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LamborgUno: sem grana, dono dribla crise e pandemia para avançar projeto

Alessandro Reis

Do UOL, em São Paulo (SP)

01/08/2020 04h00

Em abril passado, UOL Carros contou a história de Edimar Goulart, um rapaz de 30 anos que começou na própria casa, em 2017, o projeto de transformação do seu Fiat Mille 2003 em um carro inspirado no Lamborghini Aventador.

Mesmo ganhando cerca de um salário mínimo e sem formação específica, ele criou sozinho o LamborgUno a partir de peças usadas, improvisações e muita criatividade.

Na ocasião, ele contou que, por conta da escassez de recursos e da falta de um patrocínio, tocava o projeto da forma que podia, durante os fins de semana e nos intervalos do trabalho em uma empresa de comunicação visual em Rondonópolis (MT), onde Edimar mora com a mãe.

LamborGuno, rebatizado de 'Projeto X', hoje tem carroceria com chapas de aço; motor é o 1.0 original Imagem: Reprodução

Até hoje o carro não está concluído, mas sua construção nunca parou.

Mesmo após o início da pandemia do coronavírus, que o deixou momentaneamente sem emprego, Goulart passou a se concentrar na parte interna. Com o pouco dinheiro que tem sobrado e peças doadas por comerciantes locais, o sonho se mantém firme e forte.

"Com o coronavírus, as coisas ficaram muito ruins. Eu estava registrado na empresa, tudo certo, mas atrasaram meu pagamento por vários dias. Não tinha nem previsão de quando iria receber", conta.

Edimar Goulart relata que teve de ir atrás de outro serviço e chegou a trabalhar durante um período como diarista para levar comida para a mesa de casa.

"Depois de um tempo, consegui receber e voltei para a mesma empresa. Agora melhorou. É assim mesmo, a gente passa por altos e baixos e vai vencendo".

Edimar Goulart agora se dedica ao interior do carro, que ganhou bancos doados de veludo Imagem: Reprodução

Nos últimos meses, ele se dedicou à cabine do LamborgUno, que ganhou bancos doados de veludo, provenientes de um Chevrolet antigo.

Goulart também trabalhou para dar forma ao painel de instrumentos, feito com chapas de PVC expandido, bem como o revestimento das portas - que, por sinal, são abertas para cima, como em um Lamborghini.

Ele também tem se dedicado aos vidros das portas, que agora abrem e fecham, com acionamento manual, por manivela.

"Nesses meses, gastei cerca de R$ 1 mil do meu próprio bolso no carro. Ainda estou desenvolvendo, tenho de mexer na estrutura, soldar algumas partes metálicas e me concentrar no mecanismo das portas. Vou instalar rolamentos para deixar tudo bem firme".

Trabalhando muito e recebendo pouco no emprego, praticamente todo o período de folga ele tem dedicado ao LamborgUno: "Sem descanso".

Sem plano de internet no celular, Edimar tem recorrido ao Wi-Fi da casa da irmã ou do trabalho para compartilhar as fotos e vídeos que tem feito do seu veículo.

Depois de ganhar uma máquina de solda no início do projeto, bem como algumas peças e um pouco de dinheiro de alguns simpatizantes, o apoio tem sido cada vez mais raro, diz.

R$ 30 mil

Goulart ainda não concluiu projeto; carro precisa ser legalizado no Detran (Departamento Estadual de Trânsito) Imagem: Arquivo pessoal

Em abril, quando conversou pela primeira vez com a reportagem de UOL Carros, Goulart estimava ter investido até então cerca de R$ 30 mil no projeto - o que é bastante dinheiro para as suas condições financeiras.

"Sempre fui fã de carros esportivos. Quando comprei o Mille, achei o visual muito quadrado. Decidi construir aerofólio e spoiler usando as ferramentas disponíveis, pois na época trabalhava como pedreiro", relembra.

O que inicialmente seria apenas uma customização caseira acabou crescendo: o rapaz decidiu alterar toda a carroceria, deixando-a mais baixa e chamativa.

As primeiras peças do "LamborgUno" foram feitas com massa plástica, isopor e cantoneiras de metal. Com o passar do tempo, a construção foi aprimorada.

"Quebrava muito fácil. Então comecei a refazer a carroceria com estrutura metálica de aço, soldada ao chassi. A superfície também foi refeita com chapas de aço, complementada com fibra de vidro", relata Goulart.

Notificação da Lamborghini

Em 2018, Goulart recebeu convite de uma empresa e conheceu o Aventador de verdade Imagem: Arquivo pessoal

Ele também conta que alterou o desenho original após receber, neste ano, uma notificação extrajudicial de um escritório de advocacia de São Paulo, representando a Lamborghini.

"Dizia que o nome Lamborghini e o desenho do carro eram propriedade industrial. Removi o logotipo da marca e alterei a lateral para ficar diferente. Também usei elementos de outros esportivos e não tive acesso a nenhum molde do Aventador original", diz o auxiliar, que enfatiza não ter planos de vender nem lucrar com o carro de alguma maneira.

Também "rebatizou" o cupê artesanal de "Projeto X".

Edimar Goulart se diz autodidata e ainda não concluiu o Ensino Médio - as aulas do curso supletivo foram temporariamente suspensas por conta da pandemia.

"Aprendo muito fácil, só de ver. Já trabalhei como mecânico de bicicletas, mas nunca tinha mexido em um carro antes. Vi tutoriais na internet e aprendi e desmontar o motor. Faço tudo no 'olhômetro'", explica.

Projeto nasceu com esboço no quadro negro da escola; Goulart ainda não concluiu Ensino Médio Imagem: Arquivo pessoal

Goulart pretende um dia se formar como designer automotivo ou engenheiro.

Para montar a carroceria baixa típica de um Lamborghini, Goulart teve de mexer nas colunas dianteiras e promover outras modificações estruturais - o "LamborgUno" ainda não foi legalizado para rodar em vias públicas.

"Já procurei um despachante para saber como tirar o documento de protótipo experimental e resolver outras pendências de IPVA e licenciamento".

"Quando tudo normalizar, quero terminar os estudos", complementa.

Em 2018, a repercussão do projeto rendeu o convite de uma loja de carros importados localizada em Cuiabá (MT) para conhecer o Aventador "legítimo" - ele levou seu "LamborgUno" na ocasião para a capital mato-grossense.

"Fiquei boquiaberto, nunca tinha visto um esportivo na vida".

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