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Nutricionista adota método BLW em seu bebê: 'Come de tudo e pede sobremesa'

A nutricionista Caroline Maria dos Santos criou a página @nenemdanutri para compartilhar a introdução alimentar de Matteo - Arquivo pessoal
A nutricionista Caroline Maria dos Santos criou a página @nenemdanutri para compartilhar a introdução alimentar de Matteo Imagem: Arquivo pessoal

Letícia Naísa

De VivaBem, em São Paulo

05/05/2022 04h00

Ao entrar na casa da nutricionista Caroline Maria dos Santos, 25, já dava para sentir o cheiro de comida recém-preparada. Em cima do fogão, uma panela de arroz, feijão, abóbora cozida e uma frigideira com hamburguinhos de frango, tudo fresquinho. Na mesa, salada de tomate e alface. A comida tipicamente brasileira seria servida tanto para os adultos quanto para Matteo, um bebê de 11 meses.

Sentado em sua cadeirinha de alimentação, Matteo esticava as mãos até o pratinho de bambu para pegar sozinho um pedaço do hambúrguer ou da abóbora, que se desfazia entre seus dedinhos. As mãos melecadas de comida eram levadas à boca calmamente enquanto ele sorria. Na hora da sobremesa —mexerica—, Matteo ficou agitado. "Ele adora", conta Carol.

Todas as refeições na casa da nutricionista são assim, com o bebê sentado na ponta da mesa, o pai de um lado e a mãe de outro. "A criança come por imitação", explica a nutricionista enquanto, entre garfadas de seu próprio prato, mostra para Matteo como mastigar os alimentos.

Ao contrário do que acontece em muitos lares com bebês, a hora da refeição é uma das mais tranquilas do dia da família. Matteo não chora, não joga a comida longe e não faz birra para comer. Mas o clima de paz não é exatamente milagre, é método.

Nada de papinha

Jovem e recém-formada, Carol decidiu aplicar o método BLW (Baby Led Weaning), um dos mais recentes estudados no campo da nutrição e da pediatria infantil. A sigla em inglês significa "desmame guiado pelo bebê" e foi sugerido pela pesquisadora britânica Gill Rapley, especialista em alimentação infantil.

Neste método, os adultos oferecem os alimentos em pedaços aos bebês. A hora da refeição dispensa talheres e o preparo da comida de forma amassada, triturada ou desfiada. A criança fica livre para pegar o que quiser e comer sozinha.

Para aplicar o BLW, é preciso observar alguns sinais de que o bebê acima de seis meses está preparado para a introdução alimentar, como:

  • Sentar sem apoio
  • Ter controle da cabeça e do tronco
  • Ter autonomia para pegar objetos e levá-los à boca
  • Apresentar movimentos voluntários da língua (não empurra as coisas da boca)
  • Demonstrar interesse pelos alimentos

A introdução alimentar de Matteo começou aos seis meses de vida, como recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Ao identificar os sinais, Carol resolveu oferecer de tudo ao filho da mesma forma como ela e o marido comem.

A nutricionista Caroline com Matteo, seu filho, e Caio, seu marido - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A nutricionista Caroline com Matteo, seu filho, e Caio, seu marido
Imagem: Arquivo pessoal

Para facilitar a vida, ela cozinha tudo sem sal — que não é recomendado até um ano de idade —, que pode ser acrescentado à comida depois, e ela não faz nada separado para o Matteo, exceto o arroz. "Não tem como colocar sal depois no arroz, fica horrível, não dá", comenta. "Sempre procuro praticidade, mas não funciona com o arroz", diz. Na hora de comer, na mesa, o saleiro é indispensável para os adultos.

"Antigamente, se achava que a introdução alimentar era o período de fazer o bebê comer, só que é um momento de deixar o bebê conhecer os alimentos, isso é importante também", explica a nutricionista. Por isso, a papinha é dispensada no método BLW. Uma mistura de alimentos na mesma textura, diz Carol, impede que a criança aprenda a diferenciar sabores.

Enquanto conversamos na mesa, um pedaço de abóbora cozida se desfazia entre os dedinhos de Matteo, que levava a mão melecada de comida à boca com gosto. "Amassar, sentir a textura do alimento, isso tudo é introdução alimentar também, não necessariamente só comer", afirma.

Por isso, na hora da refeição, não existe estresse para forçar Matteo a comer tudo o que é colocado no prato. "A criança sabe quando está satisfeita, não é bom forçar, porque acaba deixando ela sem saber a hora de parar de comer", diz Carol. "E aí elas viram adultos que não sabem parar de comer", reflete. Sem pressão, Matteo comeu tudo o que estava no prato e ainda pediu a sobremesa.

Apesar das críticas, a família da nutricionista respeita o método que Carol escolheu para a introdução alimentar do Matteo. "Pensei que fosse ser pior", confessa. Em reuniões familiares, quando falam que o bebê vai ficar "com vontade" de comer um doce ou algum alimento ultraprocessado, Carol explica que "criança não tem vontade de coisas que nunca comeu".

"Eles não sabem o que é um alimento, para eles é tudo novidade e eles têm curiosidade", diz Carol. "É como um brinquedo novo", compara.

A alimentação, no entanto, tem seu aspecto social. Para não excluir o filho de momentos importantes de socialização com a família, Carol leva opções saudáveis para que ele possa participar de todas as refeições, mesmo aquelas com alimentos que ele ainda não pode comer. Para uma festa de aniversário, ela fez um docinho de tâmaras com cacau com textura similar à de um brigadeiro.

"Tem gente que fala 'eu dei e meu filho não morreu', mas as consequências são de longo prazo", explica. "As pessoas acham que se der alguma coisa que não pode, o problema vai aparecer em seguida, mas vai aparecendo ao longo da vida, como obesidade, distúrbios alimentares. Tem muita crença em torno da introdução alimentar e orientação desatualizada de profissionais que não são nutricionistas."

Mamãe influenciadora

Afastada de sua profissão desde a gravidez, Carol encontrou nesta fase de vida do filho uma oportunidade de voltar ao mercado de trabalho. No Instagram e no TikTok, criou um perfil para registrar as refeições do Matteo e tirar dúvidas sobre introdução alimentar. Assim nasceu a @nenemdanutri nas redes sociais.

Antes de ser mãe, Carol atendia em consultório e seu foco era na área de nutrição esportiva. Hoje, ela não tem planos de voltar a essa rotina.

"Fiz para me sentir mais na profissão e também para registrar esse momento", conta Carol. "Só que isso começou a tomar proporções que eu não imaginava", diz a nutricionista, que já tem 58 mil seguidores no Instagram e 332 mil no TikTok. A maioria que segue Carol é mãe —uma pequena parcela é de pais ou cuidadores de crianças pequenas—, mas independentemente de ter filhos, é quase impossível resistir a um vídeo do Matteo comendo.

Foi um desses vídeos fofos que viralizou e fez Carol ficar famosa —ela já foi até reconhecida na rua com o seu neném. No vídeo em questão, Matteo cuspia um pedacinho de frango e a mãe foi muito criticada nos comentários por deixar o bebê comer em pedaços. Carol decidiu, então, fazer do limão uma limonada. Ela aproveitou seus 15 minutos de fama para falar mais sobre o BLW.

"Às vezes eu fico preocupada com a exposição do Matteo na internet", confessa. "Mas acho que conseguir levar informação e ajudar várias mães é superior a essa preocupação."