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Na Tatuapé, campeã de SP, comunidade devolve fantasia a cada desfile

Andréa Capitulino, rainha de bateria da Acadêmicos do Tatuapé, comemora a vitória da escola no Carnaval de SP - Ricardo Matsukawa/UOL
Andréa Capitulino, rainha de bateria da Acadêmicos do Tatuapé, comemora a vitória da escola no Carnaval de SP
Imagem: Ricardo Matsukawa/UOL

Paula Felix e Bruno Ribeiro

Em São Paulo

14/02/2018 10h25

Com a taça de bicampeã do carnaval de São Paulo disposta no pé do palco do galpão da escola, em um espaço fechado sob o Viaduto Antônio Abdo, no Tatuapé, na zona leste de São Paulo, uma multidão saudou a vizinhança da escola, apontada como razão para a Acadêmicos do Tatuapé ter obtido tanto sucesso nos últimos anos. Era pouco antes das 19h desta terça-feira, 13, quando a direção retornou do Anhembi com as estátuas douradas que garantiam o título de melhor da cidade.

"Tatuapé" e "comunidade" eram gritados no palco e no público, em êxtase enquanto o samba-enredo da agremiação tocava. O barracão, sem janelas e escuro, estava lotado e quente, apesar da noite fria (19°C).

Do lado de fora, notava-se um trânsito caótico nas vias do entorno, após interdição da Rua Melo Peixoto, e com a Rua Honório Maia travada. O próprio viaduto onde fica a escola estava com uma faixa bloqueada, por causa dos curiosos que ficaram parados na altura do portão de entrada do barracão.

Dentro, antes da festa começar de fato, diretores se abraçavam. Diziam - e diziam de novo - que o título era da "comunidade". Gilberto Silva, conhecido como Giba, diretor de harmonia da escola, destacava que "o pessoal não fica com a fantasia". Segundo ele, a pessoa "fica sócia da escola, paga uma taxa por mês, para poder ajudar. Só quem gosta está aqui."

O vice-presidente, e diretor de carnaval, Erivelton Coelho, também fazia referência ao carnaval sem fantasias. "Nós reaproveitamos tudo", contava.

"Se a escola tem um vice-campeonato e dois títulos seguidos, é claro que é por causa da comunidade. Se a pessoa vem um ano, desfila, devolve a fantasia, continua vindo, se importa, vai criando um espírito, uma coisa de união. Isso que é dizer que a vitória é da comunidade", disse Coelho. "O que foi acontecendo aqui foi uma seleção. As pessoas que queriam ganhar, que queriam fazer isso acontecer, foram ficando. Quem vinha só pela farra, foi saindo. E fomos trazendo gente boa."

Uma dessas "contratações" é o carnavalesco Wagner Santos. Até o ano passado, ele ocupava esse posto na Acadêmicos do Tucuruvi. Mudou este ano para falar sobre seu estado natal, o Maranhão, e para virar um dos grandes defensores da lógica de economizar no material das fantasias para garantir o retorno do integrante da escola e, assim, a devoção ao Carnaval.

Identificação

Integrante da escola há dois anos, a auxiliar de vendas Miriam Zago, de 32 anos, diz que participar da agremiação é "uma coisa que te identifica com seu bairro". Mas, segundo ela, iria querer participar da Tatuapé mesmo se não morasse na zona leste.

"Eles são sérios aqui. Ouvem a gente, querem ganhar. Estar junto de gente assim faz esquecer os problemas de trabalho, de outras coisas", conta Miriam.

Três perguntas para Wagner Santos, carnavalesco da Tatuapé:

1. Por que a escola usa fantasias com materiais reciclados?

Sem vender fantasias, reaproveitando o material de outros anos, conseguimos que a comunidade participe mais da escola. E é a comunidade a maior força da Tatuapé. Guardamos tudo o que usamos. Se não reaproveitamos em um ano, reaproveitamos em outro.

2. Como isso é visto no mundo do samba?

Cheguei a ler comentários com xingamentos na internet. Mas, assim, exigimos menos do meio ambiente.

3. Mas há também a questão econômica?

Claro que há. E vamos lembrar que o carnaval é feito com dinheiro público.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.