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'Papanicolau' no ânus rastreia HPV e previne câncer; veja quem deve fazer

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Imagem: iStock

De VivaBem, em São Paulo

15/03/2023 04h00

O HPV (papilomavírus humano) é um fator de risco para vários tipos de câncer, entre eles, o anal. Uma das formas de rastreio e prevenção é um exame chamado de citologia anal.

O procedimento tem o mesmo objetivo do papanicolau, realizado em pessoas com útero. A diferença é a região que, no caso, é o ânus e não o colo do útero. Ambos têm o objetivo de identificar lesões por HPV que, se não tratadas, podem evoluir para o câncer.

Por que não se fala tanto sobre a citologia anal?

A diferença aqui é o impacto de cada tumor. Enquanto o câncer de colo de útero é o terceiro mais incidente entre mulheres (excluindo os de tumores de pele não melanoma), o câncer de ânus (que não é o mesmo que o colorretal) é considerado raro, representando de 1% a 2% de todos os tumores da região colorretais, segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer).

Até por isso, segundo os médicos consultados por VivaBem, a citologia anal não recebe tanto "destaque" como o papanicolau.

Quem deve se preocupar mais?

Alguns grupos devem fazer pelo menos uma vez ao ano: homens que fazem sexo com homens (HSH) que têm HIV.

"Os riscos do grupo desenvolver o câncer de ânus quadruplicam, pelo menos. Essas pessoas necessitam fazer uma busca ativa e prevenção da doença", explica o coloproctologista Érico Holanda, professor da Unichristus, em Fortaleza (CE).

O motivo é a maior frequência da prática anal, além da imunidade, que é mais impactada por causa do HIV. Por isso, os cuidados devem ser redobrados.

Do mesmo jeito que as mulheres procuram o ginecologista, uma vez ao ano, depois da primeira relação sexual, para prevenir ou diagnosticar o câncer de colo de útero pelo papanicolau, seria ideal que a população que faz sexo anal também procurasse o proctologista para a citologia. Danilo Munhoz, coloproctologista pelo Hospital de Base de São José do Rio Preto (SP) e membro da Sociedade Brasileira de Coloproctologia

Quais outros grupos?

Mesmo sem um consenso da comunidade científica, outras pessoas também devem fazer o exame pelo menos em algum momento da vida. São eles:

  • Pessoas que fazem sexo anal com frequência;
  • Pessoas que já tiveram HPV ou câncer de ânus;
  • Quem já teve câncer de colo de útero;
  • Pessoas que têm histórico de câncer de ânus na família;
  • Pessoas imunossuprimidas, como quem fez um transplante, tem HIV ou que está realizando quimioterapia.

Entenda o exame

  1. Primeiro, o médico faz o exame físico, analisando a região do ânus. Se alguma lesão for identificada, ela já é tratada.
  2. Se não houver nenhuma lesão por HPV, o médico solicita a citologia anal, que vai analisar se há alguma alteração, que não pode ser vista a olho nu, que indique a presença da infecção.
  3. Caso o exame seja positivo, o médico pede a anuscopia. Neste procedimento, é inserido um ácido que aponta em qual região está a lesão suspeita.
  4. Depois disso, o médico opta pelo melhor tratamento. Há diversas opções para o paciente, como laser, ácido tricloroacéticor e eletrocauterização.

Sobre a frequência do exame, não há um consenso na literatura. Mas realizo a anuscopia em pacientes com HIV ou que tiveram HPV a cada 6 meses. São lesões fáceis de tratar e, quanto menor for, mais simples será o tratamento. Henrique Perobelli, gastroproctologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo

Passo a passo da citologia anal

  1. Raspagem da região do ânus com um espéculo, que dura em média 5 minutos e é indolor.
  2. Material é enviado ao laboratório.
  3. Análise avalia se há a presença de alteração relacionadas ao HPV que, se não tratadas, podem evoluir para o câncer.
  4. Se o resultado for positivo, o paciente deve fazer a anuscopia de alta resolução (ou colposcopia anal), que dura entre 10 e 20 minutos, dependendo da quantidade de lesões.
  5. Neste exame é colocado um ácido que mostra as regiões --elas ficam mais brancas-- que, se for o caso, devem ser tratadas.
  6. Os exames não necessitam de preparo.

Alguns pontos importantes sobre o HPV

  • O vírus pode ser contraído durante o sexo vaginal, anal, oral e até ao masturbar o parceiro. Não é necessário que haja penetração. Ou seja, se as lesões estão na base do pênis ou da vulva, a camisinha poderá não impedir a sua transmissão.
  • Por isso, é fundamental tomar a vacina contra o vírus, principalmente antes do início da atividade sexual. O SUS oferece, gratuitamente, para o público de 9 e 14 anos de idade, independentemente do sexo. Fora da faixa etária, é possível encontrar o imunizante em laboratórios particulares.
  • O HPV é responsável pela quase totalidade dos casos de câncer do colo do útero, por mais de 90% dos casos de câncer anal e por 63% dos cânceres de pênis, além de parte de outros tipos de tumores.