Segunda-feira, 27/01/2025 | | | |  | Luana Ozemela, CSO e Vice-Presidente de Impacto e Sustentabilidade do iFood | TBS Estúdio |
| CSO do iFood leva a Davos desafios e soluções das plataformas digitais | |  | Mariana Sgarioni |
| A agenda ESG parece estar no meio de um maremoto - com direito a baldes consecutivos de água fria na cabeça desde a semana passada, com a posse do presidente Donald Trump, nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, ocorreu o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, com um discurso totalmente contrário ao de Trump. A edição deste ano teve como tema Collaboration for the Intelligent Age (Colaboração para uma Era Inteligente), focando em questões como transição energética, inclusão social e economia verde. Luana Ozemela, CSO e Vice-Presidente de Impacto e Sustentabilidade do iFood, foi uma das principais representantes do setor privado brasileiro no evento e conversou com esta coluna diretamente de Davos. Além das iniciativas diretas do iFood, Luana analisou um pouco os ânimos das lideranças que estavam na Suíça neste momento, além de destrinchar discussões sobre a nova "gig economy", economia baseada em trabalhadores autônomos ou temporários. A executiva também chamou a atenção para a necessidade de investimentos em novas tecnologias e para a regulação do trabalho nas plataformas digitais, uma modalidade ainda recente, que mexe nos ponteiros do PIB, mas que, no momento, necessita de um olhar do governo para que não haja distorções. "Precisamos desenhar as regras do jogo, de forma que a renda gerada seja mantida e, ao mesmo tempo, haja proteções mínimas às pessoas". *** Ecoa: Como estava o clima das conversas em Davos durante esta semana um tanto instável para a agenda ESG? Luana Ozemela: Foi um clima de incerteza. Acho que a posse do presidente Trump reativou novos debates de protecionismo, de impacto no comércio internacional, que até o momento vivia uma estabilidade e que agora passa a ser questionada. Estas discussões sobre protecionismo vão contra todo o objetivo do Fórum Econômico Mundial deste ano, que era a operação global para temas como mudanças climáticas, redução das desigualdades sociais, a questão da transformação digital. Por outro lado, o que eu observei dos líderes foi também um otimismo cauteloso. O mundo já iniciou a transição energética, por exemplo, faz tempo. A gente já está num outro momento na história da humanidade, então é muito tarde para voltar atrás. Ecoa: De que forma esta onda bate nas empresas? Luana Ozemela: Independentemente das preocupações, é importante dizer que, no Brasil, existem empresas onde o ESG é um consenso e que lideram com responsabilidade, mesmo em contextos que podem ser desafiadores ou incertos. No Fórum, falei sobre o nosso compromisso em encontrar soluções que sejam eficazes, mas também escaláveis. Ecoa: Poderia dar um exemplo? Luana Ozemela: O exemplo que eu dei em Davos foi a questão da mobilidade e a migração para a eletromobilidade. Temos no Brasil mais de 32 milhões de motocicletas a gasolina circulando, a maior frota do hemisfério. Se a gente está falando em eletrificar esta frota, será preciso muito investimento. E também encontrar soluções. É nisso que estamos investindo. Os modais elétricos geram dois dividendos: o primeiro é a redução de emissões. O segundo é o aumento do ganho dos trabalhadores porque, hoje, o combustível representa 70% do custo do entregador. A eletromobilidade vai além de uma ferramenta de redução de emissões: ela é uma ferramenta de inclusão social. Ecoa: Quais as iniciativas de vocês para que a eletromobilidade ganhe escala? Luana Ozemela: No momento, investimos em parcerias com empresas que alugam esses modais para os entregadores. Negociamos um preço mais acessível. Estamos discutindo também a criação de uma plataforma de eletromobilidade colaborativa em que outras empresas também vão poder somar esforços. Seria uma aliança em prol do fomento à escala deste ecossistema. Ecoa: Pela primeira vez, o Fórum Econômico Mundial trouxe um painel exclusivamente dedicado à "gig economy". Qual a contribuição do iFood para esta pauta? Luana Ozemela: Participamos deste painel inédito. Para você ter uma ideia: no ano passado, 3 bilhões de pessoas fizeram compras online no mundo. Só a entrega de comida, o food delivery, representou US$ 150 bilhões de dólares em receita para as empresas. Isso vem crescendo exponencialmente a cada ano. Trata-se de um fenômeno recente, mas que vai virar padrão de consumo no mundo. O iFood está entre as 10 maiores do mundo do setor, com uma força de trabalho que soma 2 milhões de pessoas no Brasil. São pessoas historicamente marginalizadas e excluídas que chegam aqui. Ecoa: Por que? Luana Ozemela: Pelas baixas barreiras de entrada. Aqui não precisa entrar em processo de seleção nem mandar currículo. Você só instala o aplicativo e no dia seguinte começa a ganhar dinheiro. Então representamos a única esperança de muita gente. Por isso que, para nós, é tão importante discutir proteções para essa população. Precisamos entender que 90% das pessoas trabalham na plataforma menos de 90 horas por mês e isso significa que não estão cobertas pela previdência. Ecoa: Alguns críticos apontam que as plataformas teriam trazido uma precarização do trabalho e da vida dos trabalhadores. Luana Ozemela: As plataformas trouxeram oportunidades econômicas para muita gente. Não só para entregadores, mas também para os restaurantes. Entre os 400 mil cadastrados no iFood, 80% são microempreendedores. Estes pequenos estabelecimentos, muitas vezes familiares, não têm como arcar com os custos de um entregador exclusivo e precisam deste serviço. As plataformas agregam valor na vida das pessoas, mas temos que entender que elas surgiram há menos de 20 anos. Com o crescimento, vieram as externalidades, e o governo também está trabalhando com elas agora. É preciso haver uma regulação. A gente quer poder ajudar a desenhar as regras deste jogo. |
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| Publicidade |  | |  | Liderança da aldeia Shanenawa, no Acre, pinta o rosto de uma turista durante ritual na floresta amazônica | Vivalá Tursmo Sustentável |
| Etnoturismo: férias alternativas com imersão em terras indígenas | | Em tempos de férias de verão, há quem prefira lugares que não estão lotados de gente - e que não são os clássicos cartões postais instagramáveis. O etnoturismo é uma modalidade que vem chamando a atenção de viajantes não convencionais, que desejam mergulhar na natureza e nas origens dos povos ancestrais do Brasil, fazendo passeios de imersão na vida de comunidades indígenas. Os turistas participam, entre outras atividades, de trilhas na floresta, oficinas de tecelagem, colheitas de legumes, cerimônias com medicinas tradicionais, banhos de argila, passeios de canoa, aulas de culinária e rituais espirituais. Tudo com muita história. "Precisamos apresentar o Brasil para os brasileiros. Existem áreas que a maioria das pessoas não têm ideia que existem. Então, primeiro, é preciso quebrar estas barreiras", afirma Daniel Cabrera, CEO da Vivalá e do Instituto Sumaúma. A Vivalá atua com turismo sustentável em 27 unidades de conservação do Brasil e promove, além do etnoturismo, o que chama de turismo de base comunitária, levando visitantes a conhecer também outros povos tradicionais do país, como ribeirinhos, caiçaras, sertanejos e quilombolas. Nos pacotes de etnoturismo, o protagonismo é direto das comunidades: são os próprios indígenas que lideram as atividades dos roteiros e que são responsáveis por todas as narrativas. "É importante que eles contem sua história, definam como querem receber as pessoas, o que desejam oferecer, de que forma vão mostrar sua espiritualidade. Isso enaltece sua cultura, reforça o orgulho que devem sentir das suas origens", observa Cabrera. Nos últimos 10 anos, a Vivalá já embarcou mais de 5 mil viajantes no país e atua hoje em conjunto com cerca de 1500 famílias. Foram mais de R$ 5 milhões injetados em economias locais por meio da compra de serviços de base comunitária e do consumo direto dos turistas. "Temos uma população indígena que foi dizimada no Brasil - eram 6 milhões e hoje são cerca de 1 milhão. São povos riquíssimos em cultura e saberes. Porém, têm uma renda muito baixa e seguem buscando alternativas para melhorar sua qualidade de vida e manter seus costumes tradicionais, sem precisar migrar para as cidades grandes onde a cultura acaba se perdendo. O turismo é uma das possibilidades de renda para eles", diz Cabrera. O Instituto Samaúma, braço social da Vivalá, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) da ONU, realizou, no final do ano passado, um estudo de seis meses para entender como o etnoturismo vem sendo feito no país e quais as suas necessidades. Um dos resultados foi o Guia de Boas Práticas, lançado durante um evento na Aldeia Shanenawa, dentro d o território indígena Katukina-Kaxinawá, no Acre. O Guia investiga o cenário do etnoturismo na Amazônia Legal, especificamente de cinco estados, sendo o Acre, Amazonas, Pará, Roraima e Mato Grosso, além de identificar as melhores práticas e explorar técnicas de economia de baixo impacto e carbono reduzido que envolvam as comunidades tradicionais. "Um dos resultados do estudo que mais chamam a atenção é a vontade das comunidades de manterem sua cultura. Os indígenas não querem abrir mão da sua comida, sua religião, seus costumes. Eles apenas não querem viver na pobreza e na precariedade: desejam autonomia para gerar negócios e novas possibilidades", completa Cabrera. |
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|  | Protótipo do Volitan, o "barco voador": primeiro veículo de efeito solo adaptado para o território amazônico | Divulgação/Aeroriver |
| "Barcos voadores": tecnologia para o transporte na região amazônica | | Imagine um barco que corre tanto, mas tanto, que não flutua na água. Ele chega a voar - só que bem baixinho, sem alcançar as nuvens. Esta espécie de nave saída de filmes de ficção científica já está em construção e promete revolucionar o transporte na região amazônica, onde as distâncias são longas e a principal via de acesso são os rios. A inovação vem da startup Aeroriver, que criou o Volitan, primeiro veículo de efeito solo adaptado para o território amazônico. Inventado por engenheiros que se uniram no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), o "barco voador", por se locomover muito perto da água - cerca de 2 a 5 metros -, consegue um efeito aerodinâmico que o torna rápido e 40% mais eficiente em combustível se comparado a um avião comum. Ele chega a uma velocidade de 150 quilômetros por hora, sendo que um barco comum da região atinge no máximo 30 quilômetros por hora. "Apesar de toda a importância da Amazônia, um problema nunca foi solucionado: a falta de logística adequada para o transporte de pessoas e mercadorias. Isso faz com que vários municípios no interior estejam isolados. Isso é um entrave para o desenvolvimento socioeconômico da região", diz Lucas Guimarães, cofundador e CEO da Aeroriver, um dos criadores do Volitan. O cenário dos transportes na Amazônia é, de fato, preocupante. Atualmente as viagens podem ser feitas de duas maneiras: barco ou avião. O barco costuma ir muito devagar - é possível demorar dias para chegar em determinadas cidades, o que dificulta diversos tipos de transporte, como o de alimentos perecíveis, por exemplo. E o avião, além de poucas rotas disponíveis, apresenta um alto custo. O barco voador pretende aliar a rapidez de um avião a valores mais acessíveis - além de menos emissão de carbono. A empresa apresenta uma comparação interessante. Para fazer o trecho de Manaus a Parintins, duas importantes cidades do Amazonas, por via fluvial, um barco demora 18 horas para percorrer 437 km. A passagem custa cerca de R$ 140 e a emissão de carbono é de 42 kg por passageiro. De avião, o tempo é de 1 hora e 10 minutos; custa R$ 675, e são 58 kg de CO2 por passageiro. Agora vamos ao Volitan: o mesmo percurso duraria 3 horas, a um custo de R$ 300, e 36 kg de CO2 por passageiro. O veículo terá a capacidade de transporte de 10 passageiros ou o equivalente a 1.200 quilos de carga e decolagem e pouso serão feitos nos rios. A Aeroriver foi destaque do Web Summit do ano passado, principal evento de tecnologia e inovação do mundo, e participa do Programa Inova Amazônia, do Sebrae, uma estratégia focada em fomentar, apoiar e desenvolver negócios inovadores alinhados à bioeconomia local. No total, o programa já investiu R$ 23 milhões em aceleração. Em fase final de testes, o Volitan tem um custo aproximado de R$ 3 milhões e deve entrar em operação ainda neste ano. A Aeroriver já recebeu investimentos de grandes varejistas da região, além de outras 16 cartas de intenção de compra. |
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| | A tirania do mérito: O que aconteceu com o bem comum? Autor: Michael J. Sandel Editora: Civilização Brasileira Um dos primeiros discursos de Donald Trump em seu retorno ao poder foi a favor da derrubada de programas de diversidade e inclusão nas empresas, enaltecendo o que chama de "mérito". Com uma linguagem acessível e profunda, este livro livro faz uma análise reveladora da perversa injustiça de nossa sociedade, movida, em parte, por uma ingênua e míope confiança nesta noção de mérito, que esconde privilégios e vantagens, além de reforçar o abismo da desigualdade social. |
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