Paula Gama

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Por que roubos e furtos de carros estão aumentando e situação pode piorar

Quem acompanha o noticiário já deve ter percebido que os roubos e furtos de carros estão cada vez mais rápidos e profissionais. Foco em peças caras, tecnologia para abrir até mesmo os carros mais modernos e ação completa em poucos minutos são algumas das características desses crimes. A má notícia é que um estudo corrobora a sensação de insegurança: em 2023, os furtos e roubos de veículos em São Paulo tiveram um aumento de 8,2% em relação ao ano anterior, de acordo com levantamento da empresa de rastreamento Ituran com base em dados da Secretaria de Segurança Pública do estado.

O que assusta é que, para especialistas, a situação deve piorar nos próximos meses e anos, já que a incidência desses crimes está diretamente ligada à venda ilegal de peças.

Rodrigo Boutti, diretor de Operações Sat Company e especialista em análise de risco para veículos, explica que a tendência de aumento desse tipo de crime está diretamente ligada a uma mudança no cenário automotivo.

Nos últimos anos, as montadoras de veículos reduziram a oferta de carros de entrada e passaram a apostar em modelos de maior valor agregado. Com isso, muitos que compravam carros mais simples novos passaram para o mercado de usados. Nesse contexto, nos próximos anos, haverá cada vez menos veículos "populares" seminovos, causando um envelhecimento da frota.

"Os roubos e os furtos a carros fazem parte de um ciclo vicioso. Se cresce a necessidade de peças de reposição, aumenta a procura no mercado ilegal e, consequentemente, os crimes. Com veículos mais velhos nas ruas, é natural que querem mais e precisem de mais peças", afirma Boutti.

Bandidos estão mais atualizados

Na última segunda-feira, o UOL Carros publicou uma reportagem sobre um Hyundai Creta que teve sua central multimídia furtada em apenas quatro minutos em uma rua do Brooklin, na cidade de São Paulo. Boutti explica que há alguns anos esses crimes eram mais raros, já que os bandidos tinham dificuldade de arrombar carros mais atuais. O problema é que o cenário mudou.

"Agora, eles têm tecnologia para roubar até carros de luxo. Fazem cópia do transponder, que é o segredo da chave, cópia do módulo do carro. Enfim, há cada vez mais facilidade para furtar carros, um crime na maioria dos casos impune, porque é difícil de ser provado", avalia.

Secretaria de Segurança diz que houve queda nos crimes

Apesar de os dados apresentados pela Ituran terem como base números da Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo, o órgão disse ao UOL Carros que não comenta pesquisas cuja metodologia desconhece.

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"Os dados mostram que os números de roubos e furtos de veículos apresentaram queda no Estado, Capital e Grande SP, em 2023, comparando com 2022. O trabalho de inteligência, preventivo e ostensivo das forças de segurança, também colaboraram para a recuperação de mais de 49.500 veículos. Só em janeiro deste ano, já foram 4.749 veículos recuperados".

De acordo com a SSP, no Estado, em 2023, os roubos de veículos apresentaram queda de 10,2% e os furtos 2,5%. No total, foram 49.528 veículos recuperados - 18,1% a mais do que em 2022. Na Capital, a SSP afirma que os roubos de veículo caíram 9,1% e os furtos de veículos foram reduzidos em 2,6%. No total, foram 14.904 veículos recuperados - 10,2% a mais do que em 2022.

"A Polícia Civil tem intensificado a fiscalização em ferros-velhos, desmanches e lojas de peças automotivas para identificar receptadores que alimentam este tipo de crime. Na Capital, a Divisão de Investigações sobre Furtos, Roubos e Receptações de Veículos e Cargas (Divecar) faz operações constantes para fechar desmanches e comércios ilegais de peças. Em 2023, a especializada prendeu 778 criminosos, apreendeu 967 veículos, além de mais de 67,4 mil peças veiculares", afirmou ao UOL.

Cuidado para não comprar peça ilegal

Existe uma relação direta entre o furto de peças de carro e o mercado ilegal, e quem compra também está cometendo um crime. O Código Penal brasileiro trata como receptação culposa a falta de cuidado quanto à origem do objeto comprado ou recebido que tenha origem criminosa. Ou seja, se alguém compra a peça de um automóvel na internet por um preço mais interessante, sem nota fiscal ou garantia de procedência, pode estar cometendo esse crime, mesmo que não tenha a intenção de fazê-lo.

A lei fala em "adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte". A pena é de um a quatro anos de reclusão e multa.

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No caso de "adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de crime" a pena é de reclusão de três a oito anos.

E ainda há pena de mês a um ano e multa para quem "adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso".

Como identificar se a peça é ilegal

Antonio Fiola, presidente do Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos, explica que o primeiro passo para se livrar de problemas com a Justiça é, ao adquirir a peça, exigir nota fiscal.

"No documento haverá comprovação da procedência da peça. Agora, quando a pessoa encontra uma peça muito abaixo do preço de mercado em uma plataforma de e-commerce e não pede comprovação nenhuma ao vendedor, fica difícil provar inocência", alerta.

Fiola explica que existem desmanches legais, que recondicionam peças usadas de outros veículos, mas eles são cadastrados pelo Detran e seguem os protocolos de segurança. Ele alerta também que peças de segurança como freio, ABS, direção, airbags, entre outras, jamais podem ser reutilizadas. Ou seja, se não for nova e estiver à venda, provavelmente é produto de crime.

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Para reduzir os crimes e, consequentemente, a oferta de peças roubadas no mercado, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirma que "trabalha diuturnamente para coibir todas as modalidades criminosas", com vistorias em locais que comercializam peças automotivas. Também há monitoramento de endereços eletrônicos.

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