Recall como do Renault Kwid assusta até quem não pegou o carro; há riscos?
Kwid: falhas nos freios e na mangueira de combustível o colocam no sexto maior recall do ano
Imagem: Divulgação
Fernando Miragaya, Eugênio Augusto Brito
Do UOL, no Rio (RJ) e em São Paulo (SP)
30/11/2017 04h00
UOL Carros ouviu donos, interessados e especialistas para listar problemas e benefícios de um "mega recall". E ainda listamos as maiores convocações do ano
Ter o carro envolvido em um recall desanima e assusta qualquer cliente. O que dizer então quando a convocação envolve um carro que acaba de sair da loja para sua garagem ou, ainda pior, um dos modelos mais aguardados e vendidos do ano? Após o anúncio de recall total do Renault Kwid, UOL Carros procurou quem já havia comprado, quem ainda iria comprar e também especialistas para tentar entender dramas e riscos.
Mas acalme-se: recall é um procedimento necessário, é bom e salutar que exista (economicamente falando, já que representa a preservação do direito do consumidor de ter um produto funcionando de acordo com o prometido, ainda que tenha ocorrido uma falha construtiva) e o caso do Kwid nem é o mais complicado do país.
Listamos por ordem decrescente de carros envolvidos em chamados (do maior para o menor número de unidades) este ano: o caso do Kwid ocupa a sexta posição entre as maiores ações de recall do ano no Brasil (34.838 unidades). É grave mais pelo dano de imagem produtiva: envolve todas as unidades do Kwid feitas no Brasil, inclusive aquelas produzidas antes da venda começar, ainda nas fases de teste e mais milhares de unidades de Sandero e Duster. Todos estão sujeitos a duas falhas: trincas em partes dos freios, bem como falhas no duto de combustível no compartimento do motor, o que pode levar a incêndio.
Mas está bem longe, por exemplo, das quase 600 mil unidades de modelos da Toyota (Corolla, Etios, Etios Sedan, Hilux e SW4) com problemas de airbag, maior convocação do ano aqui no Brasil.
Quando você acabou de retirar o veículo após meses na lista de espera, ou ainda vai apanhar o modelo na loja, a ducha de água fria de um recall total pode ficar congelante. E a sucessão de notícias de diferentes vertentes -- com informações que "levantam" ou "derrubam" o carro -- certamente deixa clientes ainda mais perdidos:
Em seguida, despencou no ranking de entregas (parte por "problemas de produção", parte por seguir "ciclo normal de entregas fora do 'hype' inicial", nas diferentes justificativas da Renault), com o "mega recall" em seguida.
Vale ou não vale ter um Kwid? É seguro ou não é seguro andar com um?
Contatamos o servidor público Hudson Campos, morador de Águas Claras (DF), que encomendou o hatch em 25 de setembro e deve pegar o carro apenas na primeira quinzena de dezembro. Ele confessa: já pensou em desfazer o negócio, mas ainda aguarda.
"Tenho acompanhado as notícias e confesso que nesse período de espera já pensei em desistir da compra. Pretendo esperar um pouco mais, porém, se não sair até até a segunda semana de dezembro, vou atrás de outro carro", afirmou Campos.
Marília de Melo ficou com o Kwid, mas abriu mão de pegar estrada até fazer o recall, já agendado
Imagem: Arquivo pessoalPé no freio
Já a analista de conteúdo Marília Correia de Melo garante que nem cogitou devolver o Kwid. Moradora de São Paulo, ela já está com seu Kwid Intense na garagem desde o dia 13 de novembro. "Recall pode acontecer com qualquer carro, não me incomodo”, garantiu.
Ela acabou de agendar o serviço, que ficará para 8 de dezembro, e admite ter mudado o uso com o carro até fazer o conserto. "Não estou preocupada, mas tenho sido mais cautelosa. E não vou pegar estrada até fazer o reparo", afirmou.
Em Belo Horizonte, Ivan Vilhena de Vasconcelos também evita sair com o Kwid. Ele fez a pré-compra da versão Intense em setembro e nem precisou esperar muito pela entrega -- foram 15 dias. "Provavelmente teve alguma desistência e me ligaram", acredita o servidor público.
Problema foi que comprou o carro para dar de presente à filha Isabela, que está em processo para tirar a CNH. "Evidentemente não gostei de comprar um carro que já vem com problema na mangueira de combustível e nos freios. E a questão do freio é bem mais grave, pois diz respeito à segurança do carro", desabafou.
Como tem outro veículo, Vasconcelos deixou o carro na garagem até conseguir fazer o reparo e presentear a filha. "Na semana passada liguei e fiquei 15 minutos no atendimento automático da concessionária, mas a ligação caiu e não tive paciência de ficar na fila de novo. Estou esperando manifestação da Renault e, enquanto isso, parei de usar o Kwid, pois estou preocupado. Afinal, é um carro que será presente".
Ivan Vasconcelos: Kwid era presente para a filha, mas segue na garagem
Imagem: Arquivo pessoal
Direitos do comprador
Como dissemos, o recall está previsto no Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90 do CDC), que diz que as empresas não podem colocar à venda no mercado produtos ou serviços que apresentem alto grau de risco à saúde ou segurança das pessoas. E que isso é um bom mecanismo de proteção ao comprador e de maturidade do mercado. Mas o reparo precisa ser rápido e sem estresse para o comprador.
"Caso o fornecedor venha a ter conhecimento da existência de defeito após a inserção desses produtos ou serviços no mercado, é sua obrigação comunicar o fato imediatamente às autoridades e aos consumidores", declarou o Ministério da Justiça em comunicação.
Há ainda um alerta feito pela Proteste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor), observando que os compradores que já efetuaram a compra do veículo, mas ainda não o retiraram, exijam que a entrega só seja feita após o reparo. Além disso, em caso de transferência de propriedade do carro, já é obrigatório que conste da documentação do veículo a passagem pelo recalls registrados.
Ou seja: só receba o Kwid zero-quilômetro (ou qualquer carro novo envolvido em convocação) se a loja provar que ele já passou pelo recall. Isso vale para Hudson Campos, para Ivan Vasconcelos e para você que também comprou, mas ainda não recebeu seu Kwid. Mas também vale em caso de semi-novos e usados: confira se o recall para aquele modelo foi atendido pelo proprietário atual.
Ainda segundo a Proteste, os clientes não devem tolerar prazos muito longos para execução do serviço. Qualquer problema deve ser levado aos órgãos de proteção, caso da própria Proteste, do Procon e dos Juizados Especiais.
"Caso os consumidores tenham qualquer problema para trocarem a peça, deverão entrar em contato com os órgãos de proteção ao consumidor, considerando que não são raros os casos em que o fabricante não tem a peça disponível ou ocorre uma demora muito grande para conseguirem agendar o serviço", explicou a advogada Sonia Amaro, da Proteste.
Apesar do recall, Kwid é um dos mais seguro dentre os populares de entrada, à frente de Onix, Ka, HB20 e Mobi
Imagem: Reprodução/Latin NCAP
Ainda um bom negócio?
Apesar do susto do recall, os clientes procurados se dizem satisfeitos, tudo graças ao custo/benefício ainda elevado do carro.
"Estou adorando o carro. Acho que ele correspondente perfeitamente à proposta de um subcompacto urbano. Pesquisei bastante e nenhum outro automóvel oferecia tantas coisas pelo preço que eu paguei", garante Marília Melo.
"Se for olhar no mercado, não se consegue carros por menos de R$ 48 mil que ofereçam esses mesmos equipamentos da versão Intense", comparou Ivan Vasconcellos
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