Maçã, pera, triângulo invertido: há relação entre formato do corpo e saúde?
Conhece aqueles diferentes tipos de corpo humano, apresentados em revistas e sites de moda, com nomes de frutas (pera, maçã), figuras geométricas (retângulo, triângulo invertido)? Eles servem para você aprender sobre como tirar proveito de formatos e tamanhos para se vestir. Mas, tem mais. Nesta reportagem, VivaBem, com ajuda de especialistas, vai explicar o que há por trás de cada um e como influenciam em nossa saúde, revelando ainda problemas.
Os médicos costumam classificar esses modelos por características genéticas (altura, estrutura óssea, facilidade de ganhar ou perder peso), e físicas modificáveis, com base em composição, aparência muscular, tecido adiposo, chegando em três categorias: "Ectomorfo, mesomorfo e endomorfo, sendo que cada um possui necessidades específicas", informa Roberto Ranzini, ortopedista e médico do esporte nos hospitais Albert Einstein e Oswaldo Cruz, em São Paulo.
O ectomorfo está relacionado a um corpo magro e retangular, com baixo volume muscular e de gordura. Já mesomorfo tem a ver com um corpo atlético, triângulo invertido nos homens e triangular, ou ampulheta, nas mulheres.
Por último, endomorfo corresponde a um formato oval, que ganha peso fácil. Mas, é possível que algumas características de um ou outro sejam compartilhadas entre si, embora haja uma predominância de um tipo em relação ao outro.
O que há por trás de cada tipo?
Em se tratando do ectmomorfo, que corresponde a pessoas altas, esguias, com membros alongados, peitoral plano, quadris estreitos, dificuldade para ganhar peso, por trás geralmente há um metabolismo muito acelerado.
"Com bom equilíbrio das forças musculares terão boa sustentação do tronco, mas, do contrário, podem ter problemas posturais", informa Guillermo Tierno, coordenador do serviço de ortopedia do Hospital Cárdio Pulmonar, em Salvador (BA).
Já os mesomorfos, magros, mas robustos, com corpo bem desenvolvido, sem necessariamente um engajamento na academia, equilibram metabolismo rápido, com facilidade em adquirir massa muscular.
Quando se é uma mulher mesomorfa um pouco acima do peso, com corpo pera, ou seja, com quadris e coxas largas, mas não definidas, a gordura adquirida é a do tipo ginoide, menos prejudicial do que a visceral, relacionada ao diabetes e doenças cardiovasculares.
O último grupo, endomorfo, diz respeito àqueles cujo metabolismo é lento e a estrutura óssea é grande, podendo ainda a estatura ser baixa. O formato do corpo, similar ao de uma maçã, costuma ser perceptível em todos os membros da família e o acúmulo de gordura, do tipo androide, é centrado no abdome, ou misto: abdominal e periférico. Diferente da gordura ginoide, essa é visceral —mais danosa—, sendo também prevalente no gênero masculino.
Problemas que podem apontar
No que compete a problemas de saúde no tipo de corpo ectomorfo (retangular), podem estar relacionados à magreza constitucional, a exemplo dos posturais, como curvatura envergada para a frente (cifose), ou a emagrecimento patológico, como por anorexia nervosa, anemia, depressão, distúrbio hormonal (hipertireoidismo), diabetes, excesso de cortisol e cortisona por mau funcionamento das glândulas adrenais, acima dos rins, ou ainda infecções e câncer.
Maria Fernanda Barca, doutora em endocrinologia pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), aponta que, mesmo ectomorfo, também pode se adquirir gordura visceral e desenvolver barriguinha.
"Essa pessoa é a 'falsa magra', que por ação de síndrome metabólica pode ter resistência à insulina, alterações de colesterol, retenção de sódio, de água, depósito de gordura nas artérias, aumento de pressão, vindo a sofrer infarto e AVC", explica Barca.
Ela continua que essa gordura concentrada também pode ter relação com estresse, síndrome de Cushing (em ambos os casos, de novo, por excesso de cortisol) e menopausa, que leva a um declínio hormonal, principalmente de estrogênio.
Mesomorfos, assim como endomorfos, também estão sujeitos aos efeitos desses problemas e sem nenhum controle de alimentação, atividades físicas, quem tem principalmente corpo tipo pera ou oval pode ganhar peso extra.
Excesso de gordura abdominal somado a uma deficiência muscular ainda cursa com desvios posturais, sobrecarga, estresse mecânico, processos inflamatórios e desgaste articular.
"Os mais altos e com maior peso têm uma tendência elevada a desenvolverem problemas de coluna, principalmente na lombar. Nos endomorfos, há aumento no risco de lesões por sobrecarga nos membros inferiores, como quadris e joelhos", informa o ortopedista Ranzini.
Dá para modificar os formatos?
Nenhuma dieta ou treinamento físico é capaz de mudar determinações genéticas. Porém, qualquer um pode emagrecer e ganhar massa muscular, dentro dos seus próprios limites, que são variáveis de pessoa para pessoa, e com ajustes apropriados.
Mas não se consegue isso sozinho, sem consultar profissionais. Estando acima do peso, ou muito abaixo dele, e com dificuldades para alcançar os objetivos pretendidos e sintomas, é preciso investigar os motivos.
Ectomorfos, por terem um consumo de energia mais intenso, exigirão uma quantidade de calorias maior para ganhar peso, sem se preocupar em ganhar gordura, que será queimada em exercícios com foco em grandes grupos musculares.
"Quando se tem hábito de vida saudável, não se acumula gordura abdominal, o que vai fazer com que o corpo adquira um formato de triângulo invertido, mesomorfo, em que os ombros são mais largos que a cintura", diz Tierno.
Mas mesomorfos constitucionais, para não engordarem, precisam se manter ativos e controlar a ingestão de calorias. Mas não com tanta intensidade como os endomorfos, que, em alguns casos, quando já tentaram, sem sucesso, inúmeros programas alimentares e de exercícios, acabam precisando recorrer a cirurgias de bypass gástrico ou bariátrica.
"Devem buscar um equilíbrio em tudo, pois gordura visceral é inflamada e leva a diversas doenças", conclui Barca.
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