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Tire suas dúvidas sobre fake news relacionadas com a varíola dos macacos

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Imagem: iStock

07/06/2022 17h25

Depois das fake news sobre a covid-19, agora as redes sociais são invadidas por desinformação sobre a varíola dos macacos. Entre as falsas ideias propagadas, os internautas podem ler que a doença é "causada por vacinas" e que as autoridades espanholas estariam cientes do problema antes que os primeiros casos de contaminação fossem revelados.

Publicações compartilhadas nas redes sociais desde maio sugerem que a varíola dos macacos estaria relacionada à vacina anticovid produzida pela Oxford/AstraZeneca, já que entre seus componentes há um adenovírus de chimpanzé. A afirmação é uma falácia, segundo especialistas.

Esse adenovírus foi modificado geneticamente para que não possa se reproduzir no corpo humano e, além disso, pertence a uma família diferente da do vírus causador da varíola dos macacos. Especialistas entrevistados pela AFP insistem que não há relação entre os dois patógenos.

A doença recebeu este nome ("monkeypox") porque foi detectada pela primeira vez em macacos, em 1958. "No entanto, os macacos não são os hospedeiros. O mais provável é que na África, continente de origem do vírus, suas fontes sejam os roedores", disse à AFP o professor Flávio Guimarães da Fonseca, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia.

O adenovírus é utilizado na vacina como vetor para transportar instruções genéticas até as células do vacinado, que passa a produzir sua própria resposta imunitária contra a covid-19. Como as demais vacinas de "vetor viral", o adenovírus é incapaz de contaminar o organismo do vacinado.

A varíola na Espanha

Uma mensagem no Telegram questionava por que o governo espanhol "comprou" dois milhões de doses da vacina contra a varíola em 2019. Segundo a publicação, essa aquisição comprova que as autoridades sabiam que os casos viriam a aparecer.

Os especialistas explicam que a doença foi erradicada, mas seu vírus não, então é normal que um país como a Espanha tenha reservas estratégicas do imunizante.

O médico Jaime Jesús Pérez, porta-voz da AEV (Associação Espanhola de Vacinologia), lembrou, em declaração à AFP, que "a varíola é uma doença erradicada, mas seu vírus ainda existe, tanto nos Estados Unidos quanto na Rússia, em laboratórios de segurança máxima".

A doença é considerada erradicada desde 1979 graças à vacinação. Desde 1984, não se imuniza a população geral.

O diagnóstico

Outras publicações em redes sociais ironizaram o supostamente "rápido" desenvolvimento de testes PCR para detectar o vírus da varíola dos macacos e advertiram para resultados "falsos positivos, como ocorreu com a covid-19".

A OMS (Organização Mundial da Saúde) explica que a forma mais adequada para diagnosticar a doença, além da clínica, é um teste PCR. Este é o protocolo adotado há vários anos, muito antes da pandemia de covid-19.

O teste PCR "é baseado no desenvolvimento de moléculas que apenas reconhecem o sequenciamento genético desse micro-organismo", disse à AFP Álvaro Fajardo, doutor em Ciências Biológicas e pesquisador do LVM (Laboratório de Virologia Molecular) do centro de pesquisas nucleares do Uruguai.

A varíola dos macacos 'fomentada' pelas 'elites'

Em 2021, a NTI, uma organização americana especializada na prevenção de riscos nucleares e bacteriológicos, organizou uma simulação de uma epidemia de varíola dos macacos. A data escolhida para este cenário fictício? Maio de 2022.

Esta coincidência é amplamente utilizada para afirmar que o aumento dos casos de varíola dos macacos foi orquestrado.

Como a Fundação Bill e Melinda Gates é um dos muitos colaboradores da NTI, o bilionário americano, que há anos é alvo de teorias conspiratórias, também é acusado de estar por trás deste novo alerta sanitário.

"Para os fins do exercício, queríamos selecionar um patógeno que fosse plausível em nosso cenário, e escolhemos a varíola dos macacos entre várias opções propostas por nossos especialistas", explicou a NTI, ressaltando que "os riscos apresentados pela varíola dos macacos têm sido bem documentados há anos por numerosas autoridades sanitárias".

"O que é importante lembrar (da simulação de 2021) não é o patógeno particular (escolhido) em nosso cenário fictício, (mas) o fato de que o mundo está completamente despreparado para futuras pandemias e que devemos agir urgentemente para enfrentar esta vulnerabilidade", acrescentou a organização.

Um boato semelhante circulou em 2020 sobre a covid-19, baseado em um surto simulado de coronavírus em 2019.

Doxiciclina, o novo pseudoremédio

Muitas publicações nas redes sociais apontam a doxiciclina, um antibiótico que "cura a varíola em dois dias", como uma droga adaptada ao combate da varíola dos macacos. Mas a doxiciclina não é considerada um tratamento para esta doença, por não ter eficácia contra vírus, como vários especialistas explicaram à AFP.

Para saber que remédios podem ajudar a suavizar os sintomas da varíola dos macacos, o melhor a fazer é procurar um médico.