Dar as mãos é mais do que gesto de carinho e pode fazer bem à saúde

Entre casais, pais e filhos, amigos, não importa com quem seja nem o momento ou lugar, dar as mãos é um gesto evolutivo, cultural, universal e que continua sob investigação para se compreender diferentes comportamentos humanos.

"[O ato de dar as mãos] é esmiuçado em trabalhos sobre afeto, identidade, transtornos, relação entre gerações diferentes. Existem muitos estudos sobre esse assunto, sendo um da Universidade Harvard (EUA) o mais antigo, sobre desenvolvimento humano, e que começou no final dos anos 1930 e continua até hoje", explica Luiz Scocca, psiquiatra pelo Hospital das Clínicas da USP.

Nesse estudo, os cientistas descobriram que pessoas que cultivam relações mais calorosas (o que inclui se expressarem com contato físico) são mais felizes e permanecem organicamente mais saudáveis à medida que o tempo passa. "Dar as mãos ajuda a fortalecer vínculos e possibilita novas conexões", afirma Scocca.

Efeitos no corpo e na mente

Segurar a palma alheia, entretanto, não é somente positivo entre pessoas que se amam ou quando tudo vai bem. Em 2021, a Universidade da Virginia (EUA) descobriu que mesmo entre desconhecidos e sob estresse e medo, esse gesto é vantajoso: diminui a pressão arterial, a frequência cardíaca e alivia dores.

É uma linguagem corporal, uma comunicação não verbal instintiva, que expressa pensamentos e é rica em sentimentos. Com ela, podemos nos acalmar e obter conforto, segurança, alívio físico, mental e emocional. Myriam Albers, especialista em terapia cognitivo-comportamental e psicóloga na Clínica Maia (SP)

A parte interna das mãos é abundante em receptores de pressão e, ao serem ativados pelo toque, enviam sinais ao sistema nervoso central, que responde liberando substâncias, como a ocitocina, relacionada à sensação de prazer, bem-estar, relaxamento e que ainda fortalece o sistema imunológico e combate a depressão.

"A Criação de Adão", de Michelangelo, no teto da Capela Sistina
"A Criação de Adão", de Michelangelo, no teto da Capela Sistina Imagem: Creative Commons

Interação entre mãos diz muito

Sendo tamanha a multiplicidade de vivências e na forma de ser e se expressar, cabe mencionar que cada um se distingue ainda pela maneira como dá ou segura as mãos. Com firmeza, leveza, dedos entrelaçados, apenas pontas de digitais se tocando; mensagens que são do inconsciente, mas cabem ser interpretadas.

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"Dar as mãos, como demais gestos, expressões, posturas, pode representar coisas diferentes", explica Felipe Fernandes, psicólogo e professor no Unipê (Centro Universitário de João Pessoa), continuando que estudos em neurociência demonstram que desde bebê existe o reflexo inato de apertar a mão. "O toque é o primeiro dos sentidos e o mais importante meio de contato com o mundo", afirma.

Sem contar no simbolismo que carrega. A depender do contexto, pode representar romantismo, lealdade, encorajamento, apoio, autoafirmação, enumera Myriam Albers. Às vezes, basta a intenção para ficar evidente, como na pintura "A Criação de Adão" de Michelangelo, que representa a conexão humana com o espiritual.

Agora, conheça alguns jeitos de dar as mãos mais comuns e seus significados:

Com dedos cruzados: sugere uma relação sólida, de cumplicidade e paixão. Porém, se a mão segura com força, pode indicar encorajamento ou ciúmes.

Com mãos e braços dados: bem juntinhos, denota carinho, envolvimento, desejo de contato, proteção, mas também pode sinalizar medo de perder o par.

Pelas pontas dos dedos: é um gesto de dar as mãos bem discreto, que revela tanto insegurança como falta de afinidade, de atitude ou mesmo insatisfação.

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Mãos dadas, mas escondidas: atrás das costas, ou encoberta aponta que há afeto, que pode estar misturado com sedução, proteção ou possível timidez.

Com aperto de dedos: mãos fechadas, sem toque de palmas, com apenas um aperto de dedos, indicam questões pessoais ou com o parceiro mal resolvidas. Ou ainda introspecção, desejo de não querer tanta proximidade, desconforto.

Mão dadas por pouco tempo: há várias possibilidades, como ressentimento, cautela em demonstrar amor, ainda mais em público ou estando no começo da relação, ou talvez característica natural ou adquirida, desejo de independência.

Mas e quanto a quem não gosta?

São muitos os ganhos que o simples comportamento de dar as mãos proporciona, contudo, há pessoas que o evitam de toda forma. Isso não quer dizer que seja necessariamente por indiferença, portanto, não aponte o dedo para o outro. Na dúvida, observe-o, teste novamente e, havendo recusa, pergunte e ofereça escuta.

"Há quem, por temperamento, condições de neurodesenvolvimento atípico ou emocionais e psicológicas, como traumas, e até mesmo sociais, como pouca estimulação durante o desenvolvimento, tenha dificuldades", esclarece Felipe Fernandes.

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Em público, dar as mãos pode ser extremamente desagradável para quem sofre de baixa autoestima, já tenha sido vítima de homofobia, apresente suor excessivo nas mãos, ou é muito tímido. Scocca menciona ainda os autistas, que podem sentir aflição com esse gesto.

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