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Bebidas com fibras têm benefícios? Vale mesmo a pena consumir?

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Imagem: iStock

Bárbara Therrie

Colaboração para VivaBem

02/11/2022 04h00

Presentes principalmente em frutas, verduras, legumes e leguminosas, as fibras são muito importantes para a saúde em geral, o bom funcionamento do intestino, a perda de peso e o bem-estar.

No entanto, com uma dieta cada vez mais repleta de fast-food e produtos industrializados, muitas pessoas não conseguem ingerir a quantidade recomendada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e pelo Ministério da Saúde, que é de 25 gramas por dia para adultos.

Nesse cenário, suplementos e alimentos industrializados ricos em fibras surgem como uma "solução" para aumentar essa ingestão. Entre eles, atualmente existem até bebidas enriquecidas com fibras. Mas elas são mesmo boas alternativas para atingir a quantidade diária desse nutriente? Quando vale a pena tomar? E será que existe algum risco se exceder na dose?

Quantidade mínima de fibras

Segundo a nutricionista Lílian Lessa Andrade, professora da Escola de Nutrição da UFBA (Universidade Federal da Bahia), essas bebidas têm a quantidade mínima para serem consideradas fontes de fibras, já que um produto industrializado líquido deve conter, no mínimo, 1,5 grama a cada 100 ml para estar nessa categoria.

"Essas bebidas representam o mínimo estabelecido legalmente, pois contêm 6 gramas de fibras alimentares em 400 ml", explica. "Mas essa quantidade não é suficiente para o organismo, pois corresponde a cerca de um quarto da necessidade diária, se consumidos os 400 ml", diz a professora.

Nesse sentindo, as bebidas com fibras podem ser indicadas para complementar a ingestão de pessoas que, por algum motivo específico, não conseguem atingir a quantidade mínima ideal de fibras por meio da alimentação, de acordo com Clarissa Hiwatashi Fujiwara, nutricionista do departamento de nutrição da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica) e coordenadora de nutrição da Liga de Obesidade Infantil do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Mesmo efeito que um vegetal?

Outra questão importante é a biodisponibilidade das fibras —ou seja, o quanto delas será de fato absorvido pelo organismo— presentes nessas bebidas. Tanto especialistas como o Guia Alimentar para a População Brasileira preconizam que alimentos in natura e minimamente processados devem ser a base da nossa alimentação, já que os nutrientes serão melhor aproveitados pelo corpo dessa forma.

"A adição de fibras e micronutrientes artificialmente não garante que eles terão no organismo o mesmo efeito benéfico que nutrientes provindos de fontes naturais", afirma a nutricionista Marlice Marques, membro do departamento de nutrição da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes) e da diretoria da Sociedade Brasileira de Diabetes - Regional Goiás.

Para se ter ideia, em 100 gramas de abacate, caqui ou goiaba, por exemplo, estão presentes mais de 6 gramas de fibra alimentar, de acordo com a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos.

"Nesses alimentos, encontramos diversos outros nutrientes necessários ao funcionamento do organismo, inclusive as vitaminas e minerais que são exaltados pela adição em produtos industrializados, mas estão naturalmente presentes nos alimentos", afirma Andrade.

"Ou seja, pagamos caro para retirarem fibras, vitaminas e minerais de um alimento natural e diluírem e comercializarem como se fosse uma aproximação e substituição do natural", diz.

Fique de olhos nos aditivos

Como são produtos industrializados, as bebidas enriquecidas com fibras possuem aditivos, isto é, substâncias adicionadas aos alimentos, sem o propósito de nutrir, mas com diversas funções sensoriais, como dotá-los de cor, sabor, aroma, textura, e relacionadas à conservação, como impedir o crescimento microrganismos ou deterioração.

Fujiwara diz que, embora produtos com essas características sejam seguros para consumo humano segundo estudos, "sempre que possível, é preferível optar por alimentos e bebidas com o mínimo de aditivos alimentares, especialmente de conservantes e aromatizantes".

Na dúvida, a recomendação é ler os rótulos com atenção para saber o que exatamente está contido naquele produto.

Bebidas com fibras têm benefícios?

Depende. Andrade afirma que é importante levar em consideração o contexto em que a bebida será utilizada para avaliar seus benefícios.

"A princípio, não há a recomendação do consumo de bebida com fibras para pessoas que podem consumir alimentos e água, já que não é um produto naturalmente necessário para o corpo", diz.

No entanto, pondera a especialista, se a pessoa for consumir um produto industrializado em um local em que não haja opção natural, essa pode ser uma alternativa a ser considerada.

Quanto é seguro consumir das bebidas com fibras?

Segundo Marques, não existe uma média recomendada para o consumo desse tipo de bebida. "Toda ingestão de um alimento, incluindo os ultraprocessados, deve partir de uma análise individualizada dentro de uma alimentação balanceada e jamais ser utilizada como única fonte para atingir as necessidades diárias de uma pessoa", alerta.

No entanto, embora sejam muito práticas, essas bebidas devem ser consumidas com moderação, já que o consumo indiscriminado pode trazer consequências negativas para a saúde, especialmente para o intestino.

"Pode-se criar um desequilíbrio na microbiota intestinal, causando inflamação e levando à diminuição da capacidade do intestino em absorver nutrientes e resultar em deficiências nutricionais, por exemplo", explica a especialista.

Além disso, o consumo excessivo desse tipo de bebida também pode fazer com que a quantidade diária recomendada de consumo de fibras seja extrapolada, criando problemas na hora de ir ao banheiro.

"O consumo de fibras alimentares, sobretudo em maior volume, deve ser acompanhado do aumento da ingestão de água para evitar possibilidade de constipação e obstrução intestinal", alerta Fujiwara.

Por fim, criar o hábito de consumir esse tipo de bebida também não é saudável, já que pode passar a falsa impressão de que ele substitui o consumo de frutas, verduras e água —o que não é verdade.

"Além disso, por ser mais palatável, corre-se o risco de deseducar o paladar de alguém que já estava habituado a comer frutas e legumes crus, que necessitam de mastigação, por exemplo, substituindo por algo mais fácil de ingerir", afirma.

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