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Chá de alho tem menos propriedades que alimento cru, mas ainda é benéfico

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Fernanda Beck

Colaboração para o VivaBem

25/01/2023 04h00

O alho é um dos itens mais fáceis de encontrar nas cozinhas brasileiras. Mas além de temperar a comida, ele tem propriedades fitoterápicas que podem ser exploradas de diversas formas e são benéficas para muitas condições.

O alimento tem compostos ativos bem estudados e pode ter efeito anti-inflamatório, anticoagulante e ajudar em casos de problemas respiratórios e cardiovasculares, hipertensão e colesterol desregulado. Mas, também por isso, é bom tomar cuidado.

Quando falamos das propriedades do alho, parece que estamos falando de uma panaceia, de uma coisa que é boa para tudo. E quando as indicações são muitas, elas servem principalmente para tratar sintomas leves, não problemas graves. Luiz Antônio Batista da Costa, médico fitoterapeuta e membro do Comitê Técnico Temático de Apoio à Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos - Farmacopeia Brasileira na Anvisa.

Tomar chá de alho é benéfico para o organismo?

Apesar de ser uma maneira fácil de aproveitar as propriedades do alimento, o chá de alho tem baixa concentração dos ativos fitoquímicos da planta, e é indicado apenas como um complemento para o tratamento de sintomas leves.

Sintomas graves ou doenças crônicas exigem acompanhamento médico e, no caso de tratamentos com os compostos do alho, maiores concentrações e tempo mais prolongado de uso.

O consumo do alho cru, em óleo ou extrato, indicado por um médico naturopata ou fitoterapeuta, é a melhor maneira de aproveitar os muitos compostos benéficos presentes no alho.

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Limão, gengibre, cravo, canela e mel podem ser colocados junto ao alho no preparo
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Quais são os benefícios conhecidos do alho?

  • Um artigo publicado em 2019 por pesquisadores chineses na revista científica Foods lista algumas propriedades da alicina, presente no alimento. O composto tem capacidade anti-hipertensiva, efeito antioxidante e anti-inflamatório. O ativo também tem ação antimicrobiana, atuando como inibidor de crescimento em um amplo espectro de bactérias.
  • O alho também age sobre o colesterol, suprimindo sua biossíntese, melhorando a concentração de HDL (colesterol bom) e diminuindo o LDL (colesterol "ruim").
  • No entanto, o potencial terapêutico do alho depende diretamente do método de uso, preparação e extração (o alho in natura, em pó, em óleo, em cápsula ou em extratos), além do tempo de utilização.
  • Um estudo publicado na mesma revista no começo de 2023 por pesquisadoras italianas aponta que o alho envelhecido (um método de extração prolongada do alho fresco) e o alho negro apresentam compostos ainda mais eficientes.

A infusão potencializa o efeito do alho?

Como com qualquer fitoterápico, existem muitas apresentações farmacêuticas possíveis para o consumo do alho, como extratos concentrados, líquidos, fluidos ou secos. Cada uma terá uma ação determinada, de acordo com as diferentes concentrações de ativos encontradas. Quanto maior a concentração, maior será o benefício, porém maiores serão, também, os riscos de causar efeitos adversos.

A maioria dos estudos científicos que analisam os efeitos do alho diz respeito à forma in natura, em pó ou em extrato, todas formas em que a concentração dos ativos é consideravelmente maior do que a encontrada no chá.

Portanto, o consumo do alho na forma de chá dificilmente terá efeito terapêutico significativo, já que é feito por meio de uma infusão de poucos minutos, sem a ingestão do alho em si.

Como, quanto e quando tomar o chá de alho?

Para fazer o chá de alho, macere dois dentes de alho para cada xícara de água e coloque para ferver (colocar o dente inteiro dificulta a liberação da alina). Uma vez em ebulição, desligue o fogo e abafe a chaleira com a tampa ou com um pano, para impedir que os ativos voláteis se percam. Espere de cinco a 10 minutos antes de beber.

Limão (antiviral), gengibre (que auxilia a digestão, é antiviral e antibacteriano), cravo e canela (bons para ajudar a baixar a febre) e mel podem ser colocados junto ao alho no preparo, já que também têm compostos interessantes e ajudam a deixar a bebida mais palatável.

A posologia depende da enfermidade a ser tratada. Pessoas hipertensas, por exemplo, podem fazer uso contínuo do chá. Já quem busca o alho como um auxílio em casos de gripe pode tomar o chá uma ou duas vezes ao dia até desaparecerem os sintomas.

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O chá diminui muito as concentrações das propriedades do alimento
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Existem contraindicações para o consumo do chá de alho?

O chá de alho é contraindicado principalmente para pessoas que sofrem de sensibilidade ou problemas estomacais, ou que sentem desconforto quando consomem alho. As lectinas presentes no alho podem causar reações gástricas indesejáveis como irritação do intestino, gases, inchaço e sensação de "lembrar" do alimento por longas horas.

Também é contraindicado para grávidas, lactantes, pessoas que fazem uso de anticoagulantes e pacientes em tratamento da tireoide.

Por ter ação antiplaquetária, é recomendado que o uso do alho seja suspenso nos dias que antecedem cirurgias, para que não interfira na capacidade de coagulação e consequente recuperação do paciente. A indicação é que o consumo seja suspenso por pelo menos 10 dias antes de procedimentos cirúrgicos.

Tratamentos à base de alho não devem ser utilizados em pacientes com hipertireoidismo, distúrbios da coagulação ou em tratamento com anticoagulantes. Pacientes com gastrite ou úlcera gastroduodenal tampouco devem ingerir a bebida.

O alho cozido na comida também traz benefícios?

Os compostos fitoquímicos presentes no alho sofrem degradação quando passam por processos térmicos como a fritura e o cozimento. Dessa forma, seus efeitos benéficos diminuem muito.

Fontes: Cristina Miyazaki, farmacêutica e pesquisadora do Laboratório de Produtos e Derivados Vegetais Lim 26 FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo); Luiz Antônio Batista da Costa, médico fitoterapeuta e mestre em ensino nas ciências da saúde, membro do Comitê Técnico Temático de Apoio à Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos - Farmacopeia Brasileira na Anvisa; João Ernesto de Carvalho, professor livre-docente da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).