Paula Gama

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Como marca brasileira tenta 'furar' BYD e assumir fábrica da Ford na Bahia

O destino da fábrica da Ford em Camaçari (BA) ganhou mais um interessado. A Lecar, empresa brasileira que planeja construir um carro elétrico nacional, afirma ter entrado na disputa pelo terreno em concorrência com a chinesa BYD.

Em entrevista ao UOL Carros, Flávio Figueiredo Assis, fundador da Lecar, explicou que a estratégia da empresa para ganhar da BYD na concorrência é oferecer uma proposta melhor, com um investimento mais robusto e maior número de empregos.

Segundo ele, a empresa brasileira estaria em vantagem porque a BYD já divulgou quanto pretende investir e quantos empregos deve gerar - R$ 3 bilhões em investimentos e 5 mil postos de trabalho.

"Um patrimônio público não se pode dar para quem quiser, e muito menos prometer, como o Governo da Bahia estava prometendo. Como o dinheiro é do povo, existem critérios para a venda, deve-se seguir o devido processo legal. Nesse caso, o estado publicou o chamamento público e nós estamos interessados", disse à coluna.

A intenção do empresário é produzir na Bahia um carro elétrico "popular", ou seja, abaixo de R$ 100 mil, o Lecar Pop. A primeira planta da montadora, segundo Assis, ficará na cidade de Flores da Cunha (RS) e será responsável pela produção do Model 459, um sedan inspirado nos veículos da Tesla.

Segundo ele, a linha de produção começará a ser instalada no segundo semestre de 2024. Já em Camaçari, a ideia é começar a produzir em junho de 2026. De acordo com o fundador da Lecar, o investimento para implantação da Bahia seria entre R$ 6 bilhões e R$ 8 bilhões, com a criação de 15 mil empregos. Para tanto, a ideia é abrir o capital da empresa, que hoje é limitada.

Lecar visitou fábrica em Camaçari

De acordo com Flávio Figueiredo Assis, uma equipe esteve pessoalmente no local, onde avaliou a qualidade dos equipamentos e de todo o ecossistema no entorno. A empresa, inclusive, estaria negociando diretamente com a Ford o maquinário que ficou na antiga planta. A marca norte-americana, no entanto, não confirma a informação.

"Todos os equipamentos estão em ótimo estado de conservação. Esses maquinários irão agilizar a produção dos carros elétricos brasileiros. O acesso a esse maquinário vai acelerar em 20 anos o projeto da Lecar. Há robôs que, por meio de câmeras, fazem a avaliação geométrica da estrutura do carro, garantido a conformidade das medidas e dimensões das estruturas", disse Assis.

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Segundo o empresário, chamaram a atenção equipamentos que atuam nos serviços de solda, montagem de bancos, painel, instalações e colagem de vidros, análises dimensionais e calibração com precisão absoluta. "Uma prensa de 12 mil toneladas e seis setores podem produzir as estruturas metálicas e nossas carrocerias", afirma.

No pacote de ativos também está disponível a célula robotizada de montagem e instalação de teto solar. "A Ford é pioneira em tecnologia e trouxe para Camaçari o que existe de melhor no mundo para fabricar os seus carros. Queremos ter o privilégio de usar essas máquinas na fabricação de carros elétricos 100% brasileiros", completa.

O que é Lecar?

Empresário quer produzir elétrico de R$ 100 mil em Camaçari
Empresário quer produzir elétrico de R$ 100 mil em Camaçari Imagem: Divulgação

Inspirado em Elon Musk, Flávio Figueiredo Assis afirma que, junto com seus sócios, está investindo R$ 1,1 bilhão de recursos próprios na criação da 'Tesla brasileira' - que, segundo ele, começa a operar ainda neste ano.

O projeto até então era implantar fábrica no Rio Grande do Sul e produzir 300 carros por mês a partir de dezembro. A expectativa do empresário, antes de apontar o interesse na fábrica da Ford, era produzir 50 mil carros por mês após 5 anos e empregar 5 mil pessoas. De acordo com Assis, o projeto já está em andamento, e o protótipo do Model 459 deve partir para homologação nos próximos dias.

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O modelo em questão será um sedã com cerca de 400 km de autonomia, que vai custar R$ 279 mil. Apesar de ter uma área de 'pré-reserva' no site, o empresário afirma que as unidades só serão vendidas após a produção. A proposta é que o veículo seja carregado de 0 a 80% em 25 minutos.

E a BYD?

Desde outubro do ano passado, a instalação da BYD na fábrica que era da Ford é considerada oficial. Na época, o governo da Bahia chegou a fazer uma cerimônia de oficialização do acordo com a chinesa, com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do CEO global da marca, Wang Chuanfu.

Mas, apesar de a montadora chinesa ter até colocado placas com a sua logo onde costumava ficar o símbolo oval azul, ainda falta passar pelos trâmites legais, como a compra do terreno.

No último dia 31 de janeiro, o governo da Bahia publicou um chamamento público para interessados no imóvel. O documento dizia que a BYD já havia feito um requerimento para "o desenvolvimento das suas atividades destinadas à produção de veículos elétricos e híbridos, processamento de lítio e ferro fosfato, chassis de ônibus elétrico e caminhões elétricos".

O texto dizia ainda que outros interessados poderiam manifestar interesse no imóvel em até 30 dias. Atenta à oportunidade, a Lecar afirma ter entrado nesta disputa.

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Procurados pela reportagem, a BYD preferiu não se posicionar sobre o assunto. O governo da Bahia confirmou que empresa Lecar encaminhou e-mail nesta quarta-feira (28) à Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado da Bahia (SDE), em que afirma ter interesse na área da antiga Ford junto ao Estado da Bahia. "Por intermédio do mesmo canal, a SDE orientou a empresa sobre como proceder, de acordo com as regras do processo legal de concorrência pública em curso".

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