teatro Municipal do Rio de Janeiro, os museus. Fiz aulas por cinco anos e elas me influenciaram muito culturalmente, me fizeram pensar de uma forma diferente, almejando um futuro melhor, me encorajando a ir atrás dos meus sonhos", relata a jovem.

Ballet - Ana Maria Silva/ Divulgação - Ana Maria Silva/ Divulgação
O Ballet Manguinhos é uma iniciativa de Daiana Ferreira, professora de educação física e bailarina moradora da região que morreu em 2021
Imagem: Ana Maria Silva/ Divulgação

Professora queria tirar crianças do ócio

Fundado em 2012, o Ballet Manguinhos é uma iniciativa de Daiana Ferreira, professora de educação física e bailarina moradora de Manguinhos. "Ela percebeu que naquela comunidade não havia nada que tirasse as crianças e jovens da ociosidade. Por isso, começou a dar aulas de balé em um espaço cedido por uma igreja e nos primeiros dias já havia 70 nomes na lista de espera", conta Carine Lopes, presidente do projeto.

A morte de Daiana, em janeiro de 2021, por covid-19, foi um baque para todos os envolvidos, mas seu desejo de transformar vidas, fomentando a cidadania e buscando diversidade e inclusão, deixou um legado que não vai ser esquecido.

Ballet - Ana Maria Silva/ Divulgação - Ana Maria Silva/ Divulgação
Ballet Manguinhos: 98% do público atendido é composto por meninas e mulheres
Imagem: Ana Maria Silva/ Divulgação

"Daiana não era só fundadora e idealizadora do Ballet Manguinhos, ela era também a mente brilhante por trás das ideias. Nosso maior desafio era continuar um sonho de um projeto cultural e artístico sem perder a essência dela. Foi uma decisão difícil seguir em frente sem ela —tudo aqui inspirava a Daiana", comenta Carine.

Seguimos em frente porque entendemos que o Ballet vai além das aulas de dança. Ele tem um papel social de impacto transformador na vida de todos os alunos que chegam até nós. Não podíamos deixar a nossa dor nos parar e deixar órfãos mais de 410 alunos e um território inteiro.

Carine Lopes, presidente do Ballet Manguinhos

Atualmente, o Ballet Manguinhos funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 21h. São oferecidas aulas duas vezes por semana para cada turma de balé clássico, balé contemporâneo, jazz e circo. Também há o projeto de esporte voltado à defesa pessoal e empoderamento feminino chamado Respeita as Mina e cursos de informática na sede, localizada em Higienópolis, zona norte do Rio de Janeiro.

"Nestes 10 anos, atendemos cerca de 3 mil alunos e vimos diminuir consideravelmente a taxa de gravidez na adolescência, por exemplo. Hoje, ela está em 1% na nossa região. Quebramos o ciclo cultural que diz que as jovens de Manguinhos precisam engravidar com 14, 15 anos de idade, e isso é muito significativo, já que 98% do público que atendemos são meninas e mulheres", ressalta Carine.

Ballet - Evgeny Makarov/ Divulgação - Evgeny Makarov/ Divulgação
Atualmente, o espaço funciona com recursos de campanhas como a Adote uma Bailarina e doações diretas via Pix
Imagem: Evgeny Makarov/ Divulgação

Mas, para seguir de portas abertas, o Ballet Manguinhos precisa de ajuda. Atualmente, o espaço funciona com recursos de campanhas como a Adote uma Bailarina e doações diretas via Pix.

"Na campanha, qualquer pessoa pode adotar um(a) bailarino(a) e custear a manutenção desse aluno na escola. A doação é feita pela plataforma Doare (doa.re/bm). Estamos sem patrocinador para o ano corrente de 2022 e, por isso, o nosso maior esforço hoje tem sido a captação de recursos para os nossos projetos aprovados nas leis de incentivo à cultura", finaliza Carine.

Como ajudar?

Quem quiser e puder ajudar, basta entrar em contato pelos números (21) 97003-9770 / (21) 97003-4027 ou pelo email ballet.manguinhos@gmail.com.