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Corrimento, muco e sangramento: quando alteração vaginal é sinal de alerta?

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Imagem: iStock

Patricia Bellas

Colaboração para VivaBem

11/08/2022 04h00

Para muitas mulheres, vagina seca é sinônimo de saúde ginecológica, mas não é bem assim. O muco cervical (fluido secretado pelas glândulas no colo do útero) é importante para a fertilização, o corrimento para indicar como está a flora vaginal, e o sangramento, o ciclo menstrual.

Encontrar algum resíduo na calcinha é normal, mas a intensidade, consistência, cheiro e cor são determinantes para suspeitar quando a alteração é sinal de preocupação.

A flora vaginal, também chamada de microbiota vaginal, é um conjunto de microrganismos, como bactérias e fungos, que vivem em harmonia na região da vagina, formando um ecossistema capaz de proteger a região íntima contra patógenos nocivos à saúde.

As alterações nas características da secreção vaginal são os principais indícios de desequilíbrio, geralmente desencadeado por má alimentação, estresse, doenças e uso prolongado de determinados medicamentos, que são fatores de risco para o aparecimento de infecções.

"Diabetes mal controlada, uso de antibióticos, principalmente acima de 7 dias, e ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) podem levar a um desequilíbrio da flora e causar corrimento, umas das principais alterações ginecológicas, além do sangramento uterino anormal. Piscinas com mau controle de algas e fungos, assim como água do mar poluída, também são causas de infecção vaginal", explica Venina Barros, pesquisadora e ginecologista obstetra nos hospitais Albert Einstein, Sírio-Libanês e Samaritano, todos em São Paulo.

Muco cervical

Calcinha/ Doenças na vagina/ Corrimento/ - iStock - iStock
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O muco cervical é uma secreção natural transparente, ou levemente turva, sem odor, produzida por uma glândula no colo do útero, também chamado de cérvix, com a função imunológica de lubrificar a vagina, facilitar a entrada dos espermatozoides e proteger o útero da contaminação de microrganismos que possam gerar complicações na gestação.

A sua presença está relacionada com a fase do ciclo menstrual, que começa no primeiro dia da menstruação e tem duração média de três a oito dias, quando a produção do muco é baixa e quase imperceptível até a chegada do período fértil.

Nessa fase, os níveis de estrogênio aumentam a sua concentração fazendo com que apresente uma consistência espessa, pegajosa e esbranquiçada até o período da ovulação, quando passa a ser cristalina, fina e elástica, semelhante à clara do ovo, para auxiliar o caminho dos espermatozoides à tuba uterina. Após a fase ovulatória, a quantidade de estrogênio cai e o muco se torna viscoso e pegajoso.

Corrimento

mulher vagina vulva sexo cama ginecologista - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

O corrimento é uma secreção anormal, geralmente persistente e volumosa, podendo ter cor, odor, consistência e sintomas relacionados a diferentes tipos de causas como infecções por bactérias, protozoários e fungos.

Quando se apresenta amarelado, com pouco volume, consistência fluida e sem odor, pode indicar apenas um período fisiológico úmido, mas, em maior quantidade, com consistência purulenta e cheiro característico sugere infecção por bactérias, como a Neisseria gonorrhoeae, que causa a gonorreia ou Chlamydia trachomatis, que causa a clamídia, ambas ISTs.

O corrimento esbranquiçado pode determinar um período específico da ovulação ou o desequilíbrio da flora com a proliferação do fungo Candida albicans que, em grande quantidade, enfraquece o sistema imunológico provocando a candidíase, ou da bactéria Gardnerella Vaginalis, que causa a vaginose bacteriana com secreção branca acinzentada em maior quantidade, consistência espumosa e cheiro semelhante a "peixe podre".

Embora representem um desequilíbrio fisiológico, fungos e bactérias também podem ser transmitidos sexualmente.

O corrimento amarelo-esverdeado ou verde geralmente indica a presença de protozoários, como a Trichomonas vaginalis, que causa a tricomoníase, também uma IST e as variações de vermelho, rosa e marrom, a presença de sangue que pode indicar gravidez, alteração hormonal, adaptação à pílula anticoncepcional e sua interação com outros medicamentos ou, em casos específicos, a presença de um tumor.

Sangramento uterino anormal

Durante o ciclo menstrual é normal ter um escape sanguíneo, quando é possível observar uma pequena quantidade de sangue na calcinha durante dois ou três dias. Quando o sangramento ocorre por mais tempo ou na pós-menopausa, é necessário investigar, porque pode estar associado a outras doenças ginecológicas como uma IST, DIP (doença inflamatória pélvica), SOP (síndrome do ovário policístico) e câncer (colo uterino e corpo do útero). Alterações ginecológicas na infância devem ser observadas, porque podem ser indícios de abuso sexual.

O SUA (sangramento uterino anormal) na gravidez pode levar a um quadro de gestação de alto risco quando ocorre por uma doença ou alteração na posição da placenta, como no caso do deslocamento e consequente risco de aborto ou parto prematuro.

Dor pélvica

A dor pélvica é um desconforto que ocorre na parte inferior do abdome chamada de pelve, onde se localizam órgãos próximos como intestino, bexiga, útero e os ovários. Sentir dor local pode significar apenas algo momentâneo como constipação e bexiga cheia por muito tempo, mas quando o incômodo é persistente, acompanhado de sangramento, afeta as atividades diárias e a vida sexual, deve ser avaliado por um ginecologista.

Essa dor pode indicar endometriose e adenomiose, condições em que o tecido endometrial se comporta de forma anormal e migra para outras regiões causando sintomas como fortes cólicas, hemorragia, sangramento urinário e intestinal durante a menstruação, dor no ato sexual e, em alguns casos, infertilidade.

O endométrio é uma mucosa que reveste a parede do útero, fixa o óvulo fecundado e garante a nutrição fetal. Quando não existe fecundação, parte do tecido é eliminado durante a menstruação e o restante se regenera a cada ciclo. Na endometriose, ocorre uma inflamação provocada pelas células do endométrio fazendo com que, o que seria expelido, migre para outros órgãos como a tuba uterina, ovários e cavidade abdominal.

Na adenomiose, o tecido cresce no miométrio, musculatura do útero. O tratamento pode ser feito com terapia medicamentosa, hormonal e intervenção cirúrgica mas, em situações de gravidade, pode ser necessária a retirada do útero através da histerectomia.

Cuidados essenciais

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Imagem: Getty Images

A melhor forma de se prevenir contra uma IST é fazer o uso de preservativo, masculino ou feminino, durante o ato sexual, inclusive por via oral. Entretanto, para manter o equilíbrio da flora vaginal e proteger a região de processos inflamatórios, alguns cuidados com a higiene íntima são essenciais:

  • Manter uma dieta equilibrada já que o excesso de açúcar pode alterar o pH vaginal deixando a região mais ácida, contribuindo para o aparecimento de infecção por fungos.
  • Evitar roupas justas, de material sintético e calcinhas fio dental porque favorecem a proliferação de microrganismos nocivos.
  • Exercitar-se regularmente porque fortalecer a musculatura do períneo evita que flatos vaginais ocorram.
  • Evitar duchas vaginais porque desequilibram a flora, com consequentes infecções e corrimentos.
  • Usar sabonetes íntimos com moderação porque em excesso podem irritar e ressecar a região.
  • Não utilizar perfumes porque a região íntima é sensível a alergias.
  • Ter cuidado com a depilação porque a cera reutilizada pode conter microrganismo que contamina a vulva e a vagina.
  • Preferir preservativos sem sabor, já que podem levar a quadros alérgicos no local.
  • Brinquedos sexuais devem ser higienizados após o uso em cada local.
  • Escolher o lubrificante com a ajuda do ginecologista, porque o ressecamento vaginal pode ocorrer por diferentes fatores, como a falta de estimulação sexual, baixa hormonal ou a presença de infecções vaginais, com diferentes produtos indicados para cada situação.

Fontes: Venina Barros, médica ginecologista obstetra, especialista em gravidez de risco e pesquisadora no Hospital das Clínicas de São Paulo; Débora Beltrammi, médica ginecologista no Hospital Nossa Senhora das Neves, na Paraíba, coordenadora na Regulação Estadual da Rede Materno-Infantil da Secretaria de Saúde do Governo da Paraíba e docente na USCS, em São Paulo; e Larissa Cassiano, médica ginecologista obstetra, especialista em gestação de alto risco e colunista de VivaBem.