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Oficinas de luxo dão tratamento VIP a carros e clientes; conheça nova moda

Karina Craveiro

Colaboração para o UOL

25/07/2017 04h00

No mercado de alto luxo, carros ficam parados ao menos por dois dias, são tratados como peças de museu e tudo está mais para um ateliê

Para carros especiais... Oficinas especiais.

Em São Paulo, os espaços revisão e manutenção de marcas de alto luxo são basicamente extensões de suas lojas -- tudo é impecável, organizado e muito moderno. Esqueça os serviços "fast-food", daqueles prestados em horas contadas. Nos centros de montadoras "ultra premium", carros ficam parados ao menos por dois dias e tudo está mais para um ateliê, na real.

Placas cobertas para preservar a privacidade dos donos; manta de tecido para cobrir a lata e evitar qualquer arranhão; plásticos em volta dos bancos, volante, manopla do câmbio e puxadores e sistema "flashlight" para avisar que determinado carro é prioridade são exemplos de mimos destes locais.

"O maior desafio é atender aos padrões das fábricas. E ainda tem a expectativa do cliente. Eles são extremamente exigentes", resume Rolando Aguilera, gerente da Via Itália, empresa que representa oficialmente Ferrari, Lamborghini, Maserati e Rolls-Royce no Brasil e tem, na zona oeste da capital, uma oficina para receber veículos dessas marcas -- que fica em um complexo de galpões com segurança 24 horas e sem qualquer letreiro.

Está longe dos olhos de curiosos, ainda que visitantes de outros galpões vizinhos estiquem o pescoço quando veem uma Ferrari entrando ou saindo dali. Por mês, cerca de 40 carros passam pelas mãos de seis mecânicos especializados, que se dividem entre nove elevadores.

Quem são eles?

Hudson Rodrigues é o profissional mais antigo na Via Itália, com 24 anos de casa. Sabe lidar com todas as marcas representadas pela empresa, mas se especializou em Ferrari. Já não se lembra do número de vezes em que esteve nos Estados Unidos para fazer treinamentos. "Como os carros vão evoluindo, a gente também tem de evoluir, aprender. E os treinamentos práticos são essenciais. Tem vezes que faço um curso de um carro que ainda nem foi lançado no Brasil", afirma, orgulhoso.

O treinamento fora do país também é comum na Porsche. Na Stuttgart, boa parte dos doze mecânicos contratados já viajou para México, Estados Unidos e Alemanha -- tudo custeado pela concessionária. Na montadora, estes profissionais, aliás, são separados por níveis de conhecimento "bronze, prata e ouro" (eles ganham a colocação conforme os testes e treinamentos).

O técnico em diagnóstico Rodrigo Rossi trabalha na Stuttgart há sete anos e é considerado "ouro". Ele é um dos poucos de lá capaz de resolver problemas em modelos híbridos vendidos pela montadora alemã. "Só basta querer. A empresa faz de tudo para que você alcance o melhor patamar. Agora é continuar meu trabalho e aprender cada vez mais com os carros que chegam. Todo dia é um desafio novo", resume.

Oficina Via Italia - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Placas cobertas para preservar a privacidade, manta de tecido para cobrir a lata e plásticos em volta dos bancos, volante, manopla do câmbio e puxadores são exemplos de mimos destes locais
Imagem: Murilo Góes/UOL

Big Brother automotivo

As matrizes querem saber de tudo sobre o funcionamento das oficinas tupiniquins. Tanto na Via Itália como na Stuttgart, assim que chegam, os carros passam obrigatoriamente por uma espécie de "scanner", que levanta um histórico e aponta possíveis defeitos. Na autorizada da Porsche, cada elevador tem um computador responsável por "diagnosticar" o carro da vez.

"Saem quase trinta páginas sobre o carro, com informações de todo o tipo. É como se fosse uma caixa preta. Se o mecânico tem alguma dúvida, pode entrar em contato com a matriz na Alemanha por um sistema interno online", explica Fulvio Loreto, gerente de pós-venda da Stuttgart. 

Na Via Itália, a conexão "Brasil-resto do mundo" é ainda mais intensa: as fábricas querem saber qual tipo de serviço será feito, qual o valor do orçamento e quanto tempo o carro ficará no local, entre outros detalhes.

"Dependendo do diagnóstico que é feito, eles dão um tempo para o serviço ser concluído. Se passa do prazo, eles entram em contato e querem saber por que o carro ainda está aqui. Oferecem ajuda para solucionar o problema. O motivo de toda essa comunicação é para manter a qualidade", justifica Rolando Aguilera, da Via Itália.

Detalhes "gourmet"

Nas duas oficinas visitadas por UOL Carros, muitos carros chegam em guinchos ou ainda são trazidos por funcionários dos proprietários, enquanto os orçamentos são passados por e-mail e os pagamentos feitos por transferência bancária.

Esqueça aquela oficina de bairro cheia de graxa e entulhada de peças e equipamentos. O chão de uma loja de serviços de luxo lembra o de um shopping, enquanto a organização das ferramentas é primorosa.

Parte dos equipamentos de manutenção são enviados pelas montadoras -- e algumas fazem exigências extras. A Lamborghini, por exemplo, demanda que o espaço de conserto de suas unidades tenha um elevador pintado na cor preta, um banner com a logo da marca e um conjunto de móveis padrão, que vem diretamente de Sant´Agata Bolognese. Cada gaveta é reservada para um determinado modelo e tem ferramentas exclusivas para cada um deles.

Outro exemplo: em um anexo da oficina da Stuttgart Porsche são estacionados os modelos mais valiosos da marca, como o 918 Spyder. A empresa diz que todos os veículos que chegam recebem o mesmo tratamento, mas prefere separar certas unidades. "O 918 é um carro que chama atenção. Colocar esse carro no meio da oficina é complicado, fica muita gente querendo ver. Preferimos fazer o reparo em um local um pouco mais 'escondido', preferimos tirar ele do foco da oficina", justifica Fulvio Loreto.

Apesar de todo o esmero, perfeição é algo inatingível. "Sempre teremos coisas para melhorar. Acabamos de contratar uma pessoa para analisar nosso padrão de qualidade e sugerir mudanças", antecipa Rolando Aguilera. "Fazemos uma reunião diária com os mecânicos, que comentam sobre o dia anterior e dão sugestões do que pode mudar no dia seguinte. Mas somos humanos, não máquinas", completa.

Oficina Porsche Stuttgart - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Em um anexo da Stuttgart Porsche são estacionados os modelos mais valiosos da marca, como o 918 Spyder. A empresa diz que todos os veículos recebem o mesmo tratamento, mas prefere separar certas os mais exclusivos
Imagem: Murilo Góes/UOL