Opinião

O que é preciso para melhorar o tratamento do câncer de próstata no SUS?

A Comissão da revista Lancet para o câncer de próstata divulgou no início do mês de abril um documento para mostrar possíveis caminhos para lidar com o aumento de casos da doença. Segundo análises do grupo, formado por médicos de todo o mundo, esse tipo de tumor já é uma das principais causas globais de mortalidade, com uma estimativa de que o número de novos casos duplique até 2040.

No documento, a Comissão analisou "intervenções imediatas e de longo prazo para mitigar o impacto global atual e futuro projetado do câncer da próstata", tanto para as nações mais ricas quanto para os países com menos recursos.

No XV Congresso Internacional de Uro-Oncologia, realizado em São Paulo entre os dias 17 e 20 de abril, reunimos alguns destes especialistas e montamos uma mesa de trabalho para discutir o tratamento de câncer de próstata no SUS (Sistema Único de Saúde).

Médicos brasileiros, como o oncologista Daniel Herchenhorn, o radioterapeuta Gustavo Marta, o presidente da Sociedade Brasileira de Urologia Luis Otávio Torres, a médica oncologista do Inca e do Ministério da Saúde Regina Hércules Vidal e especialistas internacionais, como o britânico Nicholas James, apresentaram uma visão geral das principais recomendações no rastreio, diagnóstico e tratamento do câncer de próstata aqui no Brasil e em nações em desenvolvimento.

Para os participantes, ficou clara a necessidade de melhorias no rastreamento no país.

Infelizmente, temos diagnóstico extremamente tardio da doença para as pessoas que são atendidas no serviço público de saúde. Entre os problemas apontados, está a falta de acesso ao exame do PSA na rotina de prevenção. É importante ressaltar que "o Inca não recomenda a realização de exames de rotina com essa finalidade (rastreamento)", segundo informações no site do Instituto Nacional de Câncer.

Além disso, vários pacientes diagnosticados com uma doença ainda localizada e curável não recebem o tratamento curativo. Muitos aguardam por longos períodos nas filas para cirurgia e não conseguem ser operados. A estes pacientes são indicadas terapias paliativas, piorando o prognóstico.

Outra questão apontada foi a deficiência de máquinas de radioterapia no país. Como já foi alertado anteriormente por um levantamento da Sociedade Brasileira de Radioterapia, por ano, mais de 70 mil brasileiros e brasileiras deixam de fazer radioterapia, quando ela é necessária. Além disso, foi discutido o impacto da falta de melhores medicamentos dentro do SUS.

Vale ressaltar que este não é um problema de um ou de outro governo. É uma questão que vem de décadas e que, certamente, merece ser tratadas cada vez com mais urgência, não só pelo poder público, mas também pelas sociedades médicas e pela sociedade civil.

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Só assim poderemos diminuir as lacunas de atendimento entre quem tem condição de ter um plano de saúde e quem não tem.

Infelizmente, o paciente do SUS, muitas vezes, é acometido não só pela doença câncer de próstata, mas pela "doença" deficiência do próprio sistema de saúde. Como resultado, a mortalidade pela doença dos menos favorecidos é de 40% a 100% maior. Essa realidade precisa ser mudada com urgência, para cuidarmos melhor das mais de 70 mil pessoas diagnosticadas com esse tipo de tumor anualmente, em nosso país.

*Fernando Maluf é diretor associado do Centro Oncológico da BP - Beneficência Portuguesa de São Paulo, membro do Comitê Gestor do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein e fundador do Instituto Vencer o Câncer. É formado em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, onde hoje é livre-docente.

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